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Crónica de uma pandemia anunciada

Após um longo período de confinamento, as férias de verão fizeram-nos reviver um belo período de alguma “normalidade”. Isto aconteceu um pouco por toda a Europa, nomeadamente em Itália (que teve um primeiro pico pandémico com graves consequências), em Espanha, França e Inglaterra. O regresso às rotinas diárias trouxe a inevitável proximidade social, não pela nossa incapacidade de cumprir regras, mas porque o distanciamento torna-se improvável quando voltamos à escola, vamos trabalhar, usamos transportes públicos, ou fazemos todas aquelas atividades lúdicas ou desportivas cujo distanciamento social é praticamente impossível, tanto pela natureza da própria atividade como por limitações das infraestruturas e meios disponíveis.

Assim, uma segunda onda de COVID-19 de maior impacto, era realmente expectável e já está em plena evolução!

Além de todos os problemas na saúde pública que esta segunda onda nos está a trazer, o contexto económico é também muito desafiante. Neste momento, todos os governos europeus estão a tentar equilibrar os pratos da balança entre o controlo da pandemia e a minimização do impacto económico que a contenção da doença provoca. A verdade é que não existem fórmulas mágicas capazes de controlar a pandemia sem uma quebra real no rendimento das empresas e das famílias. As medidas que vão sendo adotadas um pouco por toda a Europa são muito desiguais porque refletem os diferentes níveis de solidez das finanças e a resiliência da economia de cada país. No entanto, podemos estar certos de duas coisas: não existem casos de sucesso; e o impacto negativo a nível social é um fator comum e transversal, porque todos os europeus continuarão prisioneiros de um inimigo invisível, que até nem nos pode deixar doentes, mas pode fazer de nós veículos de um vírus que deixa sequelas e pode matar.

A Madeira, por ser uma economia pequena e muito dependente do exterior enfrenta dificuldades acrescidas. Quando a curva epidemiológica entrar numa fase crescente, o rótulo de “destino seguro” deixará de fazer sentido e a contração na procura do destino será inevitável. Por outro lado, a situação epidemiológica dos países que compram o destino Madeira também irá condicionar a procura, sendo que este duplo efeito é o que caracterizará a segunda onda. Nos principais mercados para o nosso destino, cresce a pressão para que a população limite as viagens ao estritamente necessário e em muitos casos para o regresso a um novo confinamento geral. Tudo isto resultará numa degradação da nossa economia, pelo que indicadores mais recentes apontam para uma recessão histórica com variações negativas no PIB na casa das dezenas, e para um retrocesso nas exportações a níveis de 2014. O investimento privado também irá cair como consequência do aumento da incerteza relativamente à taxa de retorno dos investimentos.

Em Portugal, e particularmente na Madeira, esta crise sanitária colocou em evidência a necessidade de revermos o nosso modelo económico. A definição de novas vantagens competitivas têm de ser reavaliadas e redefinidas por forma a garantir um modelo económico que garanta um crescimento sólido de longo prazo. É necessária uma mudança profunda no mindset dos nossos decisores políticos, porque ficou claro que o Turismo é um sector altamente vulnerável a este tipo de choque e por isso insuficiente como base de um modelo de crescimento económico que se pretende resiliente!

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