Artigos

Recomeços

Desde o início da minha participação política, fui sempre muito claro nas opiniões que partilhei sobre o tempo político e as estratégias adoptadas por governos e oposições. Não foi diferente desde 2019, nem no último Congresso Regional do PS Madeira, onde disse exactamente o que pensava sobre o novo momento que vivemos.

O contexto político que temos agora é muito diferente do que tínhamos em 2019: o resultado das eleições autárquicas na Região não foi o que todos desejávamos, fragilizando o PS em diversos concelhos; temos um novo governo nacional de maioria absoluta, liderado pelo PS, com condições reforçadas para fazer reformas em Portugal; e temos um cenário internacional difícil, fortemente condicionado pela pandemia e pela guerra na Ucrânia, e, por isso, de grande incerteza e imprevisibilidade, com consequências económicas e sociais graves na vida de todos nós.

O PS Madeira elegeu uma nova liderança e, no caminho longo até que isso acontecesse, fui sempre totalmente transparente sobre o que entendia que deviam ser os nossos motivos de reflexão e os caminhos alternativos possíveis. A nova liderança do PS fez as suas legítimas escolhas e todos desejamos-lhe os maiores sucessos, porque disso dependerá o sucesso da Madeira com que sonhamos. Sérgio Gonçalves tinha e tem condições para fazer diferente do seu antecessor, porque só assim alcançaremos melhores resultados - mas para que assim seja, é importante que todos compreendamos exactamente o ponto em que estamos. A expectativa para as próximas eleições regionais pode e deve ser positiva, mas só se compreendem as linhas idílicas facilitistas pintadas no horizonte por alguns se a intenção final for, depois, repetir o exercício de desresponsabilização de quem as pinta a que recentemente assistimos. A promoção da unidade interna, aliada ao esforço de mobilização externa, em condições políticas regionais e locais mais difíceis do que as recebidas pela anterior liderança, obrigará a um esforço redobrado que exigirá de todos os envolvidos grande engenho, energia e motivação.

Entretanto, o PSD Madeira continua a avançar no seu ataque feroz. Pelo menos desde 2017, na antecâmara e depois das eleições autárquicas, a única estratégia política que o PSD tem para a Madeira assenta em dois pontos: destruir a imagem política dos seus principais opositores, num esforço de desgaste constante alimentado por má informação; e tornar reféns todos aqueles que, por circunstâncias difíceis da sua vida, a determinada altura necessitam de algum tipo de apoio para superar dificuldades. Assisto, incrédulo, mas não surpreendido, às notícias dos últimos dias sobre a gestão da Câmara do Funchal, que servem apenas o propósito de continuar a tentar manchar o percurso de uns e endeusar o percurso inapagável de outros. Continuo a acreditar que o tempo, tal como o voto popular, tudo clarificará.

No que não acredito é na eventual futura complexidade do cenário político regional à direita, que, na hora decisiva, alinhar-se-á de novo onde sempre esteve, tal como aconteceu em 2019, em torno do PSD Madeira e do poder que alimenta. Por isso, à esquerda o tempo deverá ser necessariamente de reflexão, reorganização e mobilização. É chegada a hora da oposição na Madeira fazer o seu diagnóstico claro sobre o que tem sido a História política regional dos últimos 40 anos e aquilo em que assenta, que há muito extravasou a figura de uma liderança para se aprofundar em marcas de regime assentes no controlo da informação, no condicionamento da população e no compadrio económico.

Se repetirmos estratégias, métodos, meios e narrativas, ainda que com novos protagonistas, não valerá a pena esperarmos por resultados distintos dos que temos registado. Se queremos mesmo uma Madeira melhor, porque diferente, comecemos então por melhorar o nosso próprio caminho de mobilização social em torno das causas em que acreditamos: uma Região livre, justa, igual, com Saúde, Educação, Emprego e Habitação para todos os madeirenses sem excepção, independentemente de quem são.