Dia do nascimento da arte no mundo

Essa efeméride peculiar que Coimbra celebrou pela primeira vez em 1974, não apenas marca um momento na história da arte, mas também se conecta de maneira intrínseca com o contexto político e social da época. Sob a égide do regime autoritário, a celebração do “nascimento da arte” no CAPC (Círculo de Artes Plásticas de Coimbra), ainda durante o tempo do fascismo, assume contornos de resistência cultural.

Ernesto de Sousa, figura proeminente nesse movimento artístico e fundador do CAPC em 1958, desempenhou um papel crucial ao promover uma festa inovadora no dia 17 de janeiro de 1974. Nesse evento, mais de mil pessoas, incluindo artistas notáveis como Alberto Carneiro, Albuquerque Mendes, Jorge Peixinho, entre outros, participaram de uma celebração que transcendeu as fronteiras da arte convencional. O conceito de “arte não convencional” ganhou destaque, representando uma afirmação de identidade entre a arte e a vida. Essa abordagem, que incluía elementos como bailes, canções, jogos e confraternizações, desafiava as normas estabelecidas e buscava uma integração mais estreita entre a expressão artística e a experiência humana quotidiana.

Ao refletir sobre essa efeméride, o CAPC destaca que, de certa forma, a celebração do “nascimento da arte”, proposto no ano de 1963 por ideia do artista francês Robert Filliou ao declarar que, “em 17 de janeiro de há um milhão de anos, a arte tinha nascido quando um homem deixou cair uma esponja seca num balde de água” promoveu um debate europeu. Neste mesmo ano ocorreria em abril, a Revolução dos Cravos, lançando uma nova perspectiva sobre a intersecção entre a expressão artística, a liberdade e a mudança política, sugerindo que a efervescência cultural antecipou e influenciou os ventos de transformação que soprariam sobre Portugal em 1974.

Ao comemorar esses 50 anos, o CAPC não apenas revisita um capítulo importante da sua própria história, mas também destaca a vitalidade da arte como um agente de mudança social. O evento planejado para este 17 de janeiro de 2024 recria a atmosfera da celebração original, não é apenas uma recordação nostálgica, mas uma oportunidade de renovar o compromisso com a liberdade criativa e a expressão artística como motores do progresso social.

Além disso, aborda um tema contemporâneo relevante, a relação entre os plásticos nos rios e a vida aquática. O estudo da pesquisadora Verónica Ferreira da Universidade de Coimbra destaca a complexidade dessa interacção, revelando que, embora a presença de plásticos seja prejudicial para muitos organismos, alguns invertebrados conseguem adaptar-se e até mesmo tirar proveito desses materiais. Ao celebrar o “nascimento da arte” e abordar questões contemporâneas, o CAPC reafirma sua posição como um centro cultural dinâmico que não apenas preserva a herança artística, mas também se compromete com diálogos relevantes e progressistas, tanto no âmbito da expressão artística quanto nas preocupações ambientais.

Gregório José