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APAV diz que "ainda ficaram muitas perguntas por responder" pela Igreja

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A Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) considerou hoje que "ainda ficaram muitas perguntas por responder" por parte da Igreja em relação aos abusos dos menores, defendendo que devem ser tomadas medidas "muito brevemente".

"Ainda ficaram aqui muitas perguntas por responder e o expectável é que seja respondido muito brevemente sob pena de estarmos todos a fazer um percurso com muitos poucos resultados visíveis", disse à agência Lusa Carla Ferreira, assessora técnica da direção da APAV, em reação à Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), que hoje analisou o relatório da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais na Igreja Católica Portuguesa.

Para Carla Ferreira, "não ficou claro" por parte da Igreja se vai haver uma continuidade da comissão independente e como esta "tolerância zero se operacionaliza", uma vez que simultaneamente a CEP diz que só se afastam clérigos denunciados se o relato for credível".

"Para a APAV, a palavra das vítimas costuma ser ela própria auto explicativa", disse, considerando importante um esclarecimento sobre esta questão do afastamento dos padres.

Em conferência de imprensa, o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, José Ornelas, disse que o afastamento de alegados padres abusadores de menores está nas mãos de cada bispo.

José Ornelas remeteu eventuais indemnizações às vítimas de abusos sexuais para os seus autores, indiciando que não haverá lugar a indemnizações por parte da instituição.

A assessora técnica da APAV avançou também que é necessário esclarecer melhor a questão das indemnizações, tendo em conta que a CEP considera que a indemnização é um dever pessoal de cada pessoa que praticou os atos violentos, mas em outros países isto foi feito de uma outra forma, nomeadamente em França onde foi criada uma comissão genérica sob a alçada da Igreja Católica.

"Compreendemos que as decisões não possam ser tomadas todas hoje por questões logísticas, mas as decisões não podem esperar muito mais sob pena de ter várias consequências, nomeadamente aquilo que é o impacto relativamente às vitimas, mas também da credibilidade da própria instituição Igreja Católica", disse.

Carla Ferreira saudou a intenção da Conferencia Episcopal Portuguesa de encetar contactos com as instituições que estão no terreno, manifestando disponibilidade da APAV "enquanto instituição apolítica e não confessional e com serviços especializados nesta matéria".

A mesma responsável considerou ainda que "pedir perdão é importante", como também passar a mensagem de 'tolerância zero', mas deve existir "uma atuação significativa" e "uma ação transversal", uma vez que tem de existir "algo tangível que permita perceber se uma vitima de uma determinada diocese tem acesso aos mesmos tipos de apoio e especialização de serviços que uma outra vítima de outra diocese".

"Não se pode correr o risco de diferentes apoios nas dioceses", disse.

A Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica validou 512 dos 564 testemunhos recebidos, apontando, por extrapolação, para um número mínimo de vítimas da ordem das 4.815.

Vinte e cinco casos foram reportados ao Ministério Público, que deram origem à abertura de 15 inquéritos, dos quais nove foram já arquivados, permanecendo seis em investigação.

Estes testemunhos referem-se a casos ocorridos entre 1950 e 2022, período abrangido pelo trabalho da comissão.