Estudo conclui que bombas junto a hospitais em Gaza violaram direito internacional
Centenas de bombas foram lançadas perto de 36 hospitais em Gaza entre 07 de outubro e 17 e novembro de 2023, em violção do direito internacional humanitário, de acordo com uma investigação da Universidade de Harvard publicada na quarta-feira.
Da autoria de Dennis Kunichoff, da Universidade de Harvard, e publicado no site de investigação de acesso aberto PLOS Global Public Health, o estudo revelou, tendo por base dados geoespaciais e imagens de satélite da cadeia de televisão CNN e do jornal The New York Times, que durante esse intervalo de tempo foram detetadas 592 crateras de bombas junto a 36 hospitais da Faixa de Gaza.
Entre os explosivos usados estavam bombas Mark-84 (M-84), cedidas pelos Estados Unidos, um engenho que lança mais de 500 quilos de fragmentos de aço em todas as direções e que danifica as infraestruturas até 800 metros do ponto de detonação, sendo considerados engenhos letais a menos de 360 metros, segundo o estudo.
Dos hospitais estudados, em 30 foram registadas explosões a menos de 800 metros e em nove à distância que se considera letal. Num dos casos foram encontradas sete crateras de bomba a menos de 360 metros.
Descobriu-se também que 38 dessas bombas foram detonadas a menos de 800 metros de hospitais localizados na zona de evacuação determinada por Israel.
Estas detonações violam o direito internacional humanitário, criado em 1864, que não permite bombardear centros de saúde e hospitais durante um conflito bélico e concede uma especial proteção a doentes, feridos, pessoal de saúde e de transporte.
"Dada a proximidade destas crateras de bombas a zonas hospitalares, este estudo reva a preocupação que suscitam os bombardeamentos indiscriminados nas proximidades de infraestuturas hospitalares, que gozam de uma proteção especial em face do direito internacional humanitário", assinalam os autores do estudo.
Os investigadores apontaram a dependência da informação por satélite como uma das limitações que não lhes permitiu determinar os danos reais nas imediações dos hospitais nem o número de vítimas mortais que provocaram.
A 07 de outubro de 2023 o grupo islamista palestiniano Hamas atacou Israel provocando a morte de cerca de 1.200 pessoas, tendo os militantes do grupo extremista sequestrado 251 pessoas, das quais quase uma centena permanece refém.
Em resposta, Israel iniciou uma ofensiva militar contra o enclave palestiniano, que resultou em 41.900 mortos, tendo o conflito alastrado ao Líbano.
Israel enfrenta já processos judiciais por violações do direito internacional e acusações de genocídio devido ao conflito em curso.
No dia 26 de janeiro, o Tribunal Internacional de Justiça, a mais alta instância judicial das Nações Unidas, decidiu impor medidas provisórias a Israel no âmbito da convenção do genocídio, na sequência de um pedido da África do Sul, a que se associaram outros países: Nicarágua, Bélgica, Colômbia, Turquia, Líbia, Egito, Maldivas, México, Irlanda, Chile, Palestina e Espanha.
O procurador do Tribunal Penal Internacional, Karim Khan, pediu a 20 de maio mandados de detenção para o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, e o então líder político do Hamas, Ismail Haniyeh (entretanto morto).
Também o ministro da Defesa israelita, Yoav Gallant, o comandante das Brigadas Al-Qassam, Mohammed Al-Masri, e o chefe do gabinete político do Hamas, tiveram mandados de detenção emitidos por suspeita de crimes de guerra e crimes contra a humanidade.