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Saldos migratórios determinam dinamismo demográfico de Portugal

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Portugal está cada vez mais dependente de saldos migratórios para ter algum dinamismo demográfico, considera a demógrafa Maria João Valente Rosa, perante os resultados preliminares dos Censos 2021, que confirmam as tendências de decréscimo populacional da última década.

Os resultados preliminares dos Censos 2021, divulgados hoje pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), "não foram surpreendentes" para a demógrafa da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, que viu confirmadas as tendências "que já vinham a ser traçadas nos últimos 10 anos em Portugal".

Com 10.347.892 residentes, menos 214.286 do que em 2011, segundo os dados do INE, o país está "abaixo do pico máximo" atingido nesse ano, aproximando-se hoje dos valores "registados em 2001", disse a investigadora à agência Lusa.

Lembrando que esta é, desde 1864, "a segunda vez que Portugal perde população entre dois momentos censitários", Maria João Valente Rosa distingue as causas que levaram a esse decréscimo na década de 60, quando se verificou "uma emigração extremamente acentuada e a Guerra Colonial", e a actual variação populacional que atribui a duas componentes.

Por um lado, "o saldo natural [diferença entre o número de pessoas que nascem e que morrem] que tem sido, ao longo desta última década, sempre negativo" e, por outro, o saldo migratório "que poderia ter compensado este factor natural", o que não se verificou.

"Em virtude de os saldos naturais serem extremamente negativos, a população de Portugal está cada vez mais dependente de saldos migratórios para ter algum dinamismo demográfico", sublinhou, alertando que, no futuro, "tudo depende dos saldos migratórios, se forem positivos e se compensarem o saldo natural que se espera que persista negativo".

Os dados preliminares confirmaram ainda "um reforço da litoralização", com as regiões do interior a liderar a tabela daquelas que mais perderam população", e, por outro lado, o crescimento populacional na Área Metropolitana de Lisboa (AML) e do Algarve, "as únicas que não perderam população entre 2011 e 2021", acrescentou.

Embora Lisboa, o município mais populoso do país, tenha perdido, entre 2011 e 2021, quase oito mil pessoas, "a AML do ponto de vista global aumentou a sua população, em virtude de outros municípios terem compensado este decréscimo de Lisboa", afirmou, exemplificando com o crescimento populacional em municípios como Sintra ou Cascais.

Dados que, para Maria João Valente Rosa, mostram uma área metropolitana "a duas velocidades ou a seguir dois caminhos distintos", mas que não significam que "Lisboa esteja a perder atractividade". Pelo contrário, defende, reflectem que "muitas pessoas, cada vez mais, entram em Lisboa de manhã [para trabalhar] e saem à noite", dormindo em outros locais.

Dos números divulgados hoje pelo INE, a demógrafa destaca ainda o "aumento do número de agregados domésticos, embora eles estejam bem mais encolhidos em termos do seu tamanho".

Se em 1960, como lembrou, "o número médio de pessoas por agregado andava à volta dos 3,7", em 2021 a média é de 2,5 pessoas por agregado, numa diminuição que diz poder ser compreendida à luz de factores como envelhecimento da população, o aumento das famílias monoparentais, a diminuição do número médio de filhos e o aumento do número de pessoas sem filhos.

A investigadora salienta ainda a repartição da população por sexos, retirando dos números hoje conhecidos "o retracto" de um país em que "as mulheres continuam a ser a maioria da população residente em Portugal", factor em que os Censos espelham um reforço por comparação a 2011.

Portugal tem 10.347.892 residentes, menos 214.286 do que em 2011, segundo os resultados preliminares dos Censos 2021, hoje divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).

Trata-se de uma quebra de 2% relativamente a 2011, consequência de um saldo natural negativo (-250.066 pessoas, segundo os dados provisórios).

O saldo migratório, apesar de positivo, não foi suficiente para inverter a quebra populacional, segundo o INE, que sublinha que, em termos censitários, a única década em que se verificou um decréscimo populacional foi entre 1960 e 1970.

Os dados preliminares mostram que há em Portugal 4.917.794 homens (48%) e 5.430.098 mulheres (52%).

O Algarve e a Área Metropolitana de Lisboa (AML) foram as únicas regiões que registaram um crescimento da população nos últimos 10 anos.