Madeira

Beato Carlos "é uma bênção para esta ilha"

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O Beato Carlos d'Áustria é encarado pelo Bispo do Funchal como "uma benção para esta ilha". As palavras fazem parte da homilia da Solene Eucaristia dos Cem Anos da Morte do Beato Carlos na Madeira, que se está a realizar na Sé do Funchal.

D. Nuno Brás refere que "nestes dias, marcados uma vez mais pela guerra que invade a nossa Europa, devemos olhar para o exemplo deste Santo Imperador". Isto porque o agora Beato estava “obcecado" por fazer a paz quando assumiu a chefia do Império. "Um Imperador que procurava fazer a paz; mas também um Imperador que «respirava» uma paz interior que apenas podia surgir de Deus", indica o Bispo funchalense.

Apenas a Eucaristia e a oração — a Palavra de Deus — suportaram o edifício espiritual do Beato Carlos. Descobriu nelas a “armadura de Deus”. E, de facto, revestiu-se a si mesmo com ela. Foi a Eucaristia que lhe deu forças na luta pela paz — uma luta, realmente travada contra os “dominadores das trevas”. D. Nuno Brás, Bispo do Funchal

O Bispo assume que, aos olhos de muitos, Carlos foi um perdedor: os seus esforços pela paz não foram bem sucedidos, tal como as suas tentativas para manter o governo do Império e a sua unidade. "Exílio, sofrimento e morte foram o resultado da sua lealdade a Deus e ao povo do Império Austro-Húngaro", afirma. "Mas não foi também assim a vida de Cristo?", questiona.

Citando o Papa Francisco, o bispo refere que ele "era acima de tudo um bom pai de família e, como tal, um servidor da vida e da paz. Conheceu a guerra como soldado no início da Primeira Guerra Mundial. Tendo assumido o reino em 1916, e sendo sensível à voz do Papa Bento XV, prodigalizou todas as suas forças para a paz, a custo de ser incompreendido e escarnecido. Também nisto ele nos oferece um exemplo mais do que nunca oportuno, e podemos invocá-lo como intercessor para obter de Deus a paz para a humanidade". 

Como exemplo, mostra-nos como ser cristãos, católicos no nosso mundo: inspira-nos devoção, fidelidade a Cristo, obediência à Igreja nossa Mãe; mostra-nos como nos alimentarmos da Eucaristia; como devemos rezar e ter devoção à Virgem Maria; como cuidar da família no meio de tantas ocupações; como amar o próximo e cuidar dos mais fracos; como sermos construtores da paz nos nossos dias. D. Nuno Brás

Vale ainda a pena “escutar a palavra de Deus e pô-la em prática”? 

Ao iniciar a homilia, o Bispo do Funchal pediu que nos interrogássemos sobre o modo contemporâneo de viver, caracterizado, precisamente, pela mudança: nada parece ser certo e seguro, e nós parecemos dar-nos bem com isso. "Vale ainda a pena escutar a palavra de Deus e pô-la em prática”?

"O mesmo é dizer: valerá ainda a pena procurar ser uma casa firme e segura, que resista diante das tempestades? Não será antes preferível ser como aquela outra construção que acompanha o sabor do vento (ainda que tempestuoso) e se desmorona, para logo se reerguer e de novo se desmoronar? Não dará a Palavra de Deus a sensação de pretender para cada discípulo que seja uma realidade fixa, imóvel, sem ter em conta a mudança do mundo? Não estará a consagrar, de facto, um tradicionalismo insuportável que obrigaria os discípulos a ficar para sempre prisioneiros dum passado?", questiona.

E responde: "longe, pois, de impedir o desenvolvimento e o progresso, a construção segura a que evangelho nos convidava, assente na Palavra de Deus, é antes a garantia de que todo esse movimento e progresso não se perde numa realidade sem motivo, num rumo sem destino, em mudança para a qual jamais existirá vento de feição".

"Percebeu-o de modo particular o Beato Carlos. A fidelidade a Deus e aos compromissos que Deus lhe confiara aquando da sua coroação como Rei Apostólico da Hungria, sempre o conduziu e iluminou na compreensão da realidade e na procura de caminhos que a todos conduzissem à vida feliz", disse.