As eleições legislativas de abusivo faz de conta (II)

02. O cerne da análise eleitoral foi mais uma vez ignorado

Como tem sido costume na vigência da Terceira República e consoante o que deslumbra na Partidocracia que nela está incorporada como marca identitária, realizaram-se no p.p. dia 30 de Janeiro as chamadas eleições legislativas que deram o costumeiro azo aos inerentes espectáculos das apresentações nos órgãos da Comunicação Social dos respectivos resultados seguidos das discussões e comentários sempre encomendados a figurantes e jornalistas avençados que se entretém a expressar opiniões conforme a ligeireza, confusão e equívocos que lhes é habitual; e que portugueses mais atentos já conhecem de ginjeira.

Mas é meu dever, como cidadão consciente, assinalar que também se repetiu a que já é crónica falha importantíssima nestes espectáculos televisivos, radiofónicos e nas inserções jornalísticas: o cerne da análise eleitoral nunca é aflorado. É escamoteado. Muitíssimo importante seria ir além do superficial e resolutamente atentar, apreender e analisar o essencial e dele extrair as consequentes e indispensáveis ilações para bem da grei portuguesa e em prol da regeneração pátria.

Em termos muito simples o essencial que sobressai da farsa eleitoral é esta verdade que ninguém em são juízo pode negar e que se traduz nos dados seguintes:

- total somatório dos portugueses inscritos nos cadernos eleitorais …. 9 298 390

- não votantes ………….. 3 908 685

- votantes ………………. 5 389 705

- votos no P S ………… 2 246 637

- votos no PSD ………….1 561 928

- votos no Chega ………... 385 559

O que significam estes números:

- que em 9 298 390 portugueses quase metade não afluiu às assembleias de voto;

- que menos de metade dos votantes votou no PS;

Sobretudo destaca-se a realidade de que num conjunto de 9 298 390 portugueses vamos ter um governo somente apoiado por 2 246 637 cidadãos. Ou seja: 7 051 753 portugueses não apoiam ou são contra o governo (os que votaram noutros partidos).

Daí se poder classificar de abusiva a afirmação, constantemente pronunciada ou escrita na noite de 30 de Janeiro e dias seguintes, de que os portugueses elegeram o Dr. António Costa como chefe do governo e deram a maioria absoluta ao Partido Socialista. Não uma coisa, nem outra. Não se trata de um jogo desportivo em que por um se ganha ou se perde. Sem cabimento tal comparação, por que distintos conceitos e significações díspares.

Fiquem os portugueses conscientes de que o PS só foi apoiado por 2 246 637 portugueses. E o governo socialista tenha sempre isso presente no dia-a-dia da sua governação; visto que, afinal, só é apoiado por uma minoria de portugueses, manifesta no reduzido e expressivo número de 2 246 637 portugueses.

Mais: definitivamente se entenda que os deputados só se representam a si próprios e aos partidos que os nomearam. O povo não foi tido ou achado na sectária elaboração das listas partidárias.

Sobretudo, as gentes do PS abstenham-se de proclamar que PS e Governo foram eleitos pela maioria dos portugueses – o que é uma grande falsidade; embora a condizer com a intrínseca farsa eleitoral do transacto dia 30 de Janeiro.

Está-se face a um processamento institucional que compagina obsceno quadro de falcatrua eleitoral que reverte memória e semelhanças para as “eleições” da ditadura de Oliveira Salazar - a designada “Democracia Orgânica” do Estado Novo.

Brasilino Godinho