Crónicas

O Circo

1. Disco: não é o melhor dos Red Hot Chili Peppers, “Return of the Dream Canteen” é o último da banda. Lançar dois discos num ano faz, quase sempre, com que o segundo cheire a refugo do primeiro. Mas fica bem na colecção.

2. Livro: agora que se volta a falar da TAP, cai bem ler, a quem se interessa pelo assunto, “Milhões a Voar”, de Carlos Guimarães Pinto e André Pinção Lucas.

3. Vamos ao circo (…).
Meninos e meninas, moços ricos, moças finas, aí vem (…).
Aí vem o circo.
      ⁃ Vamos ao Circo, Sitiados

4. Vivemos há três anos num circo, um circo estridente, barulhento e cheio de palhaços. Não, fiquem descansados, não falo de termos passado os últimos 36 meses enfiados numa tenda, a domar leões numa arena de areia ou a balançar num trapézio, vestidos com um collant cheio de lantejoulas colado ao corpo.

O nosso circo tem várias tendas, vários públicos e vários artistas. Descrever a nossa vida política como um “circo”, ou alguém como um “palhaço”, para dizer que são incompetentes, é impreciso e um insulto para as gentes que trabalham no circo e que nos merecem todo o respeito. Mas, com as devidas desculpas, não arranjo melhor figura.

Temos eleições para o ano. Regionais. Deixem-me fazer de vidente, olhar para a bola mágica e adivinhar que o que aí vem é uma partidarite sufocante, que a maioria dos madeirenses deveria abominar. Preparem-se para um crescendo de acusações e insinuações, de desinformação e mentira, de difamação, pois os principais contendores empregam tácticas e planos de jogo prejudiciais à democracia. Não é difícil adivinhar.

Já ando nisto há algum tempo. Estarrecido, mas não surpreso, por observar os comportamentos dos principais partidos (todos da mesma família política: o socialismo) a se posicionarem uns contra os outros, usando argumentos distorcidos e o desdém, porque acham que assim ganham a confiança sagrada do eleitorado.

Tenho responsabilidades partidárias. Não as renego, mas abomino a política barata e sem sentido. Também sou cidadão, como outro qualquer, e entendo, que como cidadãos, devemos perguntar: “estes comportamentos têm em consideração, de alguma forma, as questões críticas e prementes que a Madeira e a sua Autonomia enfrentam?” Embora ache a resposta óbvia, não a dou a ninguém. Cada um conclua por si. O que é preocupante, é que aqueles que concorrerão nas próximas eleições, nas listas dos principais partidos, confiam, porque têm resultado até aqui, na mesma retórica enganosa e nas palhaçadas polarizadoras, sem qualquer senso de decência, mas que, aparentemente, são tão eficazes.

Uma coisa que não entendo é que o mau comportamento dos candidatos, o insulto, a insinuação, a mentira, a falsa promessa, a jogada, a manhosice, não nos defenderão contra a desculpa, frequentemente usada, da equivalência moral. A questão é moral e ética, e a desculpa do mal menor não pode pegar. Esta abordagem faz comparações entre coisas diferentes e, muitas vezes, não relacionadas, para argumentar que uma é tão má como a outra (ou não), ou que uma é um pouco melhor. Justificar o comportamento de alguém alegando que não é tão mau, é ridículo. Porque mau, é mau. Não há escalas no que não presta.

A maioria dos partidos são circos, mas não são clubes de futebol. Têm o dono do circo, trapezistas, contorcionistas, malabaristas, ilusionistas, animais verdadeiros e verdadeiros animais, prestidigitadores, faquires, fantoches, ventríloquos e palhaços: o rico e o pobre.

Em vez de abordarem as questões importantes que buscam o desenvolvimento e a criação de riqueza, recorrem à negação da verdade: trabalham pouco e mal.

O circo verdadeiro, e de qualidade, é fascinante. Este “circo de feras” não seduz, é rasca e responsável por, ao fim de mais de 40 anos, sermos de tão pouco.

5. A vida vai torta
Jamais se endireita
O azar persegue
Esconde-se à espreita
    ⁃ Circo de Feras, Xutos & Pontapés

6. A Autonomia da Madeira é, cada vez mais, um paradoxo. Uma espécie de Gato de Schrödinger, a Autonomia está viva e morta simultaneamente. E ninguém, nem os socialistas da Grande Laranja, nem os socialistas da Rosa, quer ser aquele que abre a caixa para ter a certeza.

7. O Governo dos socialistas do PSD, e da esquerdinha “light” do CDS, será capaz de tudo para se manter no poder. Em vez de fazerem as reformas de que precisamos, ao invés de baixar os impostos (IVA, IRS, IRC — como nos Açores), fingem trabalhar e adoram a cosmética que lhes permite apresentar medidas, que mais não passam de gato escondido com o rabo de fora. Anunciam muito e produzem muito pouco do que verdadeiramente interessa.

8. Miguel Albuquerque e a sua comitiva custaram ao erário 90 mil euros mais IVA, na sua deslocação a Curaçau e Venezuela.

O Governo Regional, por intermédio da Secretaria Regional da Economia, gastará 100 mil euros para promover a internacionalização dos produtos regionais e a competitividade das empresas.

Internacionalize-se o Sr. Presidente.

9. A Câmara Municipal de Santa Cruz decidiu criar estacionamentos pagos sazonais nas imediações da “promenade” do Caniço e Praia dos Reis Magos, entre os meses de Maio e Outubro, das 8H00 às 20H00, todos os dias da semana, sendo o estacionamento gratuito entre Novembro e Abril. Ou seja, arranjou mais um alforge, carregado de moedinhas, nos meses em que a época balnear está no seu pico.

A Câmara Municipal de Santa Cruz não está satisfeita com o aumento da Ecotaxa Turística de um para dois euros, a partir de Janeiro do próximo ano. Um aumento de 100%, só para se perceber.

A Câmara Municipal de Santa Cruz cobra uma taxa, com a factura da água, a taxa municipal de protecção civil, que já foi declarada inconstitucional pelo respectivo Tribunal.

A Câmara Municipal de Santa Cruz, no seu regulamento de taxas, taxinhas, emolumentos, licenciamentos e afins, tem quase trezentos (300 para que se perceba) itens que o munícipe pode ter de pagar. E tem alguém contratado, há uma data de anos, para estudar e rever o Regulamento Municipal. Resultados? Zero.

Chega agora o estacionamento pago, numa zona onde trabalham cerca de 400 pessoas nas unidades hoteleiras ali instaladas e que vão ter que despender bom dinheiro para pagar o estacionamento da sua viatura. Numa zona onde existem 9 unidades hoteleiras, muitas delas sem estacionamento.

A CMSC não quer saber se as pessoas sofrem brutais aumentos nas contas de energia, se sofrem um generalizado aumento de preços por via da inflação. A CMSC só quer saber das suas taxas e taxinhas para assim esmifrar o contribuinte.

A Câmara de Santa Cruz, apoiada pelo JPP, deixa, mais uma vez, cair a máscara, mostrando ser tão socialista como o laranjal do PSD, tão socialista como o roseiral do PS.

Mexe-se? Então taxa-se? Continua a mexer? Volta a taxar. Ainda respira? Só mais uma taxinha. Já não se mexe? Então dá-lhe um apoio. Um cabaz. Um subsídio.

O socialismo gosta tanto de pobres que faz de tudo para os multiplicar.

10. Na Rússia há um ditado que diz: “assustar um ouriço com o rabo de fora”. Esta é basicamente a estratégia de Putin. Atrás de palavras e imagens assustadoras, esconde a sua insegurança, incompetência e medo. É muito bom a fazer barulho e verdadeiramente inútil quando se trata de agir.