Turismo Madeira

Os turistas chegam, mas a Madeira pode manter-se um destino seguro

"Existe um sistema de controlo e rastreio que permite alcançar a confiança não só de quem nos visita, como também de quem cá vive", diz Eduardo Jesus.

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Foto ASPRESS

Serão os turistas britânicos importantes para a retoma do turismo madeirense, ou uma potencial causa de aumento dos casos de covid-19? Eduardo Jesus, secretário regional do Turismo e Cultura, e Rogério Correia, delegado de Saúde do Porto Santo, concordam que, mantendo-se o cumprimento das medidas de segurança, a região possa continuar a ser um destino seguro.

Foram cinco os voos oriundos do Reino Unido que aterraram ontem na Madeira, nomeadamente quatro no Aeroporto da Madeira – Cristiano Ronaldo e um outro no Aeroporto do Porto Santo. Estes cinco voos carregaram cerca de 800 turistas britânicos para a região, sendo que a maior parte deles já trazia consigo o resultado negativo do teste PCR à covid-19.

A chegada de turistas britânicos à Madeira, após a inserção de Portugal na ‘lista verde’, é vista com satisfação, mas não necessariamente como ‘a salvação do turismo português’. Em específico no caso da Madeira, e embora este mercado represente cerca de 20% do turismo madeirense, “não é apenas o mercado inglês que nos interessa”, esclarece Eduardo Jesus, ao DIÁRIO. A aposta está feita, também, para outros dois mercados que compõem o top3 na emissão de turistas para a Madeira: o Continente e a Alemanha.

Isto não exclui a importância do mercado britânico, que “tem um peso determinante.” O Verão prevê-se movimentado a nível de voos desde o Reino Unido: “Estamos, de momento, a operar com quatro origens no Reino Unido e vamos passar para 12 aeroportos de origem em Junho, aumentando a oferta de lugares para a Madeira de 7.500 para 19.000 no mês de Junho.” As frequências passam de 36 e 4 para 93 e 10 para a Madeira e Porto Santo, respectivamente, no próximo mês.

O Reino Unido é, de facto, o mercado emissor estrangeiro mais importante para a Madeira, suplantado apenas por um outro: o mercado nacional, que “já o ano passado nos valeu bastante e atingiu o topo da hierarquia em termos de contributo para o sector do turismo.” Para isso, foi feito “um grande trabalho da nossa parte”, a par com os operadores turísticos nacionais e com a Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo (APAVT), que nomeou a Madeira como ‘Destino Preferido’ em 2021.

Junho oferece, então, um total de 73.000 lugares entre o Continente e a região. Atenção especial para o Porto Santo, que contará com seis charters organizados pelos principais operadores turísticos portugueses. “Das indicações que temos, o Porto Santo andará muito perto da capacidade máxima durante o Verão. Vamos ter um Verão muito forte no Porto Santo”, afirma Eduardo Jesus.

 Em terceiro lugar temos a Alemanha, “que em Junho já vai oferecer 12.500 lugares em avião, com 65 frequências nesse mês.” Segundo o governante, “a Alemanha está a responder bem, mas com um grande potencial de crescimento, e é nesse sentido que estamos a trabalhar.” Ao todo, e apenas destes três mercados, “estamos a falar em mais de cem mil lugares disponibilizados para a Madeira, mais de 600 frequências no mês de Junho, garantindo o acesso através de 21 aeroportos diferentes.”

Covid-19 é controlada mantendo comportamentos certos

Questionado pelo DIÁRIO, Rogério Correia, delegado de Saúde do Porto Santo, assegurou que “a chegada de turistas britânicos ao Porto Santo está a correr muito bem.” Segundo o responsável a maioria dos ingleses chegou à ilha já com teste PCR realizado, com o sistema de triagem no aeroporto a ter durado cerca de 40 minutos, no total.

“Dos mais de 100 passageiros que chegaram ontem, só dois é que fizeram teste no Porto Santo”, explica. Estes dois passageiros chegaram à região com testes antígeno negativos e foi pedido que realizassem os testes PCR exigidos pelo Governo Regional, que se revelaram, também, negativos.

Rogério Correia pensa que “controlar os casos no Verão vai ser um inferno”, com a chegada antecipada de charters e voos regulares de países estrangeiros, comparativamente à operação de 2020. Ainda assim, assevera que “já temos algum traquejo.” Explica que “a percentagem de risco de aparecimento de novos casos aumenta, perante o número absoluto de pessoas na ilha, mas isto só significa que temos de continuar a ter os cuidados que temos tido até agora.”

O delegado de Saúde do Porto Santo elogia a população local, que “tem manifestado todos os comportamentos correctos”, razão pela qual a ilha deve voltar aos zero casos covid-19 muito em breve. Se estes comportamentos se mantiverem, “vamos ter um Verão seguro e apresentar, novamente, um destino seguro.”

Foram vários os comentários de utilizadores das redes sociais, nas notícias de diversos meios de comunicação social que anunciavam a chegada dos turistas britânicos ao país, que manifestavam algum receio em relação a esta ‘enchente’. O Reino Unido iniciou ontem uma nova fase de desconfinamento, de certa forma ensombrada pelo aumento no país de casos da variante do coronavírus descoberta na Índia.

É precisamente este o medo dos cidadãos portugueses em abrir as portas do seu país, e em concreto dos madeirenses. Contudo, Eduardo Jesus apazigua: “Julgo que é da percepção pública a existência de um sistema de controlo e rastreio que permite alcançar a confiança não só de quem nos visita, como também de quem cá vive.” O secretário regional do Turismo e Cultura fala do “rastreio implacável” que é feito nos aeroportos da região como fonte de confiança:

“Logo nos aeroportos é feito um rastreio implacável, muitos dos turistas que chegaram vinham já com testes realizados. É feito, ainda, o acompanhamento no território, através do Madeira Safe, que todos os dias entra em contacto com as pessoas. A Madeira é pioneira na vacinação de todo o sector do turismo. Uma região que está a vacinar toda a sua população e está versada em toda uma política integrada para minorar os riscos da covid-19.” Eduardo Jesus, secretário regional do Turismo e Cultura

Para o governante, “tudo isto permite um descanso por parte da população.” Ainda assim lembra que é “temos de viver com este equilíbrio e é importante que cada um continue a cumprir com as recomendações das autoridades.” É desta forma que o sector do turismo pode reavivar na região, ao mesmo tempo que esta se mantém um destino seguro, para turistas e para a sua própria população.

Da ‘lista verde’ à chegada em massa de turistas

A debandada de turistas do Reino Unido para Portugal deve-se à inserção do nosso país na ‘lista verde’ do governo de Boris Johnson, que permite as viagens não essenciais para Portugal, sem necessidade de período de quarentena no regresso. Portugal abriu as suas fronteiras a estes turistas esta segunda-feira, 17 de Maio, mediante a apresentação à chegada de um teste PCR realizado nas 72 anteriores, com resultado negativo.

As portas estão abertas entre os dois países e a ‘lista verde’ manter-se-á inalterada durante as próximas três semanas. Ou seja, durante as próximas semanas, as atenções centram-se em Portugal. O semáforo está verde apenas para 12 destinos mundiais. Destinos de férias favoritos dos cidadãos do Reino Unido, como Espanha, Grécia, Itália, França, encontram-se na ‘lista amarela’, de locais “para onde não se deve viajar.”

Viajar para países na ‘lista amarela’ implica a realização de um teste antes do regresso, bem como agendamento (e pagamento) de outros dois testes, dois e oito dias após o regresso, e ainda um período de isolamento profilático em casa, num total de 10 dias. São vários os destinos europeus a pedir ao Reino Unido que reconsidere a lista, incluindo as vizinhas Canárias, que com uma situação epidemiológica díspar do continente espanhol, acreditam que o arquipélago deve ser analisado separadamente.

Já o secretário de Estado dos Transportes do Reino Unido, Grant Shapps, asseverava a 7 de Maio, aquando do anúncio dos destinos que integravam a ‘lista verde’ a partir de 17 de Maio, que “não penso que vamos adicionar novos países em breve”, apoiado pelo primeiro-ministro Boris Johnson, que dizia que não previa a adição de novos destinos a esta lista “num futuro próximo.”

As atenções estão, pois, centradas em Portugal. Mais especificamente em dois destinos com os quais os turistas do Reino Unido têm uma relação de longa data: a Madeira e o Algarve. À Madeira chegaram ontem cerca de 800 passageiros, ao Algarve foram mais de 5.500, que chegaram em 17 voos, que aterraram no Aeroporto de Faro ao longo do dia. Para além destas duas regiões, chegaram ainda seis voos a Lisboa e outros três ao Porto, também oriundos do Reino Unido.

Como resposta a este incremento da procura são já vários os anúncios de aumento de frequências por parte de diferentes operadores. Esta semana foi a vez da portuguesa TAP informar que o volume de reservas do Reino Unido para Portugal mais que duplicou na semana passada, comparativamente à semana anterior, num crescimento de 131%. Por esta razão, a companhia aérea aumenta o número de voos entre o Reino Unido e Lisboa e Porto, não falando em qualquer alteração para a Madeira.

Já a semana passada, imediatamente após o anúncio da nova ‘lista verde’, a TUI falava em um aumento exponencial da procura por destinos portugueses. Adicionou, então, voos para o Algarve e para a Madeira. Para a região insular há mais voos por semana desde Londres Gatwick e Manchester, à sexta-feira, de 21 de Maio a 29 de Outubro, e a adição de duas ligações semanais a Birmingham, todas as segundas e sextas-feiras, também até 29 de Outubro.

Dos quatro voos que chegaram ontem ao Aeroporto da Madeira – Cristiano Ronaldo, três foram da TUI, precisamente dos destinos acima mencionados. O outro voo do Reino Unido veio de Londres-Heathrow, a bordo de um avião da British Airways. A TUI foi, também, a companhia aérea que aterrou ontem no Aeroporto do Porto Santo, levando à ilha 130 turistas provenientes de Londres-Gatwick.

Numa publicação na sua conta de Instagram oficial, a TUI UK partilhou os momentos felizes das chegadas de ontem à Madeira, com a descrição: “É bom estar de volta! Tivemos um dia incrível, regressámos aos céus pela primeira vez em meses.”

A ‘lista verde’ do Reino Unido

  • Austrália
  • Brunei
  • Ilhas Falkland
  • Ilhas Faroé
  • Gibraltar
  • Islândia
  • Israel
  • Nova Zelândia
  • Portugal (incluindo Madeira e Açores)
  • Singapura
  • Ilhas Geórgia do Sul e Sandwich do Sul
  • Santa Helena, Ascensão e Tristão da Cunha.