Crónicas

Disto e daquilo

1. Disco: saiu um novo trabalho dos Sault, “Nine” do seu nome. A sua aquisição só estará disponível por 99 dias, o mesmo se passando no que há audição por streaming diz respeito. De referir que os Sault são uma banda mistério. Ninguém sabe quem a constitui nem de onde vêm. O som anda à volta de uma espécie de groove R&B alternativo, com umas pitadas de beats mais intensos. Andará comigo esta semana.

2. Livro: quem não conhece a história, está condenado a repeti-la. Sim, é uma frase batida. John Lewis Gaddis é um dos maiores especialistas sobre o período pós-II Guerra Mundial. Este “A Guerra Fria” é um livro escorreito que se lê quase de um fôlego. Imprescindível para nos percebermos.

3. Não vou aqui falar do Arraial Liberal em Lisboa. Já foi tudo dito, redito e tornado a dizer, e o que escrevesse não acrescentaria nada ao assunto. Até, nestas páginas, fui lendo críticas à sardinhada de Santo António, quase 15 dias passados. A crítica é sempre boa e saudável. Mas não deve ser cretina.

Como era bom ouvir, os que tanto criticam um Arraial, fazerem o mesmo em relação a outros assuntos muito mais preocupantes. Mas, lá está, as palas ideológicas não o permitem. Como disse Manuel Machado: “Um vintém é um vintém, um cretino há de ser sempre um cretino…”

Li algures, sei onde foi, mas não o revelo, que “esta gente é assustadora”, esta gente que faz estas coisas. Engraçado que, para estas pessoas, a Câmara Municipal de Lisboa, de Medina, não é assustadora por revelar dados pessoais a um regime totalitário como o é o russo. Curioso como não é assustador o PS nomear ex-ministros como presidentes de entidades reguladoras e demitir os que, por fazerem bom trabalho, demonstram que o “rei vai nu”. Supimpa é não ser assustador não cumprir com os processos de escolha de procuradores europeus. Interessante como não é assustador o PCP apoiar regimes totalitários anacrónicos que prendem, torturam e matam opositores. É pândego não serem assustadores os cânticos das manas Mortágua, numa manifestação a desejar a morte de alguém, por pior que essa pessoa seja. É galhofeiro não ser assustador, estarem no BE condenados das FP25 que foram candidatos em eleições democráticas e que não denotam nenhum arrependimento pelo sangue que têm nas mãos. Magano é não ser assustador a fábrica de nomeações, evidência do mais abjecto nepotismo, em que se transformou a JS, ou o Familygate socialista. Cómico é não ser assustador este país ter um ministro ligado a escândalo atrás de escândalo, como se não fosse nada com ele. Simpático é não ser assustador matar-se à entrada do país alguém que vem à procura de uma vida melhor. Porreiro é não ser assustador enfiar biliões de euros na TAP e no Novo Banco, porque o governo pensa que são empresas “to big to fail”. Catita é não ser assustador o que se passou em Tancos. E por aí fora, que a lista é enorme.

Não. O que é assustador não é o nepotismo e o amiguismo, a bufaria, a mentira e a falsificação, o não assumir, porque a culpa é sempre do outro, a corrupção e a falta de transparência. Sobre isso não vemos os moralistas da treta a pregar porque, para eles, o que é assustador é “esta gente” que organiza sardinhadas.

4. Graças à JPP, aquilo que devia ser uma prática comum de governação transparente só se consegue saber forçando a aplicação da lei. Só assim se sabem das jigajogas do Governo Regional.

A última, tem a ver com o acordo entre este e a OPM sobre a operação no Porto do Caniçal. Desde 1991 que esta empresa operava um equipamento do Estado, sem pagar nenhuma contrapartida por isso.

Mas vamos lá à história da coisa.

No tempo da tutela da economia por parte de Eduardo Jesus, o governo avançou com um processo que tinha em vista reformar o modelo da operação portuária. Apesar das boas intenções (o inferno está cheio delas) a estratégia estava errada, fruto de pressupostos incorrectos apoiados num “estudo” — que nunca foi feito, como é costume — que resultou num parecer de um advogado continental contratado pela Secretaria da Economia da altura. O dito parecer não era mais que uma chorrilhada de coisas sem nexo, demonstrativas de que, quem o escreveu, não sabia do que falava. Na ânsia de quererem fazer sangue, geraram o efeito contrário. Um desastre estratégico, apoiado em infindáveis “considerandos” muito mal-amanhados.

O resultado fez a alegria do Grupo Sousa e colocou o governo numa posição fragilizada, que resultou na abertura de um processo judicial por parte daquela empresa.

A inconsistência desta espécie de ataque do governo, mais o flop do novo modelo do subsídio de mobilidade, foi o que ditou a decisão da saída, de Eduardo Jesus, do governo (história bem conhecida por todos).

Tudo bem enrolado e torcido. O que fazer, então, para desatar este nó cego? Primeiro mudou-se a tutela, depois aplicou-se a sempre eficiente táctica do deixar passar o tempo para que a curta memória da maioria das pessoas induzisse ao esquecimento e, finalmente, depois do período de “nojo”, acerta-se um acordo que se esconde, mas que se anuncia como coisa boa para todos: Porto do Caniçal aberto à operação de quem o quiser fazer. Trocado por miúdos: faz-se o anúncio numa notícia jornalística que vale pelo título dado que, no seu corpo, a explicação está bem enrolada que não se percebe nada. Chega-se a um acordo com o operador único do Porto, sem se proceder a qualquer reforma do modelo que materialize condições objectivas para a entrada de novos operadores em regime de livre concorrência. Para ficar bem entendido: anuncia-se a abertura, garantindo em simultâneo a manutenção do modelo que garante o monopólio. Simples.

Em contrapartida de tanta bondade, o governo, em sede de orçamento, determina, com aprovação da ALM, uma nova taxa de utilização, que terá de ser paga pelo operador portuário, entre 420 mil euros e 470 mil euros. Um valor simpático para o operador e que certamente teve como compensação os subsídios de mobilidade dos madeirenses nas deslocações ao Porto Santo. Por antecipação. Ou seja, o grupo começou a receber antes de pagar. Nada que um aumento no valor do transporte de carga marítima não pague.

O governo ainda “impôs” uma série de investimentos necessários à manutenção e renovação de equipamentos portuários, “no sentido de repor a operacionalidade do porto do Caniçal, de modo a assegurar a segurança e o regular funcionamento das operações de estiva”. Como se isso fosse uma penalização, quando é o normal e o que se impõe a quem é dono dos equipamentos e usa as infraestruturas portuárias. Ou seja, areia para os olhos, que o povo esfrega alegremente.

Como cereja no topo do bolo, asseguram pela enésima vez, a anunciada extinção da TUP Carga, que não passa do fim de uma receita, não do Operador, mas sim da APRAM. Ou seja, um desconto da Região e não uma quebra de receita do Operador.

Concluindo, com pequenos acertos e conversa para adormecer boi, ficará tudo praticamente na mesma, visto que não foram alteradas as condições que propiciam a continuidade do monopólio.

5. Depois de um sonoro “$%&% $%& &% $%#&%”, que me saiu inadvertidamente em frente à minha filha, tive que lhe tentar explicar o porquê da sonora e irritada expressão. E foi difícil, muito difícil, explicar aos seus 10 anitos o que escrevo a seguir em linguagem mais escorreita.

Abomino gente pequenina que adora pôr-se em bicos dos pés para mostrar serviço, canalha indigente intelectual sem nível, cuja única escola que conhecem é aquela onde chafurdam em esterco até aos joelhos.

Já́ passei a fase de ter vergonha alheia destes tipos. Desprezo. É desprezo o que lhes tenho. São do mais vil, torpe, baixo, nojento, que há́. Não há escrúpulos, um pingo de verticalidade que seja.

A minha certeza de que nem notas de rodapé serão, é cada vez maior. Registemos e recusemos sempre ter, o que quer que seja, a ver com gente assim.

Pela parte que me toca, como responsável político que sou, não há a mais remota hipótese de algum dia poder haver acordos com partidos que dão guarida a canalhada desta.

Nunca.