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Mortágua pede partido "mais forte" e avisa "direita caceteira" que "não se livra" dos bloquistas

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FOTO JOSE SENA GOULAO/LUSA  

A coordenadora nacional cessante do BE, Mariana Mortágua, avisou hoje que a "direita radicalizada e caceteira" não se livra dos bloquistas, num discurso no qual defendeu mudanças internas sem que o partido abdique das suas causas.  

"Daqui garanto a toda a direita radicalizada e caceteira: não se livram de nós. Estamos aqui para lutar, somos o povo da liberdade, estamos aqui para vencer, não se livram de nós", avisou Mariana Mortágua, no seu discurso de abertura da 14.ª Convenção Nacional do partido que arranca hoje no pavilhão do Casal Vistoso, em Lisboa.

Na sua intervenção de despedida como coordenadora, Mortágua considerou que para responder ao "ataque" da direita, o BE "aprenderá, mudará e crescerá", construindo um partido "de comunidade e uma militância com espaços permanentes", criando "unidade na luta".

"Estamos na barricada da classe trabalhadora pela cultura aberta, pela solidariedade, pelo direito à diferença, pela igualdade entre homens e mulheres, pelo direito à segurança social, pelo direito a cuidar e a ser cuidado em cada fase, em cada momento das nossas vidas. E fazemo-lo porque sabemos que é possível, que o socialismo é a política da esperança", advogou.

Durante a sua intervenção, Mortágua também falou para dentro, avisando que o BE "tem de ser mais forte e tem de recuperar".

"E para crescer temos de aprender e temos de mudar. O mundo mudou, a política mudou. E o Bloco tem de mudar quase tudo. E quase tudo não é demais", alertou.

A deputada salientou que o partido só não pode mudar "a fibra" de que é feito - lembrando causas como o feminismo ou a luta contra o racismo - "porque nestes tempos quem não tiver uma âncora forte vai ser arrastado pela corrente".

Durante cerca de 10 minutos, Mariana Mortágua definiu o BE como o partido da "combatividade" e da "firmeza na luta política".

"Somos insubmissas e desobedientes. Ao longo dos anos obrigámo-los a olhar de frente as mulheres, todas as mulheres: as que exigem respeito pelos seus direitos reprodutivos e que não recuam no direito ao aborto. As que falam alto, as que sabem que a vida é delas, as que lutam e que se recusam a remeter-se a um lugar que não escolheram", realçou.

Afirmando que os bloquistas "sabem quem são", Mortágua lembrou ainda uma outra bandeira do BE, o antirracismo.

"Rompemos, ao longo destes anos, silêncios de gelo com uma simples pergunta que mais ninguém se atreveu a fazer: se em Portugal não há racismo, então porque é que continuam a matar negros em bairros pobres como fizeram com Odair Moniz? E a espancar impunemente como fizeram com Cláudia Simões?", questionou.

Mortágua avisou que "quase todas as batalhas estão por travar", mas confessou já ter saboreado "um bocadinho, um pouco, do travo da missão cumprida por saber que o Fundo Público de Pensões recebeu mais de mil milhões vindos do imposto adicional sobre o imobiliário de luxo", cunhado com o seu apelido "e que a direita ainda não conseguiu reverter".

A deputada lembrou também os 335,2 milhões de euros de impostos que a EDP foi obrigada a pagar ao Estado português pela venda de seis barragens à Engie.

"Valeu a pena. Vale a pena", afirmou.

Apontando à extrema-direita, Mortágua rejeitou as suas intenções de acabar com a corrupção, considerando que "eles são os cães de guarda do regime económico".

"A extrema-direita não é o fim do privilégio e da corrupção, ela é na verdade a sétima vida desse regime, desse sistema, a pior versão de todas as misérias e violências da sociedade", criticou.

Mortágua realçou que "o truque mais antigo do autoritarismo é a invenção do seu inimigo próprio", alertando que a extrema-direita usa os imigrantes como bode expiatório para prejudicar "a classe trabalhadora" e proteger "a oligarquia".

Mariana Mortágua disse esperar que os bloquistas procurem "as perguntas certas", definam prioridades e alianças, pedindo uma "convenção clarificadora" para um "novo impulso à esquerda" em Portugal.