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Isabel Camarinha, a primeira mulher à frente da CGTP, termina hoje o mandato

Foto ANTÓNIO PEDRO SANTOS/LUSA
Foto ANTÓNIO PEDRO SANTOS/LUSA

A primeira mulher eleita secretária-geral da CGTP, Isabel Camarinha, deixa hoje o cargo, por ter atingido o limite de idade, após um mandato de quatro anos marcado pela pandemia e pelo aumento do custo de vida.

Com 63 anos de idade, Isabel Camarinha deixa hoje a liderança da CGTP no XV Congresso da Intersindical, que se realiza no Seixal (distrito de Setúbal) hoje e sábado, porque atingiria a idade da reforma num novo mandato, o que não é permitido pelas regras internas da central sindical.

A sindicalista foi eleita secretária-geral da CGTP em fevereiro de 2020 e, no mês seguinte, foi decretada no país a pandemia de covid-19, que gerou dificuldades na atividade sindical, numa altura em que era preciso assegurar que os trabalhadores tinham garantidos os seus direitos e as condições de saúde e segurança.

O início da guerra na Ucrânia, a elevada inflação e o aumento do custo de vida marcaram os anos seguintes do mandato, numa altura em que a CGTP exigiu nas ruas e nos locais de trabalho aumentos salariais superiores à inflação, num contexto político marcado por duas dissoluções da Assembleia da República.

"Todos os mandatos têm as suas dificuldades, até porque a vida dos trabalhadores, toda esta realidade da exploração dos trabalhadores obriga sempre a uma grande intervenção, uma grande ação por parte dos sindicatos da CGTP, mas este mandato, de facto, teve algumas características diferentes de qualquer outro", disse Isabel Camarinha em entrevista à Lusa, publicada na terça-feira.

Isabel Camarinha, que começou o seu percurso sindical há mais de 30 anos, diz que vai continuar na luta por melhores condições de vida e de trabalho no Sindicato dos Trabalhadores do Comércio, Escritórios e Serviços (CESP), do qual é dirigente desde 1991.

No plano profissional, Camarinha é técnica administrativa no Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Administração Local (STAL) desde 1981, tendo também trabalhado em outras estruturas sindicais.

"Foi uma vida dedicada aos trabalhadores e à defesa dos seus direitos e interesses", realçou a sindicalista à Lusa.

Congresso com renovação de um quarto dos dirigentes

O XV congresso da CGTP começa hoje, no Seixal, e será marcado pela renovação de um quarto dos dirigentes, incluindo a secretária-geral, Isabel Camarinha, que será substituída no cargo por Tiago Oliveira.

A reunião magna da intersindical, que tem como lema "Com os Trabalhadores, Organização, Unidade e Luta! Garantir Direitos, Combater a Exploração - Afirmar Abril por um Portugal com Futuro" arranca esta manhã no pavilhão municipal da Torre da Marinha e decorre até sábado, estando previsto um desfile de trabalhadores e sindicalistas antes do início dos trabalhos.

A lista do Conselho Nacional da CGTP a eleger no congresso prevê a renovação de 39 dirigentes sindicais dos 147 que integram este órgão, dos quais 19 estão de saída por terem atingido o limite de idade para acesso aos corpos sociais, como é o caso de Isabel Camarinha.

Os outros 20 dirigentes saem do Conselho Nacional por outros motivos, nomeadamente alteração de responsabilidades nas direções de estruturas sindicais.

Entre os dirigentes que vão sair da Comissão Executiva da CGTP por motivo de idade estão, além de Isabel Camarinha, Mário Nogueira (líder da Fenprof - Federação Nacional dos Professores), Libério Domingues (ex-coordenador da União de Sindicatos de Lisboa), José Manuel Oliveira (coordenador da Fectrans - Federação dos Sindicatos dos Transportes e Comunicações) ou Vivalda Silva (dirigente do STAD - Sindicato dos Trabalhadores de Serviços de Portaria, Vigilância, Limpeza, Domésticas e Atividades Diversas).

Assim que for eleito no congresso, o novo Conselho Nacional tem a responsabilidade de eleger a Comissão Executiva, composta por 29 membros, e o próximo secretário-geral da intersindical, que será Tiago Oliveira, coordenador da União de Sindicatos do Porto.

A intervenção inaugural do congresso pertence a Isabel Camarinha e os 720 delegados definirão depois as linhas gerais de orientação para o quadriénio 2024-2028, com a estratégia sindical expressa no programa de ação.

Já a primeira intervenção do novo secretário-geral, que será eleito ainda esta noite, está prevista para a reta final do congresso, na tarde de sábado.

O novo secretário-geral tem 43 anos

A Comissão Executiva da CGTP anunciou no dia 19 que vai propor Tiago Oliveira para suceder a Isabel Camarinha no cargo de secretário-geral da intersindical.

Tiago Oliveira, 43 anos, é mecânico de pesados na empresa Auto-Sueco, dirigente sindical desde 2006 e coordenador da União de Sindicatos do Porto desde 2016.

Próximo do PCP, Tiago Oliveira integra o comité central do partido e nas últimas eleições autárquicas foi eleito pela CDU para a assembleia de freguesia de São Mamede de Infesta e Senhora da Hora (concelho de Matosinhos, distrito do Porto).

A CGTP tem uma regra que impede os sindicalistas de se candidatarem a um novo mandato quando têm a perspetiva de atingir a idade de reforma nos quatro anos seguintes.

Tiago Oliveira poderá assim fazer mais do que um mandato como líder da CGTP, tendo uma margem de progressão na intersindical de 20 anos.

Segundo dados apresentados pela CGTP no anterior congresso, em fevereiro 2020, a intersindical representa mais de 556 mil trabalhadores em todo o país.

A CGTP é constituída por 10 federações sindicais, 22 uniões e 79 sindicatos filiados. Agrega ainda cerca de 40 sindicatos que, não sendo filiados, convergem com a intersindical na ação face a objetivos comuns, segundo dados da intersindical.