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Universidade de Coimbra desenvolve novo aerogel para aplicação médico-farmacêutica

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Foto Shutterstock

Uma equipa de investigadores da Universidade de Coimbra desenvolveu um novo aerogel a partir de polímeros naturais, com aplicações na área médico-farmacêutica, especialmente em medicina regenerativa, revelou ontem aquela instituição de ensino superior.

Este estudo, publicado na revista Materials Chemistry and Physics, foi desenvolvido ao longo dos últimos quatro anos no Centro de Investigação em Engenharia dos Processos Químicos e dos Produtos da Floresta da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC).

Decorreu no âmbito do projeto "SterilAerogel" e foi financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia com 230 mil euros.

De acordo com a coordenadora do projeto, Mara Braga, o "SterilAerogel" tem como grande objetivo dar resposta a um problema de saúde que afeta cada vez mais a população mundial, especialmente a população idosa, que sofre com maior frequência fraturas ósseas e de problemas degenerativos e inflamatórios.

Esta resposta chega através "do desenvolvimento de aerogéis inovadores à base de polímeros naturais, prontos a ser usados na regeneração de tecidos, mas também em pensos para tratar feridas", revelou.

Para obter um novo aerogel natural e completamente esterilizado, o projeto envolveu várias fases.

De acordo com a Universidade de Coimbra, primeiro, após uma exaustiva triagem de combinações de polieletrólitos naturais, "os investigadores verificaram num dos estudos que o complexo polieletrólito de quitosano e goma xantana era o mais adequado para o fim pretendido".

A partir daqui, a equipa de Mara Braga avançou para "a produção do novo aerogel, através de um processo integrado, em que a secagem e a esterilização são realizadas sequencialmente e no mesmo equipamento, evitando procedimentos adicionais".

"Este processo envolveu diferentes etapas, sendo a primeira a gelificação para obter um hidrogel, que foi depois convertido em alcogel e colocado dentro de uma embalagem de esterilização, para permitir o manuseamento da amostra após o processo sem que haja qualquer risco de contaminação", destacou.

Por último, a amostra foi "seca e esterilizada com um equipamento específico recorrendo a dióxido de carbono (CO2) em estado supercrítico, num sistema sequencial nunca antes feito".

"No final, foi obtido um aerogel natural com todas as propriedades adequadas para aplicação em medicina regenerativa", acrescentou.

Segundo a investigadora da FCTUC, a grande inovação do projeto está precisamente na técnica usada para o processamento do polímero natural.

"Os biopolímeros caracterizam-se pela elevada biocompatibilidade para utilização nos organismos vivos, no entanto, exigem um processo rigoroso de esterilização, garantindo que não se perdem as propriedades físico-químicas e estruturais, ou seja, que não se degradem no processo de esterilização", indicou.

Ao ser adotada "a tecnologia com fluído supercrítico para a preparação e esterilização do aerogel", é garantida "a biocompatibilidade ao interagir com o organismo sem causar grandes efeitos secundários, comparativamente aos sintéticos, e resíduos de solventes orgânicos do seu processamento".

Mara Braga disse ainda que para que o novo aerogel "completamente natural e sem resíduos químicos" possa ser utilizado na área da saúde, ainda são necessários mais estudos.

"Pretendemos saber se, depois de esterilizado, o aerogel garante seis meses de validade, que é o prazo standard para este tipo de produtos", sustentou.

Embora o projeto se tenha focado na área da saúde, "o novo aerogel tem potencial para outras aplicações, por exemplo, como adsorventes para tratamento de águas residuais".