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Favores, amianto, etc…

Em relação ao caso amianto, de que os principais responsáveis nem abrem o bico, tem uma gravidade enorme

São Vicente anda nas bocas do mundo pelas piores razões. Um dia fala-se de compadrio na entrega das obras e noutro fala-se em amianto que tinha sido enterrado perto do Parque Industrial das Ginjas.

São Vicente é a minha segunda freguesia, depois do Seixal onde nasci, mas já fui batizado em São Vicente no tempo em que não havia estrada e vim de barco a remos com pouco mais de um mês de idade. O barco virou, ao varar, com uma onda maior e não morri pelo facto de vir ao colo da minha mãe e que ela sabia nadar.

Os meus avôs viviam em São Vicente, a avó desta freguesia e o avô da Boaventura, que não conheci por ter morrido muito novo. Quando a minha mãe foi ter com o meu pai à Venezuela, passava as férias escolares em São Vicente, na casa de uns tios e isso ligou-me muito a esta freguesia. Gosto muito de São Vicente. Aí tive bons amigos. Ainda o mês passado fui ao Alentejo ver um amigo, médico reformado que não o via há cerca de sessenta anos, natural de São Vicente.

São Vicente está no meu coração e é com muita tristeza que vejo factos menos bons, ou porque anda nas bocas do mundo por coisas menos boas. É o caso deste momento que envolvem não só a Câmara Municipal, mas também o próprio Governo Regional, que se mantém calado, como se não fosse nada com ele.

Compreendo que por vezes os concursos públicos são demasiado lentos e poderão haver obras urgentes, porque foram detetadas muito tarde e não podem esperar o tempo suficiente para a feitura dos concursos. De qualquer modo acho que isso não é justificação e por mais que queiram andar de pressa, têm que pensar nas criticas e nas bocas do mundo.

Nunca, na minha vida, estive encarregado de obras em alguma Câmara, ou qualquer outra instituição, mas se alguma vez estivesse estado, de certeza que o concurso público seria a norma e não o ajuste direto.

Em relação ao caso amianto, de que os principais responsáveis nem abrem o bico, tem uma gravidade enorme. Se tiveram que retirá-lo de habitações e de escolas, era, porque, certamente, era perigoso para as pessoas. Na substituição desse material, havia uma verba para o seu transporte para o continente e respetivo tratamento químico, pois não há outra maneira de destruí-lo.

Quem fez essa asneira, de certeza que pouco deve à inteligência, porque se tinha que ir para o continente para tratamento especializado, fácil seria de perceber que não se degradava pelo facto de ser enterrado e poderia contaminar facilmente as águas subterrâneas.

Além do mais o descuido foi tão grande que alguns anos depois começou a aparecer à superfície, o que pode significar que ficou mal enterrado, o que provocou a descoberta do crime ambiental de alto grau, para além da queixa anónima na GNR. O amianto pode provocar o cancro. Será que já fizeram exames aos trabalhadores da empresa para ver se há contágios? E aos moradores mais perto do local do crime? E a uma vacaria que existe nas redondezas?

Sem dúvida que é um crime que merece castigo exemplar, mas na verdade, tanto a Câmara de São Vicente, como o Governo Regional que parecem ignorar o assunto, assim como as instituições responsáveis pelas empreitadas merecem um bom castigo, nomeadamente a demissão, caso ainda estejam em funções além da parte criminal, porque não acompanharam as empreitadas até ao fim, uma vez que incluíam verbas para o transporte e respetivo tratamento químico.