Maria José Correia, década de 2000. Foto do site https://www.biografiasdamadeira.com/ de Paulo Camacho.
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Mariazinha Padeira - Rua de Santa Maria

Mariazinha, que ainda muito jovem e com grande esforço se lança no negócio das padarias, deixa um legado de trabalho, criatividade e empreendedorismo, sendo hoje reconhecida como uma das mais dinâmicas empresárias do Funchal

A história de Maria José de Sousa, a popular Mariazinha Padeira, e da padaria que viria a ganhar o seu nome, começa precisamente no mesmo ano de 1936, nessa conturbada década de 1930, na ressaca da queda da bolsa de Nova Iorque, da falência do Banco Figueira da Silva, das Revoluções da Farinha e da Madeira, num Funchal que começava finalmente a ver a luz ao fundo do túnel com a gestão de Fernão de Ornelas.

Em junho de 1936, Manuel de Sousa Júnior, padeiro e natural do Estreito de Câmara de Lobos, obtém do Ministério do Comércio e Indústria o alvará para exploração do forno de padaria, sito à rua de Santa Maria, n.º 157, em pleno coração da que viria a ser designada, mais tarde, a Zona Velha do Funchal. E a 17 de dezembro do mesmo ano, no sítio dos Louros, em São Gonçalo, nasce Mariazinha. Após uma infância difícil, sem poder continuar os estudos além da escola primária, começa aos 16 anos a trabalhar na padaria onde o pai era sócio, na Rua de Santa Maria. Pai e filha trabalham arduamente no resgate do negócio, então à beira da falência, conseguindo comprar a parte ao outro sócio e formando, em 1955, uma nova sociedade, entre pai e filha, materializada na histórica padaria da Rua de Santa Maria, agora com o nome alterado para “Padaria Mariazinha”, e com Maria José assumindo-se pessoalmente como a imagem da marca.  

Os primeiros anos de trabalho foram particularmente duros, cabendo-lhe, entre outras, a perigosa e cansativa tarefa de distribuir pão pela cidade durante a noite, de saca às costas e sem carro de apoio. Exemplo de um dos muitos perigos por que passou aconteceu numa noite, em que de saca às costas, vinda de casa, seguia na sombra de outro vulto, que carregava adiante um cacho de bananas, esperando ter mais protecção caso surgissem ladrões ou malfeitores. Só quando surge um polícia e o homem foge esbaforido é que Mariazinha se apercebe que, afinal, seguia atrás do próprio ladrão. 

Após a morte do pai, assume sozinha as rédeas da empresa, comprando aos poucos, e com muita dificuldade, as partes dos outros sócios. A qualidade do pão, e a inovação que introduziu durante a década de 1960, proporcionando pão quente a qualquer hora do dia, valeram-lhe a prosperidade, permitindo a compra da padaria “Brasileira”, no Chão da Loba, e mais tarde a abertura de uma outra padaria no Transval.

Em 1977, com três padarias, duas das quais geridas pelos filhos, aposta na consolidação e diversificação do negócio, começando por adquirir o prédio histórico onde funciona a padaria da Rua de Santa Maria. Em 1987, tornou-se proprietária de todo o conjunto actual, incluindo outro edifício limítrofe ao da padaria, ambos consideravelmente degradados. Em 1997 têm início as obras de recuperação dos imóveis, inaugurando em 2002 uma requintada residencial de nove quartos e suite.

Das críticas iniciais ao facto de ser mulher e trabalhar fora de casa, passou ao reconhecimento social, vindo a receber, por ocasião das comemorações do 10 de junho de 2000, a Medalha da Ordem de Mérito, outorgada pelo Presidente da República Portuguesa. Veio a falecer em abril de 2011, deixando um legado de trabalho, criatividade e empreendedorismo, sendo hoje reconhecida como uma das mais dinâmicas empresárias que o Funchal conheceu.

 Atribuição de fotografia #1, #3, #4, #5 e #6: PESP / Wikimedia CC-BY-SA 4.0
 Atribuição de fotografia #2: https://www.biografiasdamadeira.com/ de Paulo Camacho.

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