Coronavírus Madeira

Madeirense é responsável por projecto sobre resposta de doentes hepáticos às vacinas covid-19

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Foto shutterstock

O madeirense Rui Castro, PhD do Instituto de Investigação do Medicamento (iMed.ULisboa), Faculdade de Farmácia,  da Universidade de Lisboa é o responsável por um estudo que juntou 350 pacientes com doença hepática crónica (DHC) para averiguar qual a resposta que tiveram à vacinação contra a covid-19. De acordo com o mesmo, a cirrose hepática está associada a uma resposta imunitária mais baixa a estas vacinas.

Numa nota de imprensa, o professor de Farmácia explica que "a resposta imunitária às vacinas COVID-19 tem sido descrita como estando diminuída em indivíduos com doença hepática crónica (DHC), particularmente em doentes com cirrose". Contudo este novo estudo, publicado na revista 'JHEP Reports', mostra que esta resposta reduzida é observada até 6 meses após administração de duas doses das vacinas de mRNA contra a COVID-19, mas não se associa a uma eficácia reduzida.

Os doentes que participaram no estudo foram recrutados em centros clínicos da Áustria, Bélgica, Itália, Portugal, Romênia e Espanha. "A cirrose, em paralelo com a idade e o tipo de vacina, mostrou estar associada a respostas IgG mais baixas, enquanto a presença de hepatite viral ou terapia antiviral associou-se a respostas de IgG mais altas. De notar que estas diferenças não se correlacionaram com a eficácia da vacina aos 6 meses", explica.

Rui Castro explica que que o objectivo do consórcio por detrás deste estudo – HEPCOVIVAc -, “foi criar um registo clínico prospectivo de doentes com DHC vacinados contra COVID-19, permitindo estudos abrangentes sobre a segurança e a eficácia da vacinação nesta população”. O consórcio é co-liderado por Helena Cortez-Pinto, MD, PhD, Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte e Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, Portugal. Os estudos foram maioritariamente realizados no iMed.ULisboa por André Simão, PhD, e Carolina Palma, MsC, com co-supervisão de João Gonçalves, PhD.

Os resultados mostraram que, entre os doentes com DHC, a idade, presença cirrose e o tipo de vacina foram identificados como preditores independentes de um menor resposta humoral, enquanto a hepatite viral e terapia antiviral constituiram preditores independentes de maior resposta humoral. “Embora já se saiba que a idade é um fator que afeta a imunidade mediada por vacinas, e a resposta mais baixa em doentes com cirrose possa estar relacionada com a disfunção imunológica associada à cirrose (CAID), a correlação entre a presença hepatite viral com níveis mais altos de anticorpos em resposta à vacinação foi algo que não estávamos à espera e pretendemos explorar” observou o madeirense.

"Ao comparar doentes que desenvolveram COVID-19 entre as duas semanas e os seis meses após a vacinação, a eficácia da vacina pareceu ser ligeiramente menor em doentes com maior peso e altura. De notar que não foi encontrada nenhuma correlação entre o tipo de vacina e as taxas de infecção por SARS-CoV-2; e nenhuma associação entre os níveis de anticorpos às duas semanas e a eficácia da vacina. Aliás, os níveis de anticorpos para as variantes SARS-COV-2 original, Delta e Ómicron foram muito idênticas entre doentes infectados e não infectados. Os resultados também não mostraram associações significativas entre as características clínicas e a taxa de infecção por COVID-19 ou gravidade da infecção", refere.

“Ficámos surpreendidos com estes resultados, uma vez que sugerem que os diferentes níveis de imunidade humoral induzidos pelos diferentes tipos de vacinas, ou associados a etiologias ou gravidade de doença distintas, podem não se traduzir em menor eficácia da imunização (infecção por COVID-19), pelo menos nos primeiros seis meses após a vacinação com duas doses” observou o professor. “Embora se devam realizar estudos adicionais, achamos importante que esta mensagem seja desde já transmitida aos doentes, isto é, que as diferentes vacinas de mRNA contra a COVID-19 são eficazes num grupo diversificado de doentes com DHC. Isso ajudará a aumentar a confiança nos planos de vacinação implementados pelos diferentes governos”, assume.