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Setembro não será apenas o mês das mudanças

A 12 de setembro o Dr. Miguel Albuquerque terá de promover ajustamentos inevitáveis na composição do seu Governo Regional. Não será apenas um exercício de remendo, mas uma verdadeira restruturação num Executivo que, apesar de ter ainda pouco tempo de vida, se vê confrontado com saídas determinantes e com a necessidade de reencontrar um rumo. A razão imediata prende-se com a candidatura do Dr. Jorge Carvalho à Câmara Municipal do Funchal. A escolha é feliz e merece ser sublinhada. Jorge Carvalho jamais deveria ser visto como uma segunda opção. É, de facto, uma primeira escolha com experiência política sólida, alicerçada não apenas na sua passagem pela presidência da Junta de Freguesia de S. Gonçalo, mas sobretudo no trajeto como membro do Governo Regional. Durante anos soube gerir com equilíbrio a pasta da Educação, sector sempre exigente e propenso a polémicas, mantendo uma capacidade rara de ser consensual dentro da secretaria e junto do próprio Governo. A coordenação política que assumiu, em momentos complexos, é prova do seu perfil de diálogo, de firmeza e de ponderação.

A sua saída cria, no entanto, um vazio e um desafio. Quem vier a suceder-lhe não pode ser apenas uma imitação. Terá de afirmar um cunho pessoal, imprimir marca própria e renovar uma área essencial para a coesão social e para o futuro da Madeira. A Educação não admite estagnação; exige novas respostas e coragem reformista com vista a um futuro.

Simultaneamente, a saída do Diretor Regional de Educação, e a reforma do meu bom amigo Dr. Jorge de Freitas abrem portas a uma reconfiguração mais ampla. Estas mudanças não devem ser vistas como fardo, mas antes como uma rara oportunidade para rejuvenescer a máquina governativa, trazendo para a liderança regional o melhor dos quadros disponíveis. A substituição e reorganização de direções regionais é um momento para olhar fora da caixa, para ir além das soluções habituais e apostar também no recrutamento de pessoas da sociedade civil. Só assim será possível imprimir um novo fôlego de dinamismo, desejando maior rentabilidade e melhor capacidade de resposta aos desafios – tanto os de sempre como os que agora se desenham. O dossiê da Administração dos Serviços da Justiça, sendo esta uma pasta partilhada com o Governo da República, a autonomia não é a desejada, mas apenas a possível. Ainda assim, não se pode ignorar o muito que há por fazer: a crónica falta de pessoal, os sistemas informáticos arcaicos, a redução no atendimento ao público e a incapacidade de dar resposta célere às necessidades da comunidade. É justo reconhecer e elogiar os profissionais que lá trabalham, muitas vezes em condições adversas, garantindo com esforço e dedicação para que o sistema não colapse. Mas também é justo e imperioso exigir mais investimento, mais visão e sobretudo mais respeito pelo serviço público.

O desafio de Miguel Albuquerque será, pois, escolher com ponderação. Não basta colmatar saídas; é preciso aproveitar a ocasião para remodelar e fortalecer. Há sempre uma tendência para se ver a substituição de governantes e diretores como momentos de crise. Talvez seja altura de inverter essa perceção: são, antes de mais, oportunidades de reformar, agregar talento e projetar o futuro.

O GR entra agora numa fase em que a escolha das pessoas fará toda a diferença para o futuro, principalmente nos quadros intermédios. A estabilidade política só se garante com equipas fortes, competentes e criativas. A candidatura de Jorge Carvalho ao Funchal é uma aposta de peso. A reorganização das secretarias e direções, se bem conduzida, pode ser um passo em frente para um Governo que precisa de afirmar ainda mais a sua energia, frescura e ambição. Setembro não será apenas o mês das mudanças: pode e deve ser o mês das oportunidades