Crónicas

Torre de Babel, a independência e o PZP

1. Podendo isso espantar alguns, sou crente. Não me considero católico, porque não sou ritualista, mas sou certamente cristão. Um cristão à minha maneira, um seguidor da palavra de quem veio à terra, como viemos todos, e que teve a honra da iluminação divina que lhe permitiu espalhar a palavra de Deus. Sei que o divino está em cada um de nós. Bem como o maléfico. O que somos, resulta do modo como deixamos o bem e o mal que transportamos, influir no que fazemos, no que dizemos, como nos relacionamos.

Não me vou alongar. Esta introdução serve para situar o que se segue, um dos episódios da Bíblia, o da Torre de Babel, que transcrevo:

“Naquele tempo, toda a humanidade falava uma só língua. Deslocando-se e espalhando-se em direcção ao oriente, os homens descobriram uma planície na terra de Sinar e depressa a povoaram. Acordaram em construir uma grande cidade, para o que fizeram tijolos de terra bem cozida, para servir de pedra de construção e usaram alcatrão em vez de argamassa. Depois disseram: ‘Construiremos uma cidade com uma torre altíssima, que chegue até aos céus; dessa forma, o nosso nome será honrado por todos e jamais seremos dispersos pela face da Terra’.

O Senhor desceu para ver a cidade e a torre que levantavam. ‘Se isto é o que eles conseguem fazer; sendo um só povo, com uma só língua, não haverá limites para tudo o que ousarem. Vamos descer e fazer com que a língua deles comece a diferenciar-se, de forma que uns não entendam os outros’.

E foi dessa forma que o Senhor os espalhou sobre toda a Terra, tendo cessado a construção daquela cidade. O lugar tomou o nome de Babel, porque foi ali que o Senhor confundiu a língua dos homens.”

Como no Jardim do Éden, a história da Torre de Babel também tem a ver com o homem a tentar superar-se na procura de chegar à sua divinização. Adão e Eva desobedeceram à ordem de Deus de não comer o fruto da árvore do conhecimento (do bem e do mal). Presumiram tornar-se divinos, com a obtenção de tão preciosa sabedoria. Os descendentes de Noé constroem a torre em Babel, porque querem criar algo duradouro que imortalizará o seu “nome” ou reputação, e não o de Deus. Foi a arrogância que os traiu.

As metáforas, nos textos bíblicos, são muitas e variadas. A Torre de Babel fez com que os homens deixassem de falar a mesma língua. Mas foi muito mais do que isso: deixaram de se entender. De compreender, não só o que o outro diz, mas também as suas aspirações e necessidades. E seguiram caminhos diferentes.

Os tempos que vivemos são de construção de outra “torre”. Um enorme edifício de desentendimento, de incapacidade de relacionamento, de aceitar a opinião diferente com naturalidade, por mais idiota que nos pareça. As diferenças devem ser discutidas e faladas, tendo com objectivo o acordo, não o desentendimento. Estivemos perto de o conseguir, apesar de tudo. A globalização, trouxe-nos uma universalidade que não tínhamos. Obviamente que também trouxe problemas. Ao invés de os discutirmos, com assertividade, para os ultrapassarmos, erguemos muros que nos impedem de ver os demais, de entender as suas necessidades e ambições.

A evolução humana fez-se, sempre, pela socialização. Nunca pela compartimentação. Não fosse pela capacidade que as células originais tiverem de se entenderem e a vida na Terra não teria sido grande coisa, e não estaríamos agora aqui.

Falamos a mesma língua e, mesmo assim, não nos entendemos. As torres que construímos em nós, tornam-nos assoberbados, convencidos de uma razão que é nossa e sempre melhor do que a dos outros. Quando não somos melhores do que ninguém. Também enfermo dos mesmos males. Reconhecê-lo, faz parte da abertura que leva à cura destes tempos doentes em que vivemos.

Urge renunciar a tribalismos sem sentido, à divisão entre os nossos e os outros, à desconfiança que leva ao medo induzido pela xenofobia, o racismo, as fobias que levamos dos que se diferem de nós, seja por que motivo for.

Os tempos que se avizinham, não prevêem nada de bom. Não serão bons tempos. E, no entanto, os avanços da ciência, do conhecimento, do saber, faziam prever um avanço civilizacional nunca visto. Infelizmente, não é isso que temos. A maioria de nós, nesta verdadeira sociedade da informação, deixa-se ficar pela preguiça dos títulos, pelo nada saber e pelo “emprenhar pelos ouvidos”. A informação, a boa informação comprovada, apoiada em factos, está ao alcance da curiosidade de quem não gosta de “comida mastigada”. Recolher informação em locais refundidos e aceitá-la como credível, só porque um idiota qualquer o diz como sendo verdadeira, não tem qualificação. É o acreditar na terra plana, nos “chem trails” que nos envenenam, nos gigantes que viveram na terra na mesma altura dos dinossauros, nas vacinas que provocam autismo, etc. Como disse, sou crente, mas não acredito sequer na virgindade de Nossa Senhora.

A Babel dos nossos dias, é não saber usar as redes sociais em benefício do conhecimento, é ficar pelo “clicbait” (título de uma notícia que não tem nada a ver com o conteúdo da mesma), é aceitar que a parte e o todo, são a mesma coisa.

2. Já não há paciência para a ameaçazinha ridícula, usada por tudo e por nada, que questiona a continuação da Madeira como parte de Portugal. Mesmo que, depois, se venha dizer que não passou de uma metáfora. Desculpa esfarrapada.

Já não chegava o ALF da Assembleia Regional. Esta semana foi o Presidente do Governo que, com o seu ar enfastiado, arriou de novo o bitaite.

Quem começa estas conversas tem de ter a coragem de as acabar, de as levar até ao fim.

Já o afirmei várias vezes e volto a dizer alto e bom som, com toda a convicção e firmeza, que sou um convicto defensor de um referendo sobre a continuidade da Madeira no Estado português. É tempo de acabar de vez com esta conversa chantagista manhosa, que não leva a lado nenhum.

Se a Madeira não tem, ao fim de 46 anos de Autonomia, ferramentas para por si se desenvolver, sem precisar de andar de mão estendida, isto só se deve a quem exerceu o poder durante estes anos todos. Não o fizeram por preguiça e por falta de capacidade. Porque montaram um polvo com tentáculos espalhados por todo o lado. Porque criaram um sistema cheio de sanguessugas que, como tão bem cantou o bardo, “comem tudo e não deixam nada”.

Vamos Sr. Presidente, faça-se um referendo. Tem todo o meu apoio para isso. Estarei consigo na luta por uma revisão constitucional que o permita. Já é tempo de se fechar esta questão, de uma vez por todas. Seja corajoso e não passe a vida a se esconder por detrás destas atoardas, que não nos trazem ganho nenhum. Bem pelo contrário.

3. A história do PCP, segundo os próprios, é de apoio à paz.

Qual paz? A de Lenin, Trotsky, Stalin ou a de Pol Pot? Talvez a da dinastia Kim? Ou de todos aqueles regimezecos de leste, da Guerra Fria, vergados às ordens de Moscovo, apoiados em polícias políticas sanguinárias. A paz do Holodomor ucraniano ou o “grande salto em frente” de Mao? A do Maduro venezuelano? Da China do massacre de Tiananmen? Ou dos massacres de Ceausescu e do regime de Henver Hoxha? Praga 1968 ou Budapeste 1956? Katin ou Sandarmokh? O “pacífico” e enorme complexo de campos de concentração do Gulag soviético onde morreram, calcula-se, cerca de 30 milhões de pessoas? Yezhovshchina? Ou o mais de um milhão de funcionários e intelectuais do Kuomintang internados em campos de concentração? Mengistu Haile Mariam? os Meninos de Lenin búlgaros? O KGB, a Stasi, a NKVD? Vasili Mikhailovich Blokhin? Yagoda? Béria? A fome do Tartaristão? Khorloogiin Choibalsan? Grischino? Berlin 1945? Qara Yanvar? A paz das transferências forçadas de populações (cazaques, chechenos, finlandeses, alemães, tártaros, judeus, azeris, curdos, etc., etc., etc.? Dos kulaks? Do extermínio dos Cossacos?

Não tenho espaço para continuar, pois, por mais que o fizesse, nem à metade de tanta paz podre chegava. A paz do comunismo, de que o PZP gosta, matou milhões pelo mundo todo.

Paz na boca desta gente é pornografia.