Este é o lance capital que motiva críticas severas a Ronaldo.
Cristiano Ronaldo Desporto

Italianos não poupam "traição" de Ronaldo

Craque madeirense posto em causa por virar costas à bola batida por Sérgio Oliveira no segundo golo portista

Imprensa e comentadores criticam "erro imperdoável"

O mundo da bola está possesso com Cristiano Ronaldo. Sobretudo em Itália, país em que a eliminação da Juventus pelo FC Porto na Liga dos Campeões tem efeitos mais devastadores.

A imprensa nacional faz eco das críticas ao craque madeirense e mete em jogo comentadores, antigos jogadores, dirigentes e até o próprio treinador da Juventus.  A par de uma exibição desinspirada, o facto de Ronaldo ter virado as costas à bola no livre batido por Sérgio Oliveira e que dá o segundo golo portista é motivo de reparos.

Quem dá o mote é Andrea Pirlo que se manifestou incrédulo ao ver o comportamento de Ronaldo e companhia no livre que deu a qualificação aos dragões: "Escolhemos os jogadores que formam a barreira, mas nunca tinha acontecido isto, virarem as costas à bola. Foi um erro e, quando cometes erros na Liga dos Campeões, pagas caro."

Quem está na barreira não pode ter medo de ser atingido. É um erro imperdoável que não tem desculpas. Fabio Capello

O antigo treinador Fabio Capello não fez por menos, pois não só detecta um erro imperdoável, como critica o medo de Ronaldo. "O primeiro golo no primeiro jogo é uma oferta, há também um grande descuido no segundo... Certos golos não podem ser sofridos. O penálti desta noite é outra oferta. Demiral é muito ingênuo, cometeu um erro gravíssimo. Mas isto ainda é mais grave: Cristiano Ronaldo a saltar e a virar-se na barreira. Quem está na barreira não pode ter medo de ser atingido. É um erro imperdoável que não tem desculpas", afirmou o treinador italiano, no papel de comentador da Sky Sport Italia.

Alessandro Del Piero, antigo capitão da "vecchia signora", citado pela imprensa transalpina, refere que o CR7 "tem a sua responsabilidade", mas ressalva que "não é o único culpado".

"Foi, decididamente, um jogo demasiado moderado de Cristiano Ronaldo, ele tem a sua responsabilidade. É o líder desta equipa, mas ele não é o único culpado. A Juve jogou grande parte do tempo em superioridade numérica, têm de criar mais", assinalou Del Piero, apontando a "uma mudança" na equipa de Turim:

"Tem de haver uma mudança. Não nos cabe dizer o que precisa de mudar, mas evidentemente a Juventus precisa engolir isto, olhar para os aspetos positivos e concentrar-se na Serie A. Tem que haver uma reação. Tem que haver um momento de mudança", finalizou o antigo internacional italiano.

Neste contexto adverso, o director para o futebol da Juventus, Fabio Paratici, em vez de deitar água na fervura, alimenta a novela, ao abordar o futuro de Ronaldo no clube italiano: "O Cristiano tem a carreira na mão. Com estes grandes jogadores, sabemos que quando eles decidem terminar com uma equipa e ter outra experiência, são eles que decidem e tens de respeitar a decisão. Estamos aqui para cumprir o contrato. E ver como estará no próximo ano, como se sentirá, se para continuar ou não”.

Não admira que os jornais aproveitem tamanho manancial para dar maior dimensão às críticas.

"Traídos por Ronaldo", pode ler-se na primeira página da edição desta quarta-feira do ‘Corriere dello Sport’.

Já a 'Gazzetta dello Sport' deu ao internacional português a pior nota entre todos os jogadores da Juve e escreve que o avançado desiludiu e que cometeu um erro na barreira no golo de Sérgio Oliveira.

A imagem de desalento repete-se no Tuttosport e também em Espanha, Inglaterra e Portugal, como já revelamos na revista de imprensa nacional desta manhã.

A segunda queda consecutiva

Cristiano Ronaldo caiu nos oitavos de final da Liga dos Campeões pela segunda vez consecutiva, após uma eliminatória face ao FC Porto em que ficou em 'branco', em 210 minutos.

Na 17.ª presença nesta fase da prova, o 'capitão' da seleção nacional, de 36 anos, foi incapaz de comandar a Juventus ao apuramento, somando novo fracasso pela equipa italiana, que o contratou com a ilusão de chegar ao terceiro cetro europeu.

Depois da eliminação face ao Ajax, nos quartos de final de 2018/19, e ao Lyon, nos 'oitavos' de 2019/20, a terceira tentativa saiu terça-feira 'furada', em mais um duelo que a Juventus perdeu em Turim, desta vez com um insuficiente 3-2, após prolongamento, após o desaire por 2-1 no Dragão.

Além das três presenças nesta fase pela eneacampeã italiana, o internacional luso somou cinco pelo Manchester United (2003/04 a 2008/09) e nove pelo Real Madrid (2009/10 a 2017/18), sendo que só falhou em 2005/06, por 'culpa' do Benfica.

Curiosamente, os 'dragões' foram o primeiro adversário de Ronaldo, em 2003/04, e afastaram o jogador português, que no conjunto dos dois jogos (derrota por 2-1 no Dragão e empate 1- em Old Trafford), apenas esteve em campo 22 minutos. Os comandados de José Mourinho viriam a conquistar o título.

Às duas eliminações face ao FC Porto, o jogador português só junta mais três, uma com o AC Milan, em 2004/05, e duas face ao Lyon, em 2009/10 e 2019/20.

Na época passada, num confronto atípico, os gauleses venceram em casa por 1-0, em 26 de fevereiro de 2020, e perderam por 2-1 em Turim, quase meio ano depois, em 07 de agosto, sobrevivendo a um 'bis' do internacional português.

Com os dois golos aos gauleses, Ronaldo passou a somar 25 nos oitavos de final, apenas menos três do que o recordista nesta fase, o argentino Lionel Messi, do FC Barcelona, que contabiliza 28 golos, em 31 encontros.

O 'bis' ao Lyon acabou, no entanto, por nada valer, ao contrário da maior parte dos seus outros golos, já que Cristiano Ronaldo ultrapassou por 12 vezes os oitavos de final.

Pelo Manchester United, e depois de ser afastado por FC Porto e AC Milan, ajudou a eliminar o Lille (2006/07), o Lyon (2007/08), ao qual marcou um golo, e o Inter de Milão (2008/09), numa eliminatória em que também marcou um tento.

A 'avalancha' de golos surgiu com a mudança para o Real Madrid, clube do qual se tornou, em apenas nove anos, o melhor marcador, à média de mais do que um por jogo: foram 451, em apenas 438 encontros, no que será o registo mais espantoso da sua carreira.

Pelos 'merengues', só caiu nos 'oitavos' na estreia, face ao Lyon, apesar de ter marcado um golo. Na época 2009/10, ficou em 'branco', mas qualificou-se.

Nas épocas seguintes, marcou três ao CSKA Moscovo (2011/12), dois ao Manchester United (2012/13), sete ao Schalke 04 (quatro em 2013/14 e três em 2014/15), dois à Roma (2015/16) e três ao Paris Saint-Germain (2017/18), depois de, para 'desenjoar', não ter faturado perante o Nápoles (2016/17).

A sua saga goleadora manteve-se na 'Juve', com três golos ao Atlético de Madrid, para virar em Turim (3-0) o 0-2 do Wanda, e dois ao Lyon, novamente em Itália, mas, desta vez, insuficientes para colocar o campeão transalpino nos 'quartos'.

Em 2020/21, o adversário foi, 17 anos depois, o FC Porto e Ronaldo não 'saiu' dos 25 golos nos 'oitavos', agora em 34 jogos, para um total de 134 na Liga dos Campeões (desde 1992/93), em 176 embates, não contando as pré-eliminatórias.

O jogador luso é, destacado, o melhor marcador da competição, com mais 15 golos do que Lionel Messi (148 jogos), e está a um passo de se tornar o jogador com mais presenças, uma vez que ficou a apenas uma do ex-guarda-redes portista Iker Casillas. Vai ter de esperar pela época 2021/22.