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Não cometer os mesmos erros

Os/as Portugueses/as acabaram de escolher a composição do Parlamento Nacional e o partido mais votado, que nomeia o Primeiro Ministro, que já sabemos que é o senhor António Costa, foi o PS. Parabéns a quem ganhou, com um discurso de absoluta chantagem sobre o eleitorado de esquerda, que gosta muito de coitadinhos, sobretudo se a chantagem é feita também pelas empresas de sondagens, de que vem aí uma direita forte para governar o país.

Eu até entendo a preocupação de não deixar que voltasse a direita, que tantos prejuízos causou ao nosso país e às nossas vidas, na altura de Passos Coelho e Paulo Portas. Mas a minha compreensão é zero, quando alguém como o Primeiro Ministro e seus apoiantes, mesmo na Madeira, levantam este fantasma que assombra as nossas vidas com o voto útil, dizendo que votar nos outros partidos de esquerda era um desperdício, quando, foram esses partidos “pequenos” que permitiram que, em 2015, António Costa fosse Primeiro Ministro e, na Madeira, desde 2014, permitiram as vitórias na Câmara Municipal do Funchal da Coligação Mudança e da primeira Coligação Confiança.

As memórias são curtas e o povo português já o demonstrou várias vezes. Mas, independentemente disto que acabei de escrever, considero que os partidos devem fazer um balanço profundo sobre as razões que levam a que não tenham um apoio fiel dos seus eleitores. Que tipo de erros cometeram para serem tão penalizados. O que falhou na sua prática e na sua estratégia. Se realmente conhecem o sentir do povo português, que não só continua a ser de brandos costumes, como uma boa parte continua a gostar de extremismos do “mata e esfola”, das mentiras descaradas, do populismo barato de falsos salvadores da Pátria.

Esta análise ao sentir do povo português devia ser um desígnio de todos os partidos da esquerda e também do centro e da direita tradicional, pois sem a mesma é difícil introduzir formas de trabalhar inovadoras e que cheguem aos corações das pessoas, que preferem ir atras da lógica das coisas, independentemente se no curto ou no médio prazo, isso será contra si próprias.

A direita tradicional, como o CDS, acabou por ficar fora do Parlamento, pela primeira vez na história do parlamentarismo português pós 25 de abril, porque foi engolida pelos dois partidos de direita que surgiram em 2019. Tudo indicava que isto ia acabar por acontecer, destruindo a direita tradicional mais conservadora, porque esta estava dividida e não se entendia há muito tempo e, na Madeira, já tinha sido engolida pelo partido maioritário da coligação da qual fazem parte. Estes também têm que fazer a travessia do deserto para voltarem a surgir no cenário político português.

A esquerda não pode continuar a trabalhar como se nada se tivesse passado. Como se estivesse sempre certa. Tem que tirar profundas lições e ver onde errou. Como está a democracia dentro dos partidos. Porque existe tanta fragmentação e tanta falta de unidade e consideração por todos/as os/as seus/suas militantes. As pessoas estão atentas e sentem que falta confiança. Porque perdeu deputados conceituados em várias regiões, o que, à partida, era impensável. O voto útil não explica tudo o que aconteceu à esquerda tradicional em Portugal. Há erros crassos que devem ser analisados e corrigidos. É a altura certa para abrir um amplo debate sério, democrático, sem tabus e sem constrangimentos. É a altura certa de trabalhar de outra forma. Criar pontes de atração fortes. Não ter medo de trazer ao discurso as ideologias. Essas é que marcam os terrenos de cada um. É a altura de fazer as mudanças que forem necessárias, se quisermos que a verdadeira esquerda em Portugal não desapareça, como aconteceu agora com a direita conservadora.