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Extrema direita falha objectivos nas eleições regionais em França

Foto Sebastien SALOM-GOMIS/AFP
Foto Sebastien SALOM-GOMIS/AFP

Os candidatos dos partidos tradicionais impuseram hoje, nas eleições regionais, um revés doloroso para a extrema direita em França, que não conseguiu o controlo de uma região pela primeira vez, segundo as projeções eleitorais.

Segundo a empresa de sondagens Ifop, o partido de extrema direita União Nacional (RN, na sigla original) terá ultrapassado por pouco os 20% dos votos a nível nacional, atrás da direita dominante, mas também dos candidatos dos partidos 'verdes' e de esquerda, com resultados combinados. As sondagens apontam também que o RN foi derrotado no sudoeste de França, região que era vista como a melhor oportunidade para garantir uma vitória decisiva nas eleições para os conselhos regionais, notícia a agência AP.

Confirmando-se estes resultados, o fracasso do RN em vencer qualquer uma das 12 regiões de França continental ameaça desacelerar o ímpeto da sua líder, Marine Le Pen, na campanha para as eleições presidenciais para 2022. Um dos candidatos que as projeções apontam como vencedor da direita tradicional, Xavier Bertrand, salientou que a União Nacional não foi só "travado" na sua região, Hauts-de-France, no norte, mas também "recuou". Embora sejam focadas em questões locais, e marcadas por uma baixa comparência nas urnas, as eleições regionais eram vistas como um teste para perceber se o partido anti-imigração estava a ganhar aceitabilidade antes das presidenciais.

A líder do RN, Le Pen, tem passado a última década a tentar livrar-se da reputação de extremista, e o facto de não assegurar nenhuma região nestas eleições demonstra que o partido continua pouco apelativo para muitos. As sondagens sugeriam que o partido de Le Pen teria algum ímpeto e ambições legítimas de ganhar pelo menos uma região. No entanto, uma baixa comparência nas urnas na primeira volta, de apenas 33%, terá também causado apatia nos apoiantes do RN. Apenas numa região, no Sudeste, o partido terminou em primeiro lugar na primeira volta, com os candidatos às restantes regiões relegados para segundo lugar, ou mais abaixo, e muitos a abandonarem as esperanças de vencerem na segunda volta.

Na segunda volta pode ter sucedido o mesmo que em outras votações, com eleitores e partidos a unirem-se para manter o partido de Le Pen fora do poder. O RN também tinha dominado as eleições regionais em 2015, mas na segunda volta a intenção mudou após partidos e eleitores unirem-se para os derrotar.

A líder francesa de extrema-direita, Marine Le Pen, cujo partido não conseguiu hoje ganhar o único governo em que teve oportunidade nas eleições regionais, apelou aos franceses para votarem na alternância nas presidenciais de 2022.  "Estou mais determinada do que nunca a colocar toda a minha energia e vontade de reabilitar a política, de restaurar a sua utilidade e a sua eficácia ao serviço do povo francês. As eleições presidenciais são, mais do que nunca, as eleições que permitem mudar as políticas e os políticos", afirmou a líder da União Nacional (RN, na sigla em francês).

Na região de Provença-Alpes-Côte d'Azur (PACA), onde a RN "apostava todas as suas fichas" nestas regionais, a lista encabeçada pelo atual presidente, o conservador Renaud Muselier, terá vencido com 57% dos votos, contra 43% da candidatura da União Nacional, liderada por Thierry Mariani. Le Pen atribuiu a derrota do candidato a "alianças não naturais" feitas contra o seu partido. "Fizeram tudo para nos impedir de mostrar aos franceses a nossa capacidade de dirigir um governo regional", disse Le Pen, pouco depois do encerramento das urnas. "Quando dois em cada três franceses já não vão votar, particularmente os jovens e as classes populares, é evidente que temos de considerar a mensagem. Este alheamento cívico histórico é um sinal importante enviado a toda a classe política e mesmo à sociedade como um todo", afirmou Marine Le Pen.

A líder da extrema-direita francesa considerou que a mobilização será a chave para a vitória do seu partido nas próximas eleições e argumentou que esta "crise profunda" que está a atravessar a democracia local "requer um trabalho de reflexão coletiva", desde os métodos de mobilização até à informação dada aos eleitores.