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Pai

O meu pai, apesar de se enquadrar na função, era totalmente alheio ao modelo masculino de educação pelos afetos

Sou de uma geração onde o papel do pai e da mãe era definido segundo critérios e valores que não só distinguiam as funções parentais como também a expressão dos afetos. Esperava-se do pai, um distanciamento e postura que tornasse bem claro o lugar do homem no sistema familiar.

Felizmente este não foi o padrão familiar em que cresci. O meu pai, apesar de se enquadrar na função, era totalmente alheio ao modelo masculino de educação pelos afetos. Foi sempre um pai emocionalmente presente que fazia valer a sua autoridade na relação e partilha de vida.

Sendo que a nossa história determina muito do que nos vamos tornando, sempre vi o pai como alguém imprescindível e fundamental no crescimento afetivo dos filhos.

Hoje ser pai é ser o que o meu pai foi e ainda mais. Quer na função quer na relação. O pai é alguém que pertence, participa, e se encontra ligado por um forte vínculo de amor e de corresponsabilidade na educação global dos filhos. A isto chama-se evolução, contemporaneidade, aprendizagem e direito. Ser amado, acompanhado e educado por duas pessoas que se completam, na trajetória do crescimento, é um privilégio.

Hoje, dia do pai, é um dia importante para reflexão, essencialmente daqueles que, por razões do seu egocentrismo, esquecem o que é verdadeiramente importante. Nos casais, nos momentos de crise, de conflito, de zanga, e de separação, não há nada pior para um filho do que sentir-se obrigado a fazer escolhas, ou ficar privado da ligação fundamental de qualquer um dos seus pais.

Mesmo quando a justiça acaba por “obrigar” a que os pais se entendam e retornem ao que é essencial na vida dos filhos, o tempo de ausência deixa marcas irreparáveis nas relações interrompidas e uma tristeza profunda no coração de todos.

Não vale a pena insistir nos dias especiais, disto ou daquilo, se no essencial não entendermos o valor do que queremos que aconteça com as pessoas de quem gostamos.

Os filhos são demasiado preciosos para serem envolvidos em guerras frias, cujos contornos, emocionalmente violentos, têm como principal objetivo o acerto de contas de adultos que expiraram o seu tempo de relação e não se sentem preparados para prosseguir, sem respingar ódios e vinganças para quem deles depende e tanto precisa.

O dia do pai é para todos. Não há quem não saiba onde fica esse lugar e quando é possível festejá-lo. Privar esse direito deveria ser uma impossibilidade.