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Fact Check Madeira

Raça canina autóctone da Madeira já foi oficialmente reconhecida?

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Foto Facebook Sara Silva 

O DIÁRIO noticiou ontem que o Porto Santo recebe este sábado, 29 de Novembro, mais uma Mostra Canina dedicada ao Podengo, promovida pela Casa do Povo de Nossa Senhora da Piedade. Nas redes sociais, uma leitora questionou se a raça "já está reconhecida oficialmente pela FCI [Federação Cinológica Internacional]?”.

A questão é pertinente. Nos últimos anos têm-se multiplicado as iniciativas para recuperar, padronizar e promover o cão tradicional do Porto Santo. Mostras caninas, recolhas de ADN e reuniões com criadores têm sido feitas.

Mas, afinal, há ou não reconhecimento oficial? Na rubrica 'Fact Check' de hoje vamos atrás da resposta. 

O processo de valorização da raça começou em 2019, quando a Direcção Regional para a Administração Pública do Porto Santo lançou um projecto de recuperação do Podengo. A veterinária Sara Pinto da Silva, coordenadora do projecto na altura, explicava naquele ano que a iniciativa estava numa fase inicial, centrada no levantamento demográfico, na recolha de dados morfológicos e na identificação de animais que se enquadrassem no tipo racial.

O objectivo final seria a realização de estudos genéticos que confirmassem a viabilidade da raça e a sua distinção de outros podengos, garantindo diversidade genética suficiente, que já nessa altura era o primeiro grande obstáculo, já que o número de exemplares era reduzido.

Historicamente, o Podengo do Porto Santo surgiu nos anos 50, introduzido por um caçador madeirense e adaptado ao clima seco e ao relevo acidentado da ilha. Nos anos 70 houve cruzamentos com o podengo canariano, formando um tipo de cão com características próprias. Ao longo das décadas seguintes, a preservação do tipo foi feita de forma informal por caçadores locais, enquanto a escassez de exemplares se agravou devido à diminuição da caça na ilha. Um dos principais responsáveis pela manutenção da raça foi o antigo delegado do Governo Regional, José Rosado, que manteve exemplares e retomou a reprodução a partir dos cães que possuía, preservando as características tradicionais.

Após a pandemia, em 2022, o projecto foi retomado pela Secretaria Regional da Agricultura e Desenvolvimento Rural com maior enfoque científico. Foram identificados cerca de 30 exemplares considerados típicos, permitindo iniciar a definição de um standard preliminar. Iniciaram-se também estudos genéticos com o Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária, incluindo genotipagem, validação de árvores genealógicas e análise de diversidade genética. O objectivo era garantir que a população tem linhas de sangue suficientemente distintas, condição essencial para qualquer homologação futura. Paralelamente, foram realizadas análises comparativas com outras raças mediterrânicas e atlânticas, para compreender as origens e afinidades do Podengo do Porto Santo.

Nos últimos anos, a mobilização local manteve-se intensa. Foram realizadas mostras caninas, reuniões com criadores e caçadores, e está em desenvolvimento um projecto de standard que permitirá, no futuro, submeter o pedido de reconhecimento oficial ao Clube Português de Canicultura e à Direcção-Geral de Alimentação e Veterinária.

Apesar destes avanços, o DIÁRIO sabe que até hoje não foi formalizado nenhum pedido oficial, sendo que a raça continua a depender de estudos científicos ainda em curso.

Em resposta a questões colocadas pelo DIÁRIO, o director Regional de Veterinária e Bem-Estar Animal, Daniel Mata, explica que o procedimento, iniciado em 2019, está a ser conduzido pelo Gabinete de Apoio à Administração Pública no Porto Santo, através do Centro de Atendimento Veterinário. O responsável indica que o reconhecimento de raça autóctone é realizado pela Direção-Geral de Alimentação e Veterinária, mediante a submissão de um estudo técnico-científico, o qual contempla diversas fases, referindo como exemplo, o estudo histórico da raça, a caracterização morfológica e padrão racial, culminando na caracterização genética por marcadores moleculares.

Segundo Daniel Mata, o projecto encontra-se agora na fase de Caracterização Demográfica, que tem como objectivo determinar o número total de animais, identificar os reprodutores (machos e fêmeas), analisar a estrutura etária, contabilizar os criadores, avaliar a dimensão dos efectivos e a área de dispersão, bem como recolher informação genealógica disponível, identificar fundadores, calcular a consanguinidade e estudar a evolução e a tendência do efectivo.

Em suma, o Podengo do Porto Santo representa um património genético e cultural único da Região Autónoma da Madeira, com potencial para reconhecimento futuro. Contudo, o estatuto oficial de raça autóctone ainda não foi concluído e o trabalho de apuramento científico e administrativo continua em curso. Até que o estudo seja concluído e o pedido formal submetido às entidades competentes, a homologação permanece pendente.

Caso o podengo do Porto Santo venha a ser declarado como raça canina autóctone será o primeiro cão da Região Autónoma da Madeira com essa denominação e o 12.º do País.

PRESSUPOSTO ESTALÃO DO PODENGO DO PORTO SANTO: 

  • Porte médio; 
  • Pêlo curto e liso de cor castanha ou preta, podendo ser bragado com predominância de branco; 
  • Na maioria dos exemplares os membros, as pontas da cauda, o pescoço e o peito são quase sempre de cor branca; 
  • A cabeça tem uma forma de trapézio prolongada por um focinho comprido, quanto baste, sendo de notar uma depressão naso-frontal medianamente acentuada;  
  • As orelhas são erectas de inserção oblíqua ao nível dos olhos, com base larga, de tamanho grande, mais compridas do que largas, triangulares; 
  • A cauda é comprida de inserção média, suavemente encurvada; 
  • Altura ao garrote (com tolerância de 2 cm): 50-60 cm nos machos; 46-56 cm nas fêmeas; 
  • Utilização: Cão de caça, de guarda e de companhia.
Leitora do DIÁRIO questiona se o Podengo do Porto Santo já foi oficialmente reconhecido. A resposta é negativa. Até à data, o Podengo do Porto Santo ainda não foi reconhecido oficialmente, nem pelo Clube Português de Canicultura, nem pela Direcção-Geral de Alimentação e Veterinária, muito menos pela Federação Cinológica Internacional.