Se há crise, é na Direita

O espumoso Mira Amaral fala em impasse português; um outro, no congresso das Direitas, a que se apresenta como democrática e a sem vergonha, um tal Nuno Palma, depois de, reverencialmente, ter saudado o homem que provocou a entrada dos homens da troika, após ter cedido a um ultimato do seu partido lançado pelo cacique Marco António Costa, demonstrou, sob aplausos, que o Estado Novo salazarista, à parte essa minudência que era viver em ditadura, com campos de concentração, prisão e exílio, era um oásis económico, muito melhor do que a Democracia, também na saúde e na educação, quando os dados da mortalidade infantil e do analfabetismo mostram o contrário. E desculpabilizou o regime fascista porque, eventualmente, o PCP, que pagou com centenas de anos de cadeia o combate ao regime fascista, teria feito pior. Pois é, mas a história não é contractual, mas factual. E os factos são estes: os comunistas pagaram, como outros democratas, o combate contra o regime, e ele e outros, não só não o combateram, como o apoiaram, louvaram e ainda hoje o louvam, tirando essa questão das mortes, das prisões dos oponentes, do exílio dos democratas. São ridículos e não têm vergonha de o serem. A Esquerda esteve 10 anos seguidos na Oposição, entre 1985 e 1995, e ninguém falou em crise da Democracia. A Direita, na Oposição há 6 anos, confunde a sua estada na Oposição, como consequência do voto livre dos cidadãos, com crise do regime democrático. A crise é, de facto, democrática, quando a Direita, toda apoiada pela comunicação social do regime, não aceita os resultados das eleições, sem nunca as ter contestado nos tribunais. Se há crise, é na Direita. A Democracia está bem e recomenda-se.

Miguel Fonseca