Desporto

Carlos Pereira esperava ter uma estatueta e não uma auditoria

Foto Arquivo/Helder Santos/Aspress
Foto Arquivo/Helder Santos/Aspress

O sócio número 143 do Clube Sport Marítimo, Carlos Pereira, que foi presidente do clube durante 24 anos, quebra o silêncio de meses, para lamentar a auditoria à sua gestão, ironizando que, como deixou as contas do clube com saldo positivo e património edificado, esperava ter uma estátua, assegurando ainda nada ter a ver com movimentos contestatários. Aproveita para apelar à união dos maritimistas.

Num carta assinada, em jeito de direito de resposta a "notícias publicadas na passada sexta-feira, dia 23/9/2022", nos dois matutinos regionais sob os títulos "Marítimo aprofunda resultado de auditoria" e "Auditoria ao Marítimo revela situações graves", o antigo dirigente que perdeu as eleições a 22 de Outubro de 2021 para o antecessor no cargo, Rui Fontes, diz que "lançam suspeitas relativas à actuação de anteriores dirigentes do clube" e, por isso, "vêm os mesmos" responder.

Assumindo assim a liderança desta resposta, garante: "Não somos ameaça, não temos aspirações a regressar a um 'sítio' onde já fomos muito felizes, demarcamo-nos de todo e qualquer movimento contestatário e desejamos os maiores êxitos para o caminho escolhido pelos sócios em 22/10/2021 ou outro que lhe suceda."

Apelando uma vez mais à união, Carlos Pereira recomenda que "o foco deveria estar na reunião de esforços para debelar a profunda e indisfarçável crise desportiva e organizacional que assola o universo Marítimo" e, por isso, "não se compreende que os actuais órgãos sociais do Marítimo, utilizando expedientes diversos, jornais e jornalistas, desperdicem tempo e recursos para colocar  maritimistas contras maritimistas e para atingir publicamente os seus antecessores e, igualmente, dirigentes demissionários", lamenta.

Recorrendo ao historial de 24 anos de presidência, Carlos Pereira lembra que as suas direcções conseguiram tirar o clube de "uma grave crise financeira através da agregação de vontades e não da perseguição aos causadores da situação" na década de 90, quando assumiu em 1997 o cargo a substituir precisamente Rui Fontes.

"Esta forma de actuar permitiu edificar um património invejável (estádio, colégio, complexo desportivo com pavilhão multiusos, fundação,…), resultados desportivos (7 participações europeias, incluindo uma fase de grupos, 2 presenças em finais da Taça da Liga e 1 presença na final da Taça de Portugal), quase cinquenta milhões de euros em transações de atletas e que as contas bancárias do universo Marítimo, no dia 4/11/2021, às 13h00, apresentassem um saldo de 8.894.344€; permitiu também receitas garantidas para o futuro em montante superior a 30.000.000€ (trinta milhões de euros), as quais estão devidamente detalhadas em relatório entregue aos presidentes em exercício (SAD e clube)", resumiu.

Um "banquete de liquidez, construído a pulso ao longo de 24 anos, que, juntamente com avales pessoais que ainda subsistem, foi servido aos actuais órgãos sociais do Marítimo", acreditava Carlos Pereira "poder aspirar a uma estatueta, mas ao que parece teremos de nos contentar com uma auditoria", ironiza.

Depois de se defender, passa ao ataque, aludindo a actos da actual direcção que com folga financeira pôde "prescindir de patrocinadores, pagar a administradores, contratar jogadores pela impressionante soma de 700.000€ anuais (setecentos mil euros) e ainda permitido distribuir riqueza por novos fornecedores – estes, mesmo sendo de familiares, são agora certamente insuspeitos -, entre os quais de obras em relvados (meio milhão de euros), de obras de mudança de tribunas, de obras de colocação de pavimentos em pavilhões, bem como de serviços jurídicos, de viagens e de alimentação", atira, em desacordo com estes actos de gestão levados a cabo nestes 11 meses da actual presidência.

Garantindo que ele e a sua antiga equipa não temem qualquer auditoria, Carlos Pereira dá mais uma alfinetada em Rui Fontes: "Como o Rigor e a Transparência não serão mais uma bandeira rasgada e como a ética do auditor não enviesará a análise, estamos certos de que a auditoria (ou a auditoria da auditoria) cuidará, sem qualquer tipo de resistência, de captar todos estes factos, anteriores e posteriores a 2021, aplicando o mesmo crivo na análise a antigos e novos fornecedores/prestadores de serviços."

Temendo que o "ponto a que isto chegou" leve o clube à ruína, Carlos Pereira pede que os factos apurados na auditoria são tão graves que seja entregue às "autoridades competentes", garantindo que não hesitará em "deitar mão a todo o tipo de instrumentos legais ao nosso alcance" para repor o bom nome e a  honorabilidade das pessoas e empresas.

E termina com um "o Marítimo é grande e, seguramente, de algum modo, saberá reencontrar o trilho do sucesso, aquele que o tornou o Maior das Ilhas e um dos Grandes de Portugal".