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Música e Arquitectura

Música e Arquitectura partilham o mesmo carácter inexoravelmente abstracto

Consta que quando Goethe afirmou que “arquitectura é música congelada e música é arquitectura líquida” estaria a pensar nas imponentes catedrais do gótico alemão. É sabido quão distintas são as estas duas artes: a Arquitectura é, antes de mais, adequação de um espaço a uma actividade – ditame funcional que inevitavelmente a condiciona; a Música, pelo contrário, surge-nos como a mais livre e imaterial de todas as artes, pura expressão das emoções humanas.

Dito isto, é preciso não esquecer que, ao contrário, por exemplo, da pintura, da escultura, ou do cinema, Música e Arquitectura partilham o mesmo carácter inexoravelmente abstracto, isto é, nada representam senão a si próprias. Ambas possuem, todavia, o poder de nos emocionar e até o de influenciar o movimento do nosso próprio corpo: a arquitectura pela forma como condiciona a nossa deslocação no espaço e a música por estar na origem dessa outra arte a que chamamos dança.

Vêm estas considerações a propósito do memorável acontecimento musical que teve recentemente lugar no Funchal: o XXXVII Festival de Música da Madeira. A convite da Dr.ª Vanda França, presidente da Associação Notas e Sinfonias Atlânticas, tive o privilégio de nele poder participar proferindo, antes do início do concerto de encerramento, algumas palavras sobre a arquitectura da sala onde este decorreu: a sala de congressos que integra o complexo do hotel e casino desenhados por Oscar Niemeyer. Tratou-se de uma excelente oportunidade para pôr em destaque o que de melhor a Região pode apresentar no domínio da Música e da Arquitectura: a Orquestra Clássica da Madeira e a obra do famoso arquitecto brasileiro.

Creio, todavia, que o ponto alto do festival foi atingido no concerto de abertura, que teve lugar na Sé do Funchal: a interpretação do Réquiem de Mozart numa catedral gótica! Nunca será demais louvar a entrega dos músicos que o interpretaram nem a do arquitecto a quem devemos o deslumbrante tecto de alfarge que refulgia nas alturas. Um espectáculo inesquecível: a magnífica harmonia dos sons e das formas – Música e Arquitectura vibrando em uníssono.