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Portugal "tem ainda espaço significativo" para crescer em canais digitais de pagamentos

Foto Shutterstock
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O sócio da consultora BCG Pedro Pereira considera, em declarações à Lusa, que Portugal "tem ainda espaço significativo" para crescer em termos de utilização de canais digitais de pagamentos, onde se inclui a 'wallet' digital.

Uma 'wallet' digital, traduzida como carteira digital, é uma aplicação que permite guardar dados do cartão bancários e fazer pagamentos com telemóvel, 'tablet' ou computador, ou seja, uma forma de pagamento digital.

"É possível perceber que Portugal tem ainda espaço significativo para crescimento quando comparamos com outros países europeus", afirma Pedro Pereira, apontado que cerca de 70% dos pagamentos são 'contactless' [sem contacto] nos países nórdicos, enquanto que em Portugal ronda os 40% (que inclui 'wallets' e MB Way) durante a pandemia, contra 10% no perído pré-covid.

"Adicionalmente, vemos um conjunto de 'drivers' [motores] que irão fomentar este crescimento", onde se incluem medidas anunciadas para aumentar a literacia digital em Portugal, as projeções macroeconómicas para o aumento da economia (PIB) nos próximos anos, "tendo uma correlação direta com o número de transações", argumenta.

Além disso, há o "aumento expectável do mercado" de comércio eletrónico, a "convergência da taxa de penetração da utilização da Internet em Portugal com a da União Europeia até 2025", entre outros, "pelo que acreditamos que o uso de canais digitais irá aumentar significativamente", considera o sócio da Boston Consulting Group (BCG).

"Portugal, tal como outros países europeus, tem vindo a construir uma trajetória positiva relativamente à adoção de meios de pagamentos digitais e 'wallets', ainda que, progredindo a um compasso mais lento", mas a sua utilização "é ainda inferior ao de outros países como o Reino Unido, a Polónia e a Suécia", diz.

"O que poderá ser justificado também pelo facto de as 'digital wallets' terem sido introduzidas em Portugal mais tarde", por exemplo, a Apple Pay chegou em 2019, em comparação com outros países, no entanto, "o MB Way era já uma realidade bastante popular, que tentava colmatar esta lacuna", refere Pedro Pereira.

A pandemia "funcionou como acelerador de pagamentos digitais", aponta, com 20% da população a afirmar ter aderido ao MB Way e 13% à aplicação móvel do banco, durante este período, o que levou a uma quebra dos pagamentos em numerário, "com 51% dos consumidores a reduzir o uso de dinheiro, sendo que 9% deixou mesmo de o utilizar".

Acresce que Portugal "é um dos países europeus onde ainda se espera que o uso de canais digitais em pagamentos venha a crescer de forma significativa", reforça, em conjunto com a Espanha e a Polónia.

Pedro Pereira sublinha que o papel das ATM "tem maior relevância em Portugal que noutras geografias semelhantes", nomeadamente devido à sua utilização para transações mais simples e à sua elevada capilaridade.

"Em Portugal, existe ainda um acesso bastante limitado a soluções de 'Buy Now Pay Later' (BNPL), mas, com a entrada de novos 'players', vão começar a surgir cada vez mais opções ao consumidor", considera.

Aliás, em novembro passado, a Klarna, empresa líder na indústria, chegou a Portugal, "em parceria com quatro retalhistas 'online' (Trade inn, SKLUM, ISTO. E Black Peach) e disponibilizando um cartão BNPL que pode ser utilizado em qualquer loja" na Internet, exemplifica.

Perto de 30% das 'fintechs' [financeiras tecnológicas] em Portugal "estão focadas em serviços de pagamentos e transferências" e "estas soluções inovadoras têm revolucionado a forma como se efetuam pagamentos, por exemplo, com a utilização de dispositivos, como 'smartwatches' [relógios inteligentes]".

Contudo, pagamentos com cartões físicos são ainda "o método favorito dos consumidores".

Para o responsável da BCG, "é expectável um aumento da receita da indústria", com novos 'players' e mais inovação, quando questionado sobre quais são as principais tendências.

"A pandemia funcionou como acelerador da adoção de pagamentos eletrónicos, o que se traduz, numa primeira fase, no aumento de pagamentos 'contactless' (sem contacto) e, posteriormente, na adoção de pagamentos digitais como 'digital/mobile wallets' em substituição dos cartões", salienta.

Dentro de três anos, em 2025, "é expectável que se realize um volume total de transações 'cashless' (sem dinheiro físico) de aproximadamente 2.400 mil milhões de euros [...] e valor de receita total de aproximadamente 2.800 mil milhões de euros".

O panorama competitivo "tem-se tornado cada vez mais global com um aumento substancial de 'fintechs', que pressionam 'players' tradicionais (bancos) que, por sua vez, já sentem elevada pressão do ponto de vista regulamentar", salienta.

Países europeus como a Bélgica, adianta estão a ponderar "medidas que tornem os meios de pagamento digitais obrigatórios, eliminando pagamentos em numerário para reduzir casos de fraude", sendo que cerca 70% dos consumidores e comerciantes referem apoiar estas medidas.

"Espera-se que o número de comerciantes europeus que aceitam este tipo de pagamentos duplique no próximo ano", aponta.

Já o segmento BNPL começa a ser "cada vez mais comum", com um em cada cinco comerciantes europeus a aceitar esta opção, número que se espera triplicar ao longo do próximo ano.