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Botão

O produto Madeira que eu gostava existisse orgulhar-se-ia das tais expressões únicas, que poucos hoje utilizam

“Passeava-me eu pelo tratuário da promenade, a ver se me passavam as dores nas arcas ao nível da adoela que isto de estar armado em aboseirinho em todo o lado não faz bem nem à cachimónia, quando me lembrei que se calhar os meus dois leitores podiam não atremar nada do para aqui estou a dizer.

Mas isto de ficar sempre na babuginha não tem grande piada pelo que, sem cagufas nem chorricas mas ciente do risco de poder dar no porco, disse para mim mesmo: - anda, seu estepilha, até podes trambulhar mas abica-te assim mesmo! “

Adaptei para aqui um pequeno excerto de um discurso que fiz, há alguns anos, numa Conferência Anual de Turismo (CAT, para poupar caracteres), cujo tema foi “Marca”. Usámos, como imagem nos vários suportes criados um botão porque, como se sabe, em “madeirês”, marca quer dizer botão.

As formas de expressão são características dos povos. Existem outras, algumas bem mais importantes! No nosso caso, a história, a orografia, esta natureza que nos foi tão generosa. E as pessoas, nós todos e a nossa cultura singular, tão rica quanto a já mencionada natureza.

Uma marca deve ser isso, deve representar os nossos valores, os nossos princípios, a visão que temos e a missão que queremos prosseguir mas, sobretudo, deve estabelecer uma determinada forma de comunicar que assente nessa perspectiva do que somos e para onde queremos ir.

É um processo evolutivo, que deve espelhar aquilo em que nos transformámos e valorizar ao mesmo tempo o que conseguimos preservar enquanto produto turístico.

Tudo isto foi, na minha opinião, bem conseguido com esta nova marca Madeira. Que, atenção, não é um logo nem uma assinatura; essas são as representações simbólicas da entidade, que se espera permita identificá-la no futuro. E não, não me ouvirão dizer se gosto ou não gosto do resultado final; isso não me interessa nada nem tenho preparação para discutir estética.

O produto Madeira que eu gostava existisse orgulhar-se-ia das tais expressões únicas, que poucos hoje utilizam. Teria poios de bananeiras no meio da cidade. Ofereceria fruição em levadas e veredas isentas de alcatrão. Teria uma Estrada Monumental onde se conseguiria ver o mar. Valorizaria tradições, como os arrais. E teria estradas como a do véu da noiva.

Quisemos no entanto que o nosso destino fosse outra coisa e cuidámos de o esburacar com túneis, pontes e viadutos. Acrescentámos umas praias de areia amarela e fizemos marinas a eito, assim como frentes-mar umas iguais às outras; interessava era que ficassem lá bem umas palmeiras importadas, com brinde de escaravelho (que as inaugurações à época não permitiam cá quarentenas).

Ignorámos planos de ordenamento e demos cabo de zonas nobres da cidade do Funchal com edifícios com mais do dobro da volumetria permitida ou construções do tipo lego e, não contentes, agora queremos fazer “Dubais”. O Ronaldo é a referência maior, em detrimento do Vinho Madeira…

Com tudo isto, queríamos o quê? A Marca, esta Marca, reflecte bem o que hoje somos e o que temos vindo a fazer com o nosso produto. Pérola, já fomos; resta-nos a Madeira e só espero que saibamos trabalhá-la convenientemente. Todos!