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Conjunto de 56 ícones doados pelo bispo Teodoro já pode ser apreciado no Museu de Arte Sacra

Fotos Miguel Espada/Aspress Ver Galeria
Fotos Miguel Espada/Aspress

Com os seus 93 anos, foi com ritmo físico e frescura mental invejáveis que, esta manhã, o bispo emérito do Funchal Teodoro de Faria guiou as cerca de três dezenas de convidados até ao último piso do Museu de Arte Sacra, onde passa a estar aberto ao público um núcleo expositivo com 56 de um conjunto de 101 ícones religiosos que coleccionou ao longo da sua vida e que doou à instituição que os passa a exibir. São imagens religiosas originárias de países ortodoxos orientais, com as quais o antigo chefe da igreja madeirense se encantou e passou a coleccionar, particularmente a partir da fase dos seus estudos em Roma, na primeira metade do século XX.

No acto de abertura da exposição, Teodoro de Faria fez um longo enquadramento histórico, artístico e religioso sobre as origens e a evolução da iconografia, desde a fundação de Constantinopla no ano de 330 até aos nossos dias. Já o actual bispo do Funchal, Nuno Brás, destacou algumas particularidades dos ícones. Desde logo, não se trata de “pintura fácil”: “Nós estamos muito habituados à pintura de autor. Um quadro de Van Gogh é logo considerado muito bom. Basta ter a assinatura. Os ícones não têm autor e a assinatura do artista, porque não são expressão de um sentimento individual e subjectivo. Os ícones são teologia e o ícone é tão mais belo quanto mais expressa a verdade da fé. É uma forma de mostrar a doutrina, de mostrar Deus feito homem”. Segundo o bispo, outra característica desta forma de arte “é a inversão da perspectiva”. “ Nós estamos muito habituados a sermos nós a contemplar a obra de arte. Os ícones são o contrário (...). Representam o mistério de Cristo que nos olha e que nos convida a estarmos com Ele", explicou.

O presidente da Assembleia Legislativa da Madeira, José Manuel Rodrigues, agradeceu a Teodoro de Faria o "acto generoso e de desprendimento" de doação da sua colecção mas também por "tudo aquilo que fez à frente da nossa Diocese". Destacou ainda o facto das obras do Museu de Arte Sacra representarem seis séculos de História da Madeira e fez um apelo para que os madeirenses visitem e apoiem mais esta instituição. "Este Museu é um ex-libris da Região Autónoma da Madeira, conta a nossa História, faz parte da nossa identidade cultural. Os madeirenses podem usufruir da beleza, do mistério e da religiosidade das obras que aqui estão presentes e com isso enriquecem culturalmente", adiantou.

A directora do Museu de Arte Sacra, Graça Alves, enalteceu o trabalho dos vários profissionais que preparam o espaço e o espólio para a exposição, bem como o apoio da Diocese do Funchal e do Grupo Pestana, que viabilizaram a criação deste novo núcleo. Manifestou também gratidão a D. Teodoro: "Nós sabemos bem a falta que estes cem ícones lhe fazem. Acompanhámos a despedida que lhe entristeceu a casa. Mas também a alegria que, ao doar esta colecção à Diocese, dá para ver o que é cada vez mais difícil, o ser humano já transfigurado no sagrado".

Na apresentação deste núcleo museológico estiveram presentes três bispos do Funchal (os eméritos Teodoro Faria e António Carrilho e Nuno Brás), bem como a directora regional da Cultura, Natércia Xavier, além do antigo presidente do Governo, Alberto João Jardim.