DNOTICIAS.PT
Fotos Miguel Espada, ASPRESS
Madeira

Os 'bitcoiners' madeirenses

Não são loiros, altos, nem têm sotaque inglês, e não usam t-shirts com símbolos de BTC, como os mais entusiastas

Têm entre os 30 e os 40 anos. A maioria são solteiros. Dizem-se empreendedores, de profissão liberal, alguns são donos de pequenas empresas. Outros filhos de emigrantes. Outros, ainda, quadros superiores da administração pública. Vieram do Funchal, de Câmara de Lobos mas também da Calheta. Mas há excepções neste perfil prematuro. Diogo (20), Emanuel (23) e Iris (22) foram os mais novos que encontramos. São estudantes.

Os três vivem a cerca de 50 quilómetros da conferência 'Atlantis Bitcoin'. Dois são dos Canhas. Emanuel é de São Paulo, zona alta da Ribeira Brava, onde, não tem muito tempo, demorava-se mais a chegar à vila do que da vila ao Funchal. 

Todos eles destacam-se da maioria dos participantes. A fisionomia desvenda-os entre os que circulam no anel superior do estádio de acesso ao palco principal Satoshi. Não são loiros, não têm olhos claros e muito menos têm sotaque inglês. A língua de Camões denuncia-os.

São os ‘bitcoiners’ madeirenses.

Uma pequena minoria entre os mais de 3 mil que passaram pelo evento, para o palco principal, o Satoshi Nakamoto. Por isso era para ali que quase todos queriam ir, porque era ali que os principais ‘speakers’ [oradores] falaram sobre experiências no mundo da Bitcoin (BTC).

Os que ali foram queriam perceber como rentabilizar os investimentos. Tal como todos, os três jovens também querem mais. Muito mais. Querem triunfar. Ter êxito. Ainda que digam que ambição não seja o principal motivo para pertencer à comunidade.

Emanuel, o mais expansivo de todos, sorri perante a pergunta e a resposta positiva dá-nos quando perguntamos se já conseguiu valorizar os ‘assets’ [activos] desde que se lançou na esfera da bitcoin. “Diria que uns 80% a mais do que tinha”, confessa sem hesitar. Para trás ficaram os 10 euros com que se iniciou neste mercado onde 1 BTC vale acima dos 57 mil euros. Uma 'pipa' de massa para quem conta os tostões.

A Iris acompanha resposta com um segundo sorriso, sinal que sua aposta também corre de feição. Também ela, diz-nos, aplicou parte das economias na BTC. Os pais, esses, não lhe ralham, apesar de admitir que pertencem ao grupo dos conservadores. Dos resistentes. Dos que desconfiam da potencialidade da rede. Mas, se vissem com os seus próprios olhos, o perfil dos participantes estrangeiros, talvez percebessem que um dia, sim, um dia, também poderiam ser como eles.

São observadores e notaram que "as roupas" que alguns bitcoiners vestem "parecem caras”, confidenciam. “Devem ser gente com muito dinheiro”, sussurram de espanto. O que não viram foi o lounge vip. Para ali entrar era preciso uma pulseira vermelha que custa uma pequena fortuna [1.200 euros]. Ainda são de um calibre mais baixo, raso, comungam. 'Esfolaram-se' para pagar "42 euros”, o valor mais baixo para a tripla jornada. Mas longe de chorar o dinheiro: “É um evento de grande nível e valeu a pena”. 

Nesta pequeníssima comunidade dentro da sua própria ilha também esteve Bernardo Pestana, um bitcoiner de Câmara de Lobos. Em conjunto com os amigos tem pequenos investimentos em BTC, mas confessa que gostaria de investir mais daí que reconheça que todas as dicas que possa somar serão mais-valias e traduzir-se em lucro. Ficou agradado com o que ouviu do "senhor Michael [ Sailor]”, CEO da MicroStrategy, uma das maiores empresas de data analytics da América.

“Temos muito que aprender e esta é sem dúvida uma boa iniciativa para ajudar a esclarecer as dúvidas que temos”, diz-nos ao lado de dois amigos, um deles veio da cidade do Porto.

E, se há ferramenta que todos usam, essa parece ser um smartphone. É com um equipamento destes, de acesso ilimitado a dados móveis, que andam todos agarrados às aplicações e vigiam a wallet [carteira]. A variação e a cotização contam e nesse instante percebem se vale ou não colocar mais uns pózinhos - entenda-se por euros - fazendo crescer o bolo que vai fermentando [ou não] com o passar das semanas: “Neste momento diria que não está bom para comprar”. Não está porque a moeda está cara.

Dali ao corredor interior, a norte do estádio, onde estão vários espaços de esclarecimento, são poucos passos. É ali que passava uma figura conhecida do universo das Startup Madeira. Desta vez o Carlos prefere passar discreto e recusa gentilmente uma entrevista. Diz-nos que também ele anda à procura de conhecimento. Afinal, não é isso que todos andamos à procura?