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Ninguém tem culpa

A aflição não pode tirar a quem governa o respeito por quem está Cansado de viver assim

Sendo óbvio que a atual realidade exige estratégias especiais de controlo dos comportamentos sociais temos observado, com frequência, um desajuste e inadequação no discurso de governantes e responsáveis dos serviços de saúde face às medidas que pretendem implementar.

O discurso de disseminação das mensagens surgem, na maioria dos casos, carregado de pedagogia infantil e de criticas severas, com humor sarcástico, que em nada facilitam os objetivos que aparentemente pretendem atingir.

Se não sabem, seria melhor ouvir quem sabe e não desatar a encaixar no discurso sermões ridiculos e despropositados ou humor sem humorista. Para isso há quem o faça com muito mais qualidade.

Os portugueses não são estúpidos, muito menos incapazes de pensar, refletir e analisar. Se alguém tem falhado em toda esta crise, tem sido óbviamente os dirigentes dos serviços de saúde e os governantes na forma como vão apresentando as soluções, sempre em jeito de sugestão, muitas vezes com erros graves e falsas conclusões. Uma tentativa de responsabilizar os outros desresponsabilizando-se a si próprios.

Não aprendemos a viver assim, independentemente da idade e da classe social. Vivemos há muito, para o bem de todos, em democracia, por isso num momento de crise tão profundo e ameaçador é natural que existam divergências e diferenças de opinião que precisam ser ouvidas e respeitadas.

Nada contra as novas regras e exigências sociais, que se impoêm, mas cautela no estilo como se colocam e na forma mesquinha como por vezes, usando a hierarquia do poder, se humilha quem se preocupa, sofre, ou simplesmente pensa diferente.

Nem todos vivem nas melhores condições de habitabilidade, com os mais velhos a usufruir do conforto merecido e os mais novos a entediar em casas com quartos próprios e jardins virados para o mar. Há muita vida para além do mais fácil de entender. Pequenos almoços festivos, pouco tempo sentado à mesa, com espaço para confraternizar nas salas contíguas, troca de compotas nos quintais, adolescentes e jovens adultos, que testaram negativo, coitadinhos, fechados em casa à espera do segundo ou terceiro teste, não é real nem solução para o problema. Acredito que estejam desesperados, estamos todos.

Temos tido muita paciência com as dificuldades do estado português em lidar com a pandemia. Percebemos, porque não somos burros, que se o sistema de saúde e o sistema social tivessem tido outro pensamento e investimento, hoje não estavamos tão aflitos. Por isso se os governantes se protegem das criticas atravês da imprevisibilidade do vírus, são obrigados a ter a mesma leitura para os pequenos erros de uma sociedade que vive quase há um ano em contranatura.

Demagogia, escárnio e infantilidade/imbecilidade, não encaixam nesta realidade. Estamos todos aflitos, mas a aflição não pode tirar a quem governa o respeito e o discernimento por quem está cansado de viver assim. Ninguém tem culpa.

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