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Fact Check Madeira

São só os turistas que se perdem nas serras da Madeira?

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As notícias a dar conta do desaparecimento do turista polaco nas serras da Madeira têm suscitado diversos comentários nas redes sociais. Enquanto muitas pessoas lamentam o sucedido e mostram solidariedade para com a família e amigos que também já estão empenhados nas buscas, outras criticam o facto de Igor Holewiński ter realizado uma caminhada sozinho.

“Deus queira que apareça com vida, mas as pessoas não devem aventurar-se e ir sós nas caminhadas. Se caiu vai ser difícil encontrá-lo, mesmo com drones”, pode ler-se num comentário nas redes sociais.

No entanto, há ainda quem garanta que “isto só acontece aos turistas”, que “teimam em explorar a ilha sem a conhecer”.

Outro dos comentários dá conta que “isto pode acontecer até a um madeirense que percorra as montanhas”.

Mas será que nunca houve um madeirense a se perder nas serras da Madeira?

Em Janeiro de 2023, por exemplo, um casal de madeirenses com idade compreendida entre os 20 e os 30 anos, perdeu-se enquanto realizava uma caminhada entre o Curral das Freiras e o Jardim da Serra.

O alerta foi dado pelas 19 horas, dando conta de que os dois caminhantes estavam perdidos na zona do Pico Grande. Supostamente devido ao nevoeiro e à chuva que se fazia sentir o casal saiu do trilho e acabou retido numa zona inacessível, acabando por pedir socorro.

Para o local foi mobilizada a equipa de resgate em montanha dos Bombeiros Voluntários de Câmara de Lobos, que após cinco horas conseguiu resgatá-los. Os madeirenses encontravam-se bem de saúde.

Também em 2013 houve um resgate “de alto risco” na noite de Natal. A vítima era um madeirense que se perdeu e ficou encurralado na vereda entre o Curral das Freiras e a Boca dos Namorados.

O indivíduo, de 33 anos, residente no concelho da Ribeira Brava, iniciou a caminhada na véspera de Natal, mas devido ao nevoeiro perdeu-se, ficando junto a um precipício com mais de 200 metros de altura. Valeu-lhe o telemóvel. Ligou para o irmão a dar conta da situação e este deu o alerta aos bombeiros.

Os Bombeiros Voluntários de Câmara de Lobos e os Bombeiros Voluntários Madeirenses iniciaram as buscas por entre a escuridão e com o vento forte a dificultar, na tentativa de localizar a vítima, que gritava por socorro. A operação demorou várias horas, desencadeando depois uma arriscada missão de resgate, que envolveu descida em rapel até ao local onde se encontrava.

Aliás, esta foi uma história que deixou marcas, não só na vítima, mas em todos os bombeiros que participaram nesta operação na Noite de Natal, onde muitos abandonaram as famílias em prol deste socorro.

Entre eles esteve António Francisco, chefe da equipa de resgate em montanha dos Bombeiros Voluntários Madeirenses, e os dois filhos, também bombeiros, num “dos resgates mais difíceis” da sua vida.

Apesar de não estarem perdidos, em 2003 dois homens residentes na freguesia de Santo António foram dados como desaparecidos (durante cerca de 35 horas) nos desfiladeiros do Seixal, num percurso considerado de elevada dificuldade, compreendido entre o Chão da Ribeira e o Véu da Noiva.

Para o local foram mobilizados vários meios, mas os dois homens encontravam-se bem de saúde. No entanto, admitiram que “apesar da experiência em percursos de elevada dificuldade, “a distância do trajecto e as cascatas impuseram-se” e obrigaram os madeirenses a pernoitar entre os desfiladeiros.

São só os turistas que se perdem nas serras da Madeira?