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Contraofensiva ucraniana preparada com cuidado porque tem de "demonstrar sucesso"

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O primeiro-ministro ucraniano, Denys Shmyhal, disse hoje que a Ucrânia está a preparar cuidadosamente a nova contraofensiva contra as forças russas porque o ataque é "muito importante" e deve "demonstrar sucesso".

"Estamos a preparar-nos com muito cuidado porque é uma operação muito importante e entendemos que devemos demonstrar sucesso nesta operação para a nossa sociedade, para os nossos parceiros, para todo o mundo e para o nosso inimigo", afirmou Shmyhal, citado pelo canal britânico Sky News, durante uma visita ao Reino Unido.

Para o primeiro-ministro ucraniano, a contraofensiva começará quando chegar "o momento adequado" e quando estiver "tudo absolutamente pronto" para que a liderança militar e política tome a decisão.

De acordo com a Sky News, Shmyhal visitou uma área de formação militar britânica em Salisbury Plain para observar as tropas britânicas e neozelandesas a treinar recrutas ucranianos, no âmbito de um programa de assistência liderado pelos britânicos para transformar milhares de civis ucranianos em soldados.

"Tenho certeza de que o dia mais importante para a Ucrânia será o dia da vitória sobre esta terrível agressão russa - agressão em grande escala - contra a Ucrânia", disse Shmyhal, que se encontra no Reino Unido, onde assistiu no sábado à coroação do Rei Carlos III.

Enquanto a data da contraofensiva se mantém uma incógnita, os combates continuam centrados na cidade de Bakhmut, na região de Donetsk, no leste da Ucrânia.

No último dia, as forças de ocupação bombardearam 375 vezes as posições dos defensores ucranianos na área de Bakhmut, disse Serhiy Cherevaty, porta-voz do Grupo Oriental das Forças Armadas da Ucrânia, citado pela agência Ukrinform, acrescentando que 166 militares russos morreram e 206 ficaram feridos, embora estes números não possam ser confirmados de imediato por fontes independentes.

"Na nossa zona operacional, o inimigo continua a definir a captura de Bakhmut como o seu principal objetivo", comentou Cherevaty, referindo-se também às queixas do líder do grupo mercenário russo Wagner, Yevgeny Prigozhin, de falta de munições como uma desculpa para o seu fracasso no assalto à cidade, que dura desde agosto, com baixas pesadas para ambos os lados.

"Todas essas declarações estão de acordo com o facto principal de que ele assumiu enormes obrigações militares e não pode cumpri-las porque as Forças de Defesa estão a matar [combatentes do Grupo Wagner] em massa, e eles não têm fonte de mão-de-obra (...). Portanto, ele está à procura de qualquer desculpa para evitar o pagamento de obrigações não cumpridas e faz esse 'ruído branco' há um mês, lamentando que não receba munições, embora tenham mais do que suficientes", disse o porta-voz, referindo que os russos usaram 34.000 projéteis só no último dia.

Cherevaty também acrescentou que o inimigo viola todas as regras da guerra, em particular, armas e munições proibidas, acusando o exército russo de ser composto por "criminosos comuns vestindo uniformes da chamada unidade militar Wagner" e apontando a direção de Liman como o próximo objetivo das forças de Moscovo.

"A direção de Liman é a próxima na atividade do inimigo, que lançou 444 ataques contra as nossas posições de combate com vários tipos de artilharia", referiu o porta-voz, observando que mais uma vez estas investidas foram repelidas, com elevadas baixas russas em homens e equipamento.

De acordo com Cherevaty, a resistência das Forças de Defesa mudaram a composição dos grupos inimigos ao longo do último ano de guerra, argumentando que a espinha dorsal russa das brigadas de combate profissionais foi dizimada, e então agora o pessoal recém-mobilizado está lutar em Bakhmut, o que explicará "a maior cautela das ações do inimigo e menor atividade".

Segundo o Instituto para o Estudo da Guerra (ISW, na sigla em inglês), com sede nos Estados Unidos, altos funcionários ucranianos indicaram que as forças de Kiev podem estar a preparar operações de contraofensiva em maio ou junho.

O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, afirmou no domingo que as forças de Kiev estão a preparar-se para "novos acontecimentos" em maio ou junho e o vice-ministro da Defesa ucraniano, Volodymyr Havrylov, afirmou a seguir que o momento e a localização de uma contraofensiva ucraniana não são significativos porque as forças e liderança russas entrarão em pânico de qualquer maneira.

Os serviços de imprensa das Forças de Defesa da Ucrânia afirmaram, também citados pelo ISW, que o exército russo continua a transferir equipamentos militares, munições e abastecimentos para a Ucrânia para se preparar para uma operação defensiva contra uma grande investida ucraniana.

A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro de 2022 pela Rússia na Ucrânia causou até agora a fuga de mais de 14,6 milhões de pessoas -- 6,5 milhões de deslocados internos e mais de 8,1 milhões para países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

Pelo menos 18 milhões de ucranianos precisam de ajuda humanitária e 9,3 milhões necessitam de ajuda alimentar e alojamento.

A invasão russa -- justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.

A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra 8.791 civis mortos e 14.815 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.