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Rússia diz que devolverá crianças deportadas se famílias pedirem

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Foto Nuno Veiga/Lusa

A comissária russa para a infância, Maria Lvova-Belova, alvo de um mandado de captura do Tribunal Penal Internacional (TPI), declarou-se hoje disposta a devolver à Ucrânia crianças deportadas, se as respetivas famílias o solicitarem.

As autoridades ucranianas acusam a Rússia de ter "sequestrado mais de 16.000 crianças" da Ucrânia desde o início da ofensiva, há mais de um ano.

Por seu lado, Moscovo assegura ter "salvado" essas crianças dos combates e ter criado procedimentos para as reunir com as famílias.

Numa conferência de imprensa hoje realizada, Maria Lvova-Belova garantiu que não foi contactada por "qualquer representante do poder ucraniano" a propósito das crianças deportadas desde o início da guerra e convidou os respetivos pais a escreverem-lhe uma mensagem de correio eletrónico.

"Escrevam-me (...) para encontrarem a vossa criança", declarou a responsável russa.

Um relatório do seu comissariado hoje divulgado indica que 16 crianças de nove famílias foram reunidas com os respetivos parentes residentes na Ucrânia ou noutro local desde 29 de março, ou seja, na última semana.

No entanto, a comissária russa para a infância recusou-se hoje mais uma vez a divulgar a lista completa com os nomes das crianças ucranianas deportadas para a Rússia desde o início da invasão, a 24 de fevereiro de 2022.

De acordo com o relatório, 380 órfãos ucranianos foram colocados sob a tutela de famílias de acolhimento na Rússia, 22 dos quais menores encontrados abandonados em Mariupol, cidade portuária do sul da Ucrânia devastada por um cerco de quase três meses do exército russo, no ano passado.

Foi atribuída às crianças adotadas a nacionalidade russa, embora conservando a sua nacionalidade de origem.

Segundo Maria Lvova-Belova, um adolescente levado de Mariupol para a Rússia foi detido na fronteira com a Bielorrússia quando tentava regressar à Ucrânia.

Ela assegurou, contudo, que o rapaz tinha sido "atraído para território ucraniano através de manipulação e ameaças" de várias pessoas que classificou como "agentes".

O TPI emitiu em março um mandado de captura histórico para o Presidente russo, Vladimir Putin, e Maria Lvova-Belova, considerando que eles eram os presumíveis responsáveis pelo "crime de guerra de deportação ilegal" de menores ucranianos.

Por sua vez, o Conselho dos Direitos Humanos da ONU exigiu hoje à Rússia que autorize organizações internacionais a visitar crianças e outros civis "deportados à força" da Ucrânia para territórios controlados por Moscovo.

"[A Rússia tem de] parar com a transferência forçada e ilegal e com a deportação de civis e de outras pessoas protegidas no interior da Ucrânia [para o leste] ou para a Federação Russa (...), em particular crianças, incluindo as que estão institucionalizadas, desacompanhadas e/ou separadas", lê-se numa resolução aprovada em Genebra com 28 votos a favor, 17 abstenções e dois votos contra (China e Eritreia).

A ofensiva militar lançada em fevereiro de 2022 pela Rússia na Ucrânia causou até agora a fuga de mais de 14,6 milhões de pessoas -- 6,5 milhões de deslocados internos e mais de 8,1 milhões para países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

Neste momento, pelo menos 18 milhões de ucranianos precisam de ajuda humanitária e 9,3 milhões necessitam de ajuda alimentar e alojamento.

A invasão russa -- justificada por Putin com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.

A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra, que hoje entrou no seu 405.º dia, 8.451 civis mortos e 14.156 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.