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Mais de 100 activistas afastam-se do partido na Venezuela

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Foto EPA

Mais de uma centena de representantes regionais e ativistas do Vontade Popular (VP) anunciaram no sábado o afastamento daquele partido para passarem a ser independentes, justificando a decisão por "um desvio" dos valores daquela organização.

O anúncio dos ativistas do VP, o partido coordenado pelo político Leopoldo López (atualmente asilado em Espanha) e ao qual pertenceu o líder opositor Juan Guaidó, foi feito numa conferência de imprensa gravada em vídeo e divulgada 'online'.

"Infelizmente, nos últimos meses, temos visto más práticas, pouco institucionalismo dentro do partido e o que é mais desgastante e queremos salientar é a pouca democracia interna que existe no seio da oposição política. Estas são algumas das tantas razões que nos levaram a tomar esta decisão, hoje, de abandonar as fileiras do Vontade Popular", explicou o porta-voz dos ativistas.

Jesus Medina Ezaine, sublinhou que depois de terem defendido com muitíssima paixão, determinação, força e convicção os símbolos e cores do VP, hoje afastavam-se porque não se sentem representados dentro da organização.

"Muitos dos que estão aqui comigo foram perseguidos pela ditadura por defenderem estes símbolos e cores (...) a ditadura perseguiu cada um de nós e hoje, e infelizmente temos que nos afastar", disse aquele responsável.

Por outro lado, explicou que no partido continua gente que quer mudar a forma de fazer política no país e que acredita que é possível mudar o rumo da direção política do VP.

"Infelizmente temos de anunciar que hoje remamos nesta direção porque consideramos que já não é viável, porque a direção nacional e o partido não querem perceber que têm de corrigir a situação para recuperar a confiança pela qual muitos cidadãos viram no VP um partido de vanguarda (...) para sair da ditadura", explicou Jesus Medina Ezaine.

Já Javier González, ex-coordenador do VP na cidade de Caracas, denunciou que com a direção do partido tem havido desrespeito, não reconhecimento e segregação dos líderes políticos e sociais que ao longo do tempo têm militado e trabalhado no Vontade Popular.

González explicou também que os ex-ativistas de VP pediram muitas vezes a realização de eleições internas amplas, plurais, nominais e justas, para legitimar, renovar e oxigenar a direção do partido, tendo recebido como resposta, imposições arbitrárias e "processos de reorganização ineficientes".

"Não podemos continuar a tolerar o regime de arbitrariedades e más práticas que no dia a dia se converteu o partido", disse, sublinhando que vão trabalhar juntos para "regar os valores democráticos" e conseguir "uma mudança na cultura política" dos venezuelanos.

O Vontade Popular é um partido político venezuelano, de centro-esquerda, que se define como progressista e social-democrata, fundado em 05 de dezembro de 2009 por Leopoldo Eduardo López Mendoza.

O partido surgiu da convergência entre o movimento universitário de 2007, integrando várias organizações não-governamentais e representantes das comunidades, em oposição à revolução bolivariana, primeiro face ao líder socialista Hugo Chávez (presidiu o país entre 1999 e 2013) e depois ao Presidente Nicolás Maduro.

O VP faz parte da Internacional Socialista e da extinta aliança opositora Mesa de Unidade Democrática. Desde 2018 faz parte da Frente Ampla Venezuela Livre.

Em 2014 promoveu uma campanha chamada "La salida", que desencadeou violentos protestos antirregime e levou à detenção do seu fundador, Leopoldo López.

Em 18 de fevereiro de 2014, Leopoldo López entregou-se às autoridades venezuelanas, depois de um tribunal de Caracas ordenar a sua prisão por alegadamente instigar à violência, por ser uma das pessoas que convocaram uma manifestação que terminou com três mortos e dezenas de feridos seis dias antes.

López foi para uma prisão militar, acusado por instigação pública, associação criminosa, danos à propriedade e incêndio, e acabou condenado em setembro de 2015 a quase 14 anos de reclusão, que cumpria em prisão domiciliária.

Em agosto de 2017 Leopoldo Eduardo refugiou-se na Embaixada de Espanha na Venezuela.

Antes, apareceu publicamente, em 30 de abril de 2019, em Altamira junto a Juan Guaidó e vários militares, apelando, sem sucesso, à população para sair às ruas a derrubar o Governo venezuelano.

Em outubro de 2019, abandonou a Embaixada de Espanha, tendo conseguido viajar para a Colômbia e depois para Madrid, Espanha, onde se encontra asilado.