À mulher de César, não basta ser. Tem de o parecer

A minha geração, literalmente, viveu e testemunhou mais do que qualquer outra em todas as dimensões da vida. Podemos dizer que vivemos em dois séculos diferentes e que assistimos à mudança de milénio. Fomo-nos adaptando às mudanças à medida da vertiginosa evolução/revolução tecnológica e deixando para trás quase tudo o que hoje, na era da Inteligência Artificial, é considerado obsoleto.

Porém, por maiores e mais relevantes mudanças a que se assista, há algo que continuará intemporal, transversal a todas as gerações e a todas as eras-o Respeito por si próprio e sobretudo pelo outro.

Já sou, como depreendem, muito antiga (não antiquada) e não tenho nem pretendo ensinar nada a quem quer que seja. Pelo contrário, sou eu que aprendo todos os dias. Sei que posso ferir susceptibilidades fazendo uso da minha opinião, que vale o que vale, porque as asneiras podem ser feitas mas as verdades não podem ser ditas. A quem servir a carapuça que a ponha.

Por força da nossa actividade profissional, normalmente ao serviço do outro, são-nos atribuídos direitos, mas também obrigações, que não podemos escamotear sob pena de virmos a lesar material e ou pessoalmente quem, directa ou indirectamente, espera de nós um desempenho com lisura, competência, consideração, lealdade e respeito pelas funções que nos foram confiadas e que até jurámos cumprir .

Não é aceitável responder com sobranceria e frieza, até com alguma hostilidade ao apelo de alguém fragilizado, seja por que motivo for, menos ainda em situação de aparente sofrimento, só porque somos donos do poder que nos foi legitimado, é certo, mas que muitas vezes nos provoca a cegueira.

Há que saber definir prioridades, saber colocar-se no lugar do outro que, não sendo obrigatório, não deixa de ser o mais correcto num contexto onde é possível mitgar ou suprimir algum desconforto emocional. É fundamental discernir o essencial do acessório para que se evitem constrangimentos desnecessários.

Não são os lugares que fazem as pessoas. São as pessoas que fazem os lugares .E são as pessoas (algumas) que pela sua postura e código de conduta em sociedade descredibilizam os lugares que ocupam. São as suas atitudes que afastam ao invés de aproximar. São as suas atitudes que ferem a dignidade de quem encontrou fechada a porta que pensou estaria aberta.

É preciso derrubar muros e construir pontes de convergência aonde “Todos, Todos, Todos” (Papa Francisco) tenham acesso e se sintam acolhidos .

Não podemos, não devemos seguir o lema de Frei Tomás. Porque à mulher de César não basta Ser. Tem de o parecer.

Madalena Castro