Não sou Cringe, sou metamorfose

De tempos em tempos aparecem gírias, brincadeiras, ondas, vibes que todos seguem, depois se esquecem. Mas, por um certo momento, até a caneta azul ganhou destaque no Brasil. Agora é a vez dos “Cringers” ou “Cringe”. Digo, de cara, não sou Cringe, sou metamorfose.

Dizem que sou Cringe por tomar café com pãozinho logo pela manhã, continuar músicas de sucesso do passado. Cantar “trem das onze”; “é o amor”, “essa tal liberdade”, enfim, relembrar o passado como se fosse atual.

No pós-guerra surgiram os Baby Boomers (1946-1964) que eram filhos de um momento em reconstrução mundial. Eu, como nasci no Brasil, sou do termo “golpe militar” ou, para alguns, “revolução”. Vivi a juventude sobre a égide da Geração X (1965-1980) que se buscava encontrar num mundo onde a paz deveria prevalecer, mas passei, também pela Geração Y ou Millennial (1981-1996). Aqui conheci o pós-ditadura (ou período militar) a reabertura com Sarney e sua política Feijão-com-arroz, vi Collor chegar ao apogeu e sair escorraçado de Brasília. Vi FHC aposentado chamar trabalhador de vagabundo. Vi o PT ascender ao poder almejado e sair pelas portas do fundo. Não se reconstruiu. Entrei porta adentro pela Geração Z (1997-2010). Tecnológica, conectada, sem ideologia, perdida.

Vi homem barbado com mais de 30 anos viver na casa dos pais sem contribuir com nada e pregar o fim do da classe empresarial. Viver do ganho dos pais envelhecidos e, somente dizendo que estava buscando seu espaço no mundo.

Aprendi a me conectar. Tive um computador 386. Trabalhei com um Pentium I, II. Vi Kb se transformarem em Giga. Disquetes sumirem sem dar notícia, pendrives surgirem e virarem nuvem.

Tiozinho e tiazinha que não sabem sacar dinheiro em caixa eletrônico passar o dia mandando mensagem no “zap”. Vi megaempresas de telefonia que vendia linhas com cotas de acionistas sumirem perante as redes sociais que oferecem o serviço.

Elogiei os Correios brasileiros por ser uma empresa séria e eficiente se transformar em nada na atualidade. Preços caros e serviços deficitários.

Cartas e correspondências que iam e vinham e ficávamos ansiosos em ler algo, se transformar em leitura instantânea entre parentes e amigos. Até empresários passaram a demitir via aplicativo. Vejo Oficial de Justiça intimar por aplicativo.

Vi taxistas brigarem por seus pontos e, por não vencerem a luta injusta e inglória, entrando na onda e aderindo aos aplicativos.

Agora a Geração Z vem me dizer que sou Clinge. Não! Não sou. Sou atual. Me reciclo, reinvento, aprendo, conecto.

Sou morte e sou sul, nordeste e sudeste. Falo ôxente, Bichim, Bá Tchê, mas pá! Falo UAI, Aqui, xôtifalá. Sou metamorfose.

Tenho WhatsApp, Instagram, Facebook, Telegram. Faço faculdade via meeting, reunião por Zoom, assisto Lives no YouTube. Sou do agora, mas fui do ontem, onde aprendi a dizer, sou brasileiro. Não desisto nunca.

* Cringe - gíria que, em inglês, significa vergonhoso e que tomou grandes proporções em um conflito entre as gerações Z e Millenials.

* Cringe - GenZ ou pós-Millenials usa a palavra para falar sobre hábitos dos millenials que são considerados ultrapassados ou antigos.

Gregório José