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Morreu o actor e dinamizador cultural escalabitano Carlos Oliveira "Chona"

Foto Mais Ribatejo
Foto Mais Ribatejo

O ator e dinamizador cultural escalabitano Carlos Oliveira "Chona" morreu hoje, aos 73 anos, disseram à Lusa amigos do fundador do Teatrinho de Santarém e impulsionador do Festival Internacional de Teatro de Santarém e da Bienal Luso-Brasileira de Teatro-Circo.

Com uma vida dedicada à cultura e ao teatro, Carlos Oliveira morreu durante a noite no Hospital de Torres Novas, para onde foi transferido do Hospital de Santarém devido a complicações na doença que levou ao seu internamento, disseram as fontes.

Tratado carinhosamente por "Chona", Carlos Oliveira dedicou a sua vida à produção e realização de eventos culturais, tendo sido encenador, ator e dramaturgo.

Nuno Domingos, responsável pela área da Cultura na Comunidade Intermunicipal da Lezíria do Tejo, recordou Carlos Oliveira como "um apaixonado pelo teatro e pela vida, um homem de convicções e um homem de princípios, com uma capacidade de trabalho notabilíssima".

"Foi um dos primeiros ídolos que segui no teatro. De resto, fui parar ao Veto Teatro Oficina convidado por ele, tornando-me um dos fundadores do grupo, há mais de 50 anos", disse Nuno Domingos, lembrando as idas com Carlos Oliveira a cursos de teatro em vários países da Europa, que permitiram aperfeiçoar uma formação que tinha muito de amadora e voluntariosa.

Na sequência da participação nos cursos internacionais de teatro, Carlos Oliveira foi convidado a orientar, em vários países, 'workshops' de técnicas de improvisação teatral, construção de personagem e "teatro de objetos", segundo uma biografia publicada hoje pelo semanário Correio do Ribatejo, do qual era colaborador.

Dos muitos eventos que organizou, destacam-se as jornadas europeias de teatro, os festivais internacionais de teatro para a infância e juventude e a Bienal Luso-Brasileira de Teatro-Circo.

Foi ainda fundador da Associação Portuguesa do Teatro de Amadores (APTA) e, a nível regional, da Associação de Teatro de Santarém (ARSTA), que chegou a ter meia centena de grupos associados e através da qual publicou 20 boletins mensais, tendo promovido a criação de uma biblioteca regional de teatro para melhorar o reportório dos grupos amadores.

Da sua biografia consta ainda a colaboração na organização do I Festival Internacional de Teatro de Lisboa, no Teatro D. Maria II, e a realização do programa "Palmo e Meio" na RDP -- Rádio Ribatejo, e das peças "Puzzle", primeiro espetáculo que encenou no Teatrinho de Santarém, que foi incluída na programação da Telescola, e "Principezinho", emitida pela RTP no dia de Natal de 2000.

Participou nos programas televisivos de Igrejas Caeiro e de Fernando Midões, tendo participado, em 2005, com outros atores escalabitanos nas filmagens de "Quando os Lobos Uivam", de Aquilino Ribeiro, numa adaptação televisiva de Francisco Moita Flores.

Foi um dos fundadores do grupo de poesia "A Phala" e grande impulsionador das artes circenses com a formação da associação juvenil "D'Artânimo", vocacionada para animação de rua com malabarismos de fogo e efeitos pirotécnicos, que deu origem aos "Human'Art".

É autor de "Um Túnel ao Fundo da Luz", um texto de teatro para pessoas cegas, ainda não editado, e coordenou a edição dos livros sobre "A História do Circo", da autoria de Luciano Reis, entre inúmeras iniciativas em que se envolveu ao longo da vida.

Entre as várias distinções de que foi alvo, contam-se, entre outros, o 1.º Prémio de Teatro da Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses, o 1.º Prémio Nacional de Textos de Teatro, atribuído pelo Teatro Experimental do Porto, o Prémio Prestígio Personalidade na Área do Teatro, atribuído pela Federação Portuguesa de Teatro, e o Prémio do INATEL "Mérito do Teatro Português".

Em comunicado, a concelhia de Santarém do PCP manifestou pesar pela morte de Carlos Oliveira, lembrando a sua "contribuição cívica, política e democrática, participando em listas eleitorais da Coligação Democrática Unitária (PCP-PEV) e em iniciativas do Partido Comunista Português".

"Carlos Oliveira pautou a sua vida e ação pela vontade desinteressada de servir a cidade e o concelho de Santarém, mantendo uma profunda humildade de caráter e uma enorme dimensão humanista", sublinhou o partido.

Também a concelhia do BE deu nota da "profunda tristeza" com a morte de Carlos Oliveira, "dotado da serenidade e do carinho que construía os diálogos mais fortes" e de uma energia "incansável e sempre fonte inesgotável de projetos para a cultura e a cidade".

"A sua humildade e a sua solidariedade foram essenciais na dinamização da cidadania, no apoio às associações e aos mais fracos, sempre com a esperança na luz dos seus olhos!", lê-se na nota, apelando a que o seu legado não seja esquecido.

Foi distinguido pela Câmara de Santarém como "Scalabitano Ilustre" e tem o nome numa rua da freguesia escalabitana de S. Nicolau.

O corpo está em câmara ardente na Igreja de Jesus Cristo (junto à Misericórdia de Santarém), de onde sairá no sábado, pelas 10:45, para a Capela do Cemitério de Santarém, realizando-se o funeral às 11:00.