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Mundo de Contrastes

Vivemos num mundo onde os extremos proliferam. No Irão, a jovem Mahsa Amini, de 22 anos, morreu, a 16 de setembro, às mãos da “polícia da moralidade”, por alegadamente não usar o “hijab” ou lenço de cabeça, corretamente. Desde então, as manifestações de protesto espalharam-se por todo o país, e as mulheres, acompanhadas por um número significativo de homens, tomaram as ruas para protestarem contra décadas de opressão e falta de direitos, marcando a sua posição contra a repressão e brutalidade direcionada às mulheres e aos homens que “fogem da norma”. Já morreram cerca de 50 pessoas (entre as quais 4 crianças), e mais de 1.200 foram detidas. Mas as mulheres continuam a retirar e a queimar os “hijab” e algumas a cortar o cabelo, em cada vez mais cidades iranianas e já em alguns outros países árabes, como o Afeganistão, onde o poder pelo regime talibã levou a um enorme retrocesso nos direitos das mulheres. A luta destas pessoas não é sobre o “hijab”, ou a proibição de usar calças justas, saias curtas ou mostrar os cabelos em público. É pela liberdade, igualdade e contra a violência.

Já no velho continente, em Itália, assistimos à vitória, com maioria absoluta, de uma coligação liderada por Giorgia Meloni, a líder do partido de extrema-direita “Irmãos de Itália”, que desde cedo mostrou admiração por Mussolini, o ditador. O seu discurso populista foi bem claro, defendendo posições nacionalistas, islamofóbicas, contra a IVG, os imigrantes, a comunidade LGBTIQ+ e o casamento e adoção por parte de casais do mesmo sexo.

Algo está a falhar. Falta equilíbrio na civilização humana, que após uma pandemia mantém o mesmo registo. Em todo o lado, os opostos agudizam-se, nesta luta do “velho contra o novo”, onde o “bem e o mal” são diluídos em tons de cinza. Num país, a luta faz-se nas ruas por direitos humanos. No outro, bem mais próximo de nós, ecoam retrocessos em direitos fundamentais, com grande parte do povo a concordar. Estes são apenas dois exemplos, entre tantos outros.

A liberdade com responsabilidade assusta, os tais direitos com deveres. Uma e outra estão intimamente interligadas. Se a minha liberdade termina onde a do outro começa, não posso querer retirar direitos ao outro, achando que com isso vou “ganhar”. O universo retribuirá de forma idêntica. Quando escuto comentários xenófobos contra os/as refugiados/as, ou homofóbicos, ou machistas, eu coloco sempre uma questão: e se fosse consigo? E se estivesse no lugar da pessoa discriminada, violentada e/ou que tem que deixar tudo para trás para fugir duma catástrofe social ou ambiental?

Os direitos humanos são para todas as pessoas, e não os podemos dar nunca como garantidos. Há que se manter vigilantes. Como defensora dos direitos humanos, sou uma aliada da causa LGBTIQ+ e irei, como sempre, participar na marcha do Madeira Pride, no próximo dia 8 de outubro pelas 16 horas no Funchal. Juntem-se a nós!