Artigos

Respeito e Cidadania

É impressionante o desespero de alguns em ano de eleições autárquicas

Guardo boas recordações dos meus tempos na Escola Salesiana que deixou marcas profundas na minha formação humana. Existia ali, de facto, algo muito forte que acaba sempre por unir, de uma forma especial e absolutamente extraordinária, antigos alunos que, mesmo não se tendo cruzado fisicamente no percurso escolar, a vida se encarregou de aproximar numa relação fraterna que perdura.

E foi precisamente à Escola Salesiana que o meu pensamento me fez recentemente regressar. Recordei as aulas de educação cívica do grande professor Rui Mendonça. Lembro-me de, naquela sala, termos todos cantado, de pé e de uma forma muito sentida, o hino de Portugal e o hino da Madeira. E, sempre que oiço o hino do nosso país e da nossa região, pareço voltar àquela sala e àqueles meus treze ou catorze anos de grande respeito pela nossa história e de enorme sede de cidadania e esperança no futuro.

Mas notícias recentes trouxeram-me especialmente à lembrança uma daquelas aulas de educação cívica, na qual simulámos um processo eleitoral. Um dos “candidatos” apresentou um programa sério, responsável, contido e rigoroso. O outro optou por um programa exuberante, mas muito pouco realista, tendo apresentado como principal medida a colocação de relva natural no campo da escola. A promessa teve grande impacto imediato e gerou uma euforia instantânea, mas todos sabíamos que era absolutamente desadequada e inconcretizável. Na realidade, vivemos aquele momento como vivíamos algumas divertidas peças encenadas pelo grande professor Fraga naquela antiga, e por vezes muito escura, sala de teatro.

O que não esperava é que, passados tantos anos, a realidade me pudesse surpreender com os mesmos momentos hilariantes. É impressionante o desespero de alguns em ano de eleições autárquicas. Perdem completamente a noção das suas atribuições e competências e saltam para um circo de promessas ridículas e manobras populistas menores, que apenas subestimam e desrespeitam o cidadão. É um festival de cimento e alcatrão em cima de tudo e por todos os cantos, sem critério, sem respeito e sem regras. É o arraial dos cabazes. São as câmaras e os holofotes sobre tudo o que pensam poder transformar em votos, numa insensibilidade e desrespeito tremendos. Como referiu o Papa Francisco na sua Carta Encíclica “Fratelli Tutti”, são “estratégias de contenção que só tranquilizam e transformam os pobres em seres domesticados e inofensivos. Como é triste ver que, por detrás de presumíveis obras altruístas, o outro é reduzido à passividade”. Representam o pior que a política pode ter e devem merecer sempre a nossa firme indignação.