Porquê o Dia Internacional da Mulher?

A minha mãe tinha orgulho numa mala de cânfora que tinha no hall de entrada da nossa casa de Moçambique. O orgulho vinha do que esta mala continha: bordado da Madeira. Este bordado passara, segundo me contou, do bisavô ao pai e, agora, para ela.

Nunca percebi porque havia um dia dedicado à mulher até aos 16 anos. A razão devia-se a eu viver numa bolha familiar. Na minha família tudo era partilhado, no que conta às tarefas da casa. Talvez, por isso, desconhecia que havia diferença entre homens e mulheres… Mas havia! Há!

Comecemos pelo passado. O que acontecia até 1976?

As mulheres não podiam votar. Todavia, houve uma exceção, a doutora Carolina Beatriz Ângelo. Porque foi exceção e votou? Votou em 1911 para as eleições da Assembleia Constituinte. Serviu-se duma falha na lei portuguesa. Era viúva e, por isso, “cabeça da Família”. Aproveitando esta falha, a médica e feminista portuguesa, pôde votar. Fê-lo só desta vez. A lei foi alterada para que não voltasse a fazê-lo. Só em 1976 com a entrada da nova Constituição da República Portuguesa o sufrágio tornou-se universal. Podendo todos votar.

As mulheres deviam obedecer aos maridos e tinham de cumprir os seus deveres de mulher para com ele… desde fazer o comer, lavar e passar a roupa, não tinham direito a opinar, a uma vida social independente; tinham de acolher com amor e alegria os maridos que chegavam a casa bêbados, a terem relações sexuais sempre que os maridos quisessem, …

O Código Penal permitia ao marido matar a mulher em flagrante adultério, sofrendo apenas um desterro de 6 meses. Já, segundo o Código Civil, o marido podia repudiá-la se não fosse virgem no casamento.

As mulheres, no seu todo, não podiam trabalhar fora. Apenas 19% o faziam. Caso das professoras e enfermeiras.

As mulheres que tomassem contracetivos, contra a vontade dos maridos, estavam sujeitas a um pedido de divórcio ou separação judicial.

As mulheres não podiam viajar para o estrangeiro sempre que quisessem. Para o fazer tinham de ter autorização do marido.

As mulheres não tinham acesso (mesmo tendo estudos e competência para tal) às carreiras: magistratura, diplomática, militar ou polícia.

A Violência Doméstica, a Violência de Género e a Violência contra as mulheres, não se colocava, até então. Digamos “maldosamente” … “era natural”. Depois desta data que coloquei como marco – 1976, estes três tipos de violência não ficaram de todo resolvidos. Podemos dizer que só mais tarde... mas não o podemos afirmar. Porquê? Olhemos para a nossa sociedade e sociedades pelo mundo do século XXI: ainda há diferenças marcantes neste nosso século entre homens e mulheres.

Claro que hoje temos mulheres em lugares de destaque… poucas. Na chefia de algumas empresas, na magistratura, na diplomacia, como militares e polícias, … até na universidade há mais mulheres do que homens. Contudo, continua a haver grandes diferenças. Qual é a percentagem das mulheres (face aos homens) que ocupam estes lugares de (digamos) destaque? Mínima. Quanto ganham? Muito menos que os homens.

Para quando a Igualdade de Género? Para quando a Violência Doméstica (a do namoro está em subida) terá fim?

Por tudo isto, que acabo de expor-vos, o Dia Internacional da Mulher tem razão de ser celebrado. Pelo menos falemos e lembremo-nos destas “diferenças” e destas “Violências: Doméstica, de Género e da Mulher”.

Pesquisem estes últimos 7 anos…

Se estiveram atentos às notícias de ontem, há 70% de mulheres a ganhar até 1.000€ em Portugal.

Dei-vos a conhecer numa breve síntese do “Porquê o Dia Internacional da Mulher” ser celebrado.

Diz-se que “uma só pessoa não muda o mundo!”

No meu entender se cada um tiver a força e a coragem de mudar, levará os outros a mudar!

Fernando Abrunhosa