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Oito – a humildade de um campeão

Os bons não jogam só futebol. Tinha razão o homem que apostou na construção de pavilhões gimnodesportivos e piscinas em todos os concelhos, para que muitos dos nossos jovens pudessem concretizar sonhos. Hoje, estamos a colher os frutos dessa política. Mas para um desses campeões não foi preciso um pavilhão, riscas pintadas no chão ou no fundo de uma piscina numa construção da Madeira Nova. Ironicamente, o mais olímpico de sempre de Portugal fez do imenso mar azul o seu campo de jogos, onde praticou durante décadas a sua modalidade de eleição, a prancha à vela.

O João Rodrigues, que recentemente trouxe à estampa o seu livro “Oito”, editado pelo Comité Olímpico de Portugal, recebeu a mais alta honra que um atleta pode merecer, a de entrar num estádio com a nossa Bandeira na mão, na sua última participação em competições olímpicas, em 2016, no Rio de Janeiro. O lançamento do livro na Madeira foi a certeza de que teremos sempre um miúdo simples, que chora e que ri, que festeja os feitos dos outros e que se curva com humildade perante os que abriram as portas da Madeira ao mundo, a esse mundo mítico do Olimpo, onde só alguns chegam.

Na apresentação do livro estavam os amigos. Os de sempre, os de agora, os que nunca acreditaram que aquelas ondas passariam debaixo dos seus pés até aos 50 anos e os que acreditaram sempre que seria difícil o miúdo pôr os pés na terra.

João, trinta anos depois de Barcelona 92 sei que ainda tremes, ao olhar para trás. Não te deixas levar pela fama, mas levas toda uma região atrás de ti, não embandeiras em arco, mas tens um amor sem limites pela nossa Bandeira. A de um país que muito te deve, mas que se esquece, por vezes, de homenagear condignamente os seus. Principalmente se andarem longe dos palcos mediáticos das revistas cor-de-rosa. Acredito que para ti, naquele dia, o importante foi ter uma sala cheia de amigos, com gente de pé a aplaudir o teu percurso, os elogios que vieram de todos os cantos, os abraços de quem ali esteve e que se rendeu ao teu “Oito”, que retrata a tua oitava presença nos Jogos Olímpicos, a primeira fora da competição. Acredito que teres ali a família, muitos amigos, vários antigos atletas olímpicos a quem prestaste a tua homenagem e diversas entidades oficiais foi quase tão bom como levar aquela Bandeira naquele dia. E acredito que depois dos mais rasgados elogios do Presidente do Comité Olímpico de Portugal, receberes publicamente um beijo “paternal” do homem que comanda os destinos dos nossos melhores atletas, foi um gesto que nunca vais esquecer. E que todos os presentes naquela sala se vão lembrar, por muito tempo, como o sinal do respeito que te temos.