Análise

E se cuidassem do povo?

Algo não vai bem na partidocracia insular. Tanto nos partidos no poder, como em alguma oposição sedenta de oportunidades. Num caso, como noutro, o povo é deixado nas margens, a ver o desfile de delírios. Há um manifesto alheamento dos reais problemas que urge resolver tal é o número de episódios que comprovam prioridades baralhadas. E quando o foco político não está no essencial normalmente surgem ‘lapsus linguae’, bilhardices e ‘fait divers’.

Numa semana em que se soube que na Região o saldo natural atingiu, em 2021, o valor mais baixo em 50 anos, e que há 20 freguesias que no ano passado registaram apenas entre 1 e 9 nascimentos, que passos concretos foram dados para resolver o principal drama da vertente Norte da ilha? Que fez o CDS para alterar a tragédia demográfica em curso, em vez de estar preocupado com quem o governo manda a Santana? Acham os centristas que se Albuquerque passar a enviar o secretário Teófilo Cunha em vez de Rogério Gouveia vão nascer mais crianças? E os socialistas do Porto Moniz que dizem da decisão de Emanuel Câmara em triplicar o apoio à natalidade? Esperam que de repente haja um milagre quando durante décadas o sistema expulsou gente que foi obrigada a procurar trabalho e melhores condições de vida noutras paragens? E acham que alguém vai pôr filhos no mundo para viver em lugares onde a economia não foi estimulada, os recursos naturais não foram acautelados e a diversão é miragem?

Numa semana em que se soube que das 1.612 empresas que apresentaram o pedido de reconversão

dos empréstimos em fundo perdido, ao abrigo da linha Investe RAM, só foram pagas 905 candidaturas, muito por culpa de burocracias inaceitáveis e incapacidades de adequação das ajudas às realidades, tratando por igual o que é diferente, ignorando, por exemplo, que houve empresas que foram obrigadas a fechar durante a pandemia e que qualquer compensação é mais do que legítima, o que é que devia ser prioritário para o secretário da Economia? Estar durante uma semana em Miami para assim participar numa feira de cruzeiros que durou três dias ou tratar destes e de outros processos por despachar que receberam centenas de candidaturas, mas que não atam nem desatam?

Numa semana em que foi mais do que evidente que o PS tem uma estratégia de comunicação descabida e geradora de ruído, permitindo atropelos entre os seus pares e exibicionismo desenfreado de alguns protagonistas, o que tem deixado o novo líder na sombra, de que serviu o líder parlamentar socialista revelar preocupação pela “propaganda” do governo, como se os madeirenses fossem incautos, embora o propósito da crítica à “informação controlada” e à “comunicação toda ela manietada”, mesmo que já esclarecido, tivesse outro objectivo? Qual foi o resultado do anúncio do ‘Espaço Confiança’, qual nova sede de candidatura para liquidar os propósitos de Sérgio Gonçalves? E quem ficou a ganhar com a ‘chicotada’ em São Bento já que Carlos Pereira, que acumulou a coordenação económica com as questões regionais em três legislaturas, perdeu a ‘pasta’ que passa, agora, para as mãos de Miguel Iglésias? Quantos PS-M existem?

Numa semana em que as eleições internas no PSD começam a ganhar lastro e a exigir posicionamentos, com Luís Montenegro e Jorge Moreira da Silva de malas aviadas para virem à Região, o presidente do PSD-M, para além de ainda não ter falado com os candidatos à liderança do partido, faz uma espécie de oferta pública de apoio a quem der mais à Região, advertindo que “não há almoços grátis”? Já desconfiávamos que os valores facilmente dão lugar a benefícios.