Será que houve sucessivas promessas de reabilitação da Matur, que ficaram por cumprir?
Ontem, numa publicação no Facebook, a líder nacional do PTP, Raquel Coelho, confessou-se “triste” com o estado de degradação em que se encontra o antigo complexo turístico da Matur, em Água de Pena, Machico. Uma foto da antiga piscina do hotel Atlantis, hoje vazia e alvo de vandalismo, acompanha o texto da também candidata autárquica, que garante que “mandato após mandato as promessas repetem-se para recuperação e investimento privado no local mas não saímos deste impasse”. Será que tem sido mesmo assim?
O complexo turístico da Matur foi um arrojado projecto do grupo Grão-Pará. Dele faziam parte um hotel da cadeia internacional Holiday Inn, apartamentos turísticos, uma piscina olímpica, discoteca, instalações para congressos, clube de bridge, restaurante, bares, ginásio e jardins. A unidade hoteleira (baptizada de Atlantis) foi inaugurada em 21 de Novembro de 1972, pelo Presidente da República Américo Thomaz. O empreendimento foi considerado a primeira cidade turística da Madeira e teve grande impacto na economia do concelho, mas a sua operação esteve longe de ser considerada um sucesso.
Com o projecto de ampliação do aeroporto da Madeira, o hotel passou a estar numa área de segurança e a sua actividade tornou-se inviável. Em 31 de Janeiro de 1995, o Atlantis deixou de receber hóspedes. A 28 de Março de 2000 foi demolido. Desde essa altura, aquela área e as infraestruturas privadas ficaram numa situação de impasse. Alguns imóveis passaram a ser propriedade do BES e outros têm sido colocados à venda. Os sinais de abandono têm sido denunciados ao longo dos anos, desde a acumulação de lixo aos actos de vandalismo das infraestruturas, caso das piscinas. Já foram equacionados vários cenários para a recuperação daquele complexo.
Em vésperas das eleições autárquicas de 16 de Dezembro de 2001, o candidato social-democrata Emanuel Gomes (que veio a tornar-se presidente da Câmara de Machico) elegeu a a reactivação do complexo da Matur como uma ‘bandeira’ da sua lista. Prometia reconverter o núcleo habitacional existente no local e revitalizar aquele espaço para habitação, comércio e sobretudo para divertimentos. Por sua vez, a reactivação da piscina olímpica constava do programa eleitoral do PS, cuja lista era encabeçada por Bernardo Martins.
Nas eleições de 9 de Outubro de 2005, as promessas foram mais comedidas. O então presidente da Câmara de Machico, que se recandidatava ao cargo, lembrou que estavam em fase de conclusão/reconversão 42 fogos de habitação social e disse que ia avançar a reconstrução de mais alguns apartamentos do complexo da Matur.
Nos meses que antecederam as eleições de 11 de Outubro de 2009 entrou em cena a empresa continental Redeloeste, que tinham adquirido alguns terrenos na Matur e anunciou um investimento superior a 30 milhões de euros. Os seus planos passavam pela construção de um empreendimento imobiliário para a antiga piscina olímpica, moradias de luxo no terreno junto ao miradouro e um parque de recreio, passadiço para observação de aviões (‘plane spotting’) e zonas verdes no espaço onde existiu o Hotel Atlantis, este último a lançar pela Secretaria Regional do Equipamento Social. O então secretário Santos Costa confirmou o projecto público, cuja grande atracção seria uma aldeia infantil (baloiços, redes de trepar e escorregas) e, para os adultos, uma parede de escalada, um ringue de patinagem, um parque de skate e uma pirâmide em rede. Nas zonas verdes, iriam nascer um anfiteatro e cafetaria/esplanada. O projecto estaria em fase de apreciação na Câmara de Machico e deveria ser aprovado no prazo de dois meses. “Está praticamente pronto. Falta pedir o parecer das entidades externas e estará em condições de ser aprovado” disse António Olim, vereador com o pelouro das obras públicas e particulares.
O projecto ‘Matur Living Park’ deveria estar concluído no final de 2010. A verdade é que em Julho de 2011 o DIÁRIO noticiava que estava tudo parado, no que “resultou numa desilusão para os moradores locais, em especial alguns dos que adquiriram apartamentos e moradias ao promotor da iniciativa, a empresa ‘Redeloeste - Construções’, sediada em Torres Vedras. O vice-presidente da Câmara, António Olim, assumiu que foram apresentados estudos prévios e projectos para aqueles lotes, mas que o processo ficou por aí. Já Paulo Ferreira, gerente da empresa, admitiu que os projectos estavam parados foi falta de verbas.
Por sua vez, a ideia do parque de recreio lançada pela Secretaria Regional do Equipamento Social foi substituída por outra da Secretaria do Ambiente e Recursos Naturais: o espaço foi aproveitado para viveiro de plantas.
A duas semanas das eleições autárquicas de 1 de Outubro de 2017 entrou em cena outro protagonista, com outra ideia. Na inauguração do edifício Tamariz, no Caniço, cuja obra esteve parada durante anos por insolvência da primeira promotora, o empresário madeirense do ramo imobiliário Paulo Nóbrega anunciou que iria apresentar naquele mesmo ano um plano para a revitalização da Matur que incluía um empreendimento hoteleiro para a área junto da antiga piscina olímpica, com o qual pretendia “devolver o encanto de outros tempos” naquela zona de Machico. O projecto entregue na autarquia previa a edificação de um hotel, de uma zona habitacional por trás do miradouro, além de uma área de campismo de luxo. A ideia esbarrou num parecer negativo das autoridades aeronáuticas, devido à altura de algumas das edificações previstas.
Já à beira das eleições autárquicas de 16 de Setembro de 2021, o presidente do executivo municipal Ricardo Franco (PS) deu uma entrevista ao DIÁRIO a anunciar: “Em relação à Matur haverá boas novidades brevemente. A câmara tem feito contactos com empresários e investidores para captar investimento para Machico”. Revelou que deu entrada na Câmara um “projecto fantástico” para fazer um complexo turístico, composto por hotel, área habitacional e zona de campismo de luxo. “Vamos aproveitar para promover ali um plano de pormenor e reabilitar aquela zona”, acrescentou.
Por fim, já no decorrer da campanha para as eleições autárquicas deste ano, o cabeça-de-lista socialista Hugo Marques assumiu o compromisso de transformar o loteamento da Matu em zona habitacional, indo ao encontro das pretensões dos proprietários das casas ali existentes.
Por este conjunto de ideias, projectos e planos apresentados ao longo dos últimos 24 anos, todos ainda por concretizar, concluiu-se que efectivamente “mandato após mandato as promessas repetem-se para recuperação e investimento privado no local”, mas que o impasse continua.