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Previsões meteorológicas: retrospetiva histórica e perspetivas futuras

Em 2007 com financiamento da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), desenvolvemos o primeiro sistema de previsão meteorológica da Madeira à escala local. O projeto gerido na Universidade da Madeira disponibilizava as previsões através de uma página internet construída para o efeito (http://wakes.uma.pt). Em fevereiro de 2010, o sistema previa um excesso de pluviosidade a cair no Arieiro, que acabou por se revelar numa tragédia. Apesar de pouco consequente, uma vez que as nossas previsões só chegavam a uma população muito diminuta, os resultados deram-nos ímpeto para continuar o trabalho, alargando a distribuição através de uma aplicação móvel ‘MadeiraWeather’, disponível ao público em 2013, com previsões horárias para cada freguesia, renovadas diariamente para os 3 dias seguintes.

O desenvolvimento do sistema de modelos meteorológicos à escala local tem sido acompanhado por vários trabalhos de investigação. No sentido de apurar a validade das previsões, durante Agosto e Setembro de 2010 levámos a cabo uma campanha (I-WAKE) para recolha de medidas com recurso a uma aeronave da ‘Meteo France’, com financiamento do programa EUFAR (‘European Facility for Airborne Research’). Desde então, vários trabalhos em cooperação com equipas internacionais têm sido publicados e validados na literatura científica.

A disponibilidade do Instituto Português para o Mar e para a Atmosfera (IPMA) para colaborar tem sido total. Para além de dar livre acesso às medidas recolhidas através da rede de estações meteorológicas, o IPMA tem vindo a melhorar o seu sistema de previsão operacional para a Madeira, com o aumento do detalhe calculado pelos modelos de previsão, bem como com o melhoramento da qualidade das medidas, durante os últimos 10 anos. É importante notar que o IPMA é uma instituição de índole nacional, com uma equipa de pequenas dimensões na Região. Isto deve-se às limitações impostas no recrutamento, bem como na falta de atratividade para sediar novos técnicos na Região

Vangloriamos tanto a Autonomia, mas em algumas matérias dependemos sobretudo das entidades Nacionais para encontrar todas as respostas e todas as soluções para assuntos tão fundamentais e tão estruturantes para a salvaguarda dos interesses da Região. Não é aceitável, temos de fazer a nossa cota parte.

Muito recentemente (2019), a nossa equipa de investigação, sediada no Observatório Oceânico da Madeira (http://oom.arditi.pt), no seio da ARDITI, foi convidada a participar no Projeto MACLIMA liderado pela Secretaria Regional de Ambiente, Recursos Naturais e Alterações Climáticas (SRAAC), com o objetivo de dar continuidade ao desenvolvimento dos nossos modelos de previsão, agora com uma perspetiva orográfica, de forma a podermos resolver com mais detalhe (50m) os fenómenos das brisas marítimas e dos ventos de montanha, que normalmente afetam a expansão dos fogos florestais e/ou o funcionamento do aeroporto da Madeira, ou até mesmo o clima urbano da cidade do Funchal. A Madeira tem-se revelado um laboratório natural para o estudo destes fenómenos orográficos complexos. Os conhecimentos aqui adquiridos, podem vir a ser aplicados noutras regiões montanhosas.

Mais uma vez, o IPMA disponibilizou-se para cooperar e juntando o orçamento de vários projetos, prevemos medir alguns fenómenos que surgem da interação das montanhas com os ventos. Torres de 30m de altura instrumentadas com sensores meteorológicos instaladas ao longo da montanha, serão aliadas a um sistema radar (LIDAR), que usa a luz refletida pelas partículas em suspensão no ar (aerossóis) para estimar a direção e a velocidade do vento, algo pioneiro em Portugal.

Os resultados destes projetos podem colocar a Região na vanguarda do desenvolvimento dos sistemas de previsão para zonas montanhosas, atualmente incipiente. A nossa contribuição depende da consolidação de um grupo de investigação nesta temática na Região, atraindo mais cientistas e mais investimento internacional.

A prazo a Madeira poderá beneficiar, bem como exportar conhecimento num assunto tão importante e tão relevante para a salvaguarda das vidas e dos bens das populações montanhosas da Europa e do Mundo. As aprendizagens suscitadas pelo estudo de eventos passados podem ajudar a prever melhor o futuro, façamos a nossa parte!

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