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Sé em obras e cheia de turistas

Fotos: Rui Silva/Aspress
Fotos: Rui Silva/Aspress

Nem os próprios moradores conhecem bem os limites geográficos da freguesia da Sé. Sabem que vai da Ponte do Ribeiro Seco à Ponte do Mercado e sobre da Avenida do Mar até umas ruas abaixo de São Pedro e de Santa Luzia. Quase todos esquecem que também inclui a Ilhas Selvagens, o ponto mais a Sul de Portugal. É neste pequeno rectângulo da baixa do Funchal que vivem quase 3.000 pessoas. Mais do que em todo o concelho do Porto Moniz, embora os próprios residentes ignorem esse pormenor.

Em quase todas as cidades de média e grande dimensão, viver no centro passou a ser cada vez mais raro. As opções pela periferia e até pelos concelhos limítrofes – Santa Cruz, no caso do Funchal – é a regra, deixando a baixa para o comércio, a hotelaria tradicional e, sobretudo, o alojamento local.

A Sé não foge à norma, segundo os Censos 2021 – 2882 residentes, mais 232 do que em 2011 -, esta foi uma das raras freguesias a registar um crescimento da população, mas esse aumento também conta com um número já significativo de estrangeiros.

A presença de residentes de outras nacionalidades, quer sejam moradores permanentes ou turistas de longa duração que optam pelo alojamento local, tem sinais bem visíveis. Em muitos prédios de apartamentos da Sé, há avisos bilingues. Afixam-se alertas nos elevadores para os vizinhos terem cuidado para ‘o saco do lixo não verter’ e ‘please ensure that your trash bag don’t leak!’

Com uma população idosa que vive nos prédios mais antigos da cidade e sofre com o isolamento, a Sé também tem pobreza nas ruas. Disfarçada nos últimos tempos, mas ainda visível.

Um dos maiores problemas é comum a todas as freguesias da baixa: o trânsito continua complicada. E as obras dos últimos meses agravaram a situação, retirando lugares de estacionamento.

Tudo num momento em que a retoma do turismo é evidente e a freguesia, uma das que tem mais hotéis em toda a Região, procura recuperar.

Uma freguesia que também tem pormenores que surpreendem quando se trata da zona mais central da cidade. Na Sé há arraiais - sem contar com as 'Festas da Sé' - e procissões, como noutras freguesias. Na Penha de França, por exemplo, há arraial e a procissão até passa pelas traseiras da casa de Cristiano Ronaldo.

Teresa Spínola,  empresária cabeleireira, está na Rua Princesa D. Amélia há décadas.

“Neste sítio estou há mais de 40 anos, quando ainda aqui estava a direcção de viação e umas casas pequeninas que foi uma pena terem destruído porque faziam parte desta freguesia. Muita gente vivia nesta rua. Havia ali a Casa do Nacional, com um jardim lindíssimo e há 40 anos, quando tinha muitas noivas, ia lá apanhar flores para por nos cabelos”, recorda.

Hoje, reconhece que a zona está mais bonita, mas as obras não ajudam.

“Nunca deveriam ter sido feitas neste mês. Há mais turismo, os hotéis estão praticamente cheios, com muito aluguer de carros, não há lugar para estacionar. Há muitas queixas. Deveriam ter sido feitas com muito mais rapidez, precisamos das obras mas, ou faziam com mais pessoal para ser mais rápido ou então numa época anterior quando havia menos turistas”.

Depois de mais de um ano de condicionamento devido à pandemia, Teresa Spínola vê com agrado o regresso dos turistas.

“Não me lembro de ver tantos turistas jovens a passar por aqui”.

Um movimento que faz do seu salão de cabeleireiro um ponto de informações.

“Os turistas entram e pedem informações. Eu guardo todas as revistas de turismo e mostro, também no computador, para o cliente ver a nossa ilha. Faço muita publicidade gratuita da nossa ilha.”

Difícil foi sobreviver à pandemia. Com cinco estabelecimentos a funcionar, foi preciso fazer muitas contas.

“Foi muito difícil e ainda está a ser. Foi preciso trabalhar muito, é sempre preciso manter os pés bem assentes na terra. É preciso não gastar mais do que se pode. Uma pessoa tem de fazer contas.”

As ajudas “resultaram, mas poderiam ter sido um bocadinho melhor, sobretudo mais rápidas”.

“O Governo Regional tem feito muita coisa boa, mas há muita gente que fechou e não vai voltar a abrir”.

Há muito menos tempo na Rua Imperatriz D. Amélia, a poucos metros de Teresa Spínola, Lídia Silva, de 26 anos e o marido, Pedro, de 25, também sentiram da forma mais dura os efeitos da crise.

Abriram o mini-mercado Peter’s Store há um ano e meio. “As pessoas são simpáticas, é uma zona agradável, não esperava ser tão bem recebida, como é um supermercado mais para turistas”.

A simpatia dos moradores foi a única coisa positiva dos primeiros tempos.

“Surgiu a oportunidade em Janeiro do ano passado, tivemos um bocadinho de dificuldades com a burocracia e só conseguimos em Março que foi quando se começou a desenvolver a pandemia cá. Abrimos um dia antes do primeiro confinamento”, recorda Lídia que tem uma filha pequena.

“Já tínhamos tudo pronto, a papelada toda a pronta, não havia como voltar atrás. Um passou atrás era perder tudo, um passo em frente era ver o que poderíamos ganhar. Os primeiros tempos foram difíceis. Foi uma tentativa de reorganizar a loja, optámos pro colocar mais mercearia, mais fruta, mais legumes, na tentativa de conquistar o mercado local, porque não havia mercado estrangeiro”.

Numa freguesia como a Sé, encontrar moradores não é fácil.

“Graças a Deus, o pouco mercado local que havia conseguimos cativar. Quase que passámos a ser a mercearia da rua, mas foi difícil. Ao início, as pessoas vinha à porta e diziam que isto era só para turistas, mas eu convidava a entrar a ver os preços que eram normais”.

O regresso do turismo foi um problema agradável para Lídia e Pedro.

“Também é difícil, não estávamos a contar com uma retoma tão imediata, com tanto movimento. Antes, passávamos o dia a arrumar o que não precisava de ser arrumado e a limpar o que já estava limpo e agora não há tempo para tudo o que há para fazer, mas é bom”.

Quanto à freguesia da Sé, “ótimo são as pessoas, super simpáticas, prestáveis quando é preciso ajudar. O que é mau é o estacionamento, é horrível”. E as obras “vieram na pior altura possível”.