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A imaginação é um atributo de todo o ser humano?

É comum afirmar-se que se há algo que (ainda) distingue o ser humano em relação aos intermináveis feitos no domínio da robótica, é a sua capacidade imaginativa, enquanto ser pensante. É neste caminho, que para uns, porventura menos atentos, o futuro apresenta-se radioso e fascinante. Para outros, porventura mais vigilantes, o futuro afigura-se incerto e sombrio, pois a desnaturalização do ser humano está aí, e continuará a ser uma realidade. Relembre-se que o futuro começou no passado e continuará a construir-se no presente, sendo prudente que se avalie atentamente se a configuração que se está a edificar é a melhor. Evidentemente que um futuro, erigido a reboque da robótica, poderá trazer coisas boas, nomeadamente no campo da medicina. O problema pode é estar na dualidade que a inovação sempre traz consigo, ou seja, na possibilidade do todo ou de parte da inovação criada para um fim nobre e altruísta, vir a ser utilizada para uma finalidade nefasta, destruidora e vil. É que de verdadeiramente novo, nada se inventa, partindo toda a inovação, do conhecimento já existente. E a verdade é que a maior motivação associada ao espírito inventivo, está invariavelmente ligada à procura da riqueza material. E também é verdade, que é muitas vezes impossível manter uma invenção no seu todo e/ou nas suas partes, numa rota fértil e benéfica, numa sociedade anestesiada pelo capitalismo de rédea solta, a que alguns, eufemisticamente, denominam de economia social de mercado. Sendo certo que a imaginação está livre do jugo da censura, e representa a liberdade na sua forma mais etérea, não é menos verdadeiro que para que a sua materialização se realize, é necessária a aprovação social, e, particularmente, a política, condições sem as quais, será eternamente embrionária. E é aí, num contexto em que o mundo está globalizado e padronizado, que a imaginação poderá tender a sentir-se “desincentivada” a galopar, levando o ser pensante a deixar de fazê-lo. Esta é uma das razões porque a existência de políticos governantes com imaginação própria é determinante, pois ao exibi-la e ao materializá-la, incentivam o seu exercício. Lamentavelmente, assistimos em vários quadrantes políticos a anúncios/ações/realizações que revelam muito pouca imaginação, ou pior, estão em contraciclo, por exemplo, com a necessária descarbonização do planeta, ao não criarem condições que desincentivem os cidadãos a utilizar o automóvel, como já é constatável em muitas cidades/regiões por esse mundo fora. Tal constatação, leva-nos forçosamente a concluir que afinal, contrariamente ao chavão genérico amplamente difundido e até aceite, de que a imaginação do ser humano não tem limites, nalguns casos tem imensas limitações, noutros, chega-se a duvidar das intenções, e noutros ainda, é notório que nunca com ela conviveram.