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ONU pede 3,97 mil milhões de euros para apoiar população afegã que "não tem o suficiente para comer"

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O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, pediu hoje 4,4 mil milhões de dólares (3,97 mil milhões de euros) em financiamento para o Afeganistão, salientando que 95% da população afegã "não tem o suficiente para comer".

Trata-se, segundo as Nações Unidas, do maior apelo para um único país, sendo que nove milhões de pessoas correm o risco de passar fome e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) estima que um milhão de crianças gravemente desnutridas esteja à beira da morte, se não houver uma ação imediata.

O apelo do secretário-geral das Nações Unidas foi feito durante um evento de alto nível para reunir mais apoio à resposta humanitária no Afeganistão realizado hoje em formato virtual.

A reunião foi convocada pelo próprio Guterres, acompanhado pelos Governos do Qatar, Reino Unido e Alemanha, que são coorganizadores desta conferência internacional de doadores.

De acordo com Guterres, a já terrível situação humanitária no Afeganistão deteriorou-se de forma alarmante nos últimos meses e intensificou-se ainda mais com a guerra na Ucrânia, que fez os preços globais dos alimentos subir "vertiginosamente".

"Isso significa uma catástrofe tanto para os afegãos que lutam para alimentar as suas famílias, quanto para as nossas operações de ajuda. Sem ação imediata, enfrentamos uma crise de fome e desnutrição no Afeganistão", disse o secretário-geral.

"As pessoas já estão a vender os seus filhos e partes dos seus corpos para alimentar as suas famílias. A economia do Afeganistão efetivamente entrou em colapso", frisou o ex-primeiro-ministro português.

O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento alertou que, a menos que sejam tomadas medidas, 97% dos afegãos poderão estar a viver abaixo da linha da pobreza em meados deste ano, sendo que as necessidades de financiamento humanitário triplicaram desde junho passado.

"A comunidade internacional deve encontrar maneiras de poupar o povo afegão do impacto da decisão de interromper o apoio ao desenvolvimento ao Afeganistão e congelar quase nove mil milhões de dólares (8,12 mil milhões de euros) em ativos do Afeganistão no exterior. Deve disponibilizar dinheiro, para que a economia afegã possa respirar e o povo afegão possa comer", disse Guterres.

"Os países ricos e poderosos não podem ignorar as consequências das suas decisões sobre os mais vulneráveis. O primeiro passo em qualquer resposta humanitária significativa deve ser interromper a espiral da morte da economia afegã. Sem isso, mesmo a operação de ajuda mais bem financiada e mais eficaz não salvará as pessoas do Afeganistão de um futuro inimaginável", acrescentou.

Guterres aproveitou ainda esta ocasião para "lamentar profundamente que a educação das meninas acima do 6.º ano de escolaridade permaneça suspensa, numa violação da igualdade de direitos das meninas que prejudica todo o país e as deixa mais expostas à violência, pobreza e exploração", no Afeganistão, que desde agosto passado é controlado pelos talibãs.

"Simplesmente não há justificação para tal discriminação", disse.

"Nas próximas semanas e meses, conto com uma ação coordenada para encontrar soluções criativas para voltar a colocar a Economia afegã de pé", concluiu António Guterres.

A União Europeia (UE) anunciou hoje a disponibilização este ano de 95 milhões de euros para assistência humanitária ao Afeganistão.

A verba, a anunciar no âmbito desta conferência de doadores das Nações Unidas, soma-se a outros 18 milhões a atribuir este ano ao Irão e ao Paquistão, vizinhos do Afeganistão, num apoio total de 113 milhões de euros, indicou um comunicado da instituição.

Na terça-feira, o Reino Unido, coorganizador da conferência de doadores, avançou que ia canalizar mais 286 milhões de libras (340 milhões de euros) em ajuda de emergência ao Afeganistão.