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Para que se reflicta sobre a estrada das Ginjas

Há dias, por ocasião de uma pequena palestra que proferi na Escola Secundária Francisco Franco, referi que o maior atentado da era moderna sofrido pela floresta Laurisilva da Madeira, teria sido a abertura da estrada das Ginjas. Sem projecto, sem objectividade consistente, sem qualquer preocupação ambiental. Uma perfeita inutilidade a que lamentavelmente assisti.

Passaram-se mais de quarenta anos, a obra inútil lá continua. Parece-me também que algumas mentalidades até regrediram, ao invés de acompanharem o percurso evolutivo da sociedade, que entretanto soube alicerçar o Parque Natural da Madeira, a nível local, e o Património Mundial da Humanidade, a nível planetário.

O arquitecto paisagista Gonçalo Ribeiro Telles, sem sombra de dúvida o pai da moderna cultura ambiental e ecológica no nosso País, ao referir-se aos “novel” Estudos de Impacte Ambiental, e da forma como eram conduzidos em Portugal, referiu que os mesmos se tinham tornado no “logro do século”, entenda-se Séc. XX.

Passadas que estão duas décadas do Séc. XXI, constata-se que nada mudou neste aspecto. O Estudo elaborado para as Ginjas, mantém exactamente a mesma matriz branqueadora encomendada, para além da pobreza de conteúdos. Não aponta, como deveria, soluções alternativas, quando estas são condições obrigatórias em estudos desta natureza.

A solução alternativa que preconizamos, passa pela recuperação do Caminho Real nº 28, grandemente danificado quando da abertura da estrada, e pela regeneração natural da floresta circundante. Para que tal aconteça, deverá ser banida a circulação rodoviária de qualquer natureza, porque desnecessária. Se lhe for dada oportunidade, a vegetação rapidamente recuperará, mas parece que há certos políticos que não querem que aquela ferida cicatrize, o que seria bom para tudo e para todos.

Deveríamos orgulhar-nos do privilégio de a Madeira possuir a única floresta subtropical primária da Europa, e a maior e melhor preservada deste tipo no planeta. Não lhe faltam estatutos de protecção, regionais, nacionais, europeus e mundial, que justificam plenamente que a consideremos como um Santuário, sob protecção do Parque Natural da Madeira e de todos nós.

Sei que há pessoas inteligentes no Governo. Também sei que essas pessoas muito provavelmente concordam com o que aqui está escrito. Há pessoas que estão prisioneiras de si próprias… deixaram-se aprisionar. Têm dificuldade, ou talvez lhes falte audácia para deixarem de pensar erradamente pela cabeça dos outros.

O Dr. Rui Barreto e o seu CDS, personificam a incoerência e a violentação da consciência.

Também Judas atraiçoou Cristo, e na sua angústia, encontrou a sua libertação da forma mais desesperada.

Ninguém fica cá, ninguém leva nada de cá, apenas a consciência serena do que deixámos para os outros, para que usufruam como nós o fizemos ao que encontrámos, que perpetuámos e até melhorámos. É um sinal de humildade, de gratidão e de respeito para com a Natureza que nos deu esta floresta.